“Scratching Surface” é um dos murais criados, em 2007, pelo português Vhils, em parceria com o artista norte-americano Shepard Fairey, na zona da Graça, em Lisboa.

“Scratching Surface” é um dos murais criados, em 2007, pelo português Vhils, em parceria com o artista norte-americano Shepard Fairey, na zona da Graça, em Lisboa.
A obra com o rosto de Amália Rodrigues, que podemos ver em Alfama, desde julho de 2015, foi criado pelo artista urbano Alexandre Farto, mais conhecido por Vhils, e concretizado por uma equipa de calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa.
Esta calçada vertical é como uma onda do mar, que começa no chão e sobe a parede, e tem uma particularidade: quando chove, a imagem de Amália “chora”, como tantas vezes acontecia quando a fadista se emocionava em palco.
Ao conceber esta obra, o português Alexandre Farto Vhils pretendeu homenagear o fado, que nasceu na rua, mas também os calceteiros de Lisboa, os primeiros artistas urbanos da cidade.
O ritual é praticamente sempre o mesmo. Ambiente escuro, iluminado por luz de velas, música relaxante… Perfeito para descontrair! Sou recebida pela simpática, doce e sorridente Patrícia Caldeira, massagista, que me dá dois beijinhos e me pergunta como estou. Tiro a roupa, deito-me na marquesa e lá começa a tortura… Uma tortura boa, que me deixa bem mais leve, descontraída, feliz e sem dores nas costas! A massagem nem sempre é boa, dói. Mas a verdade é que resulta! “Ai, este pescoço está péssimo!”, diz quase sempre, mas acrescenta também que, ainda assim, estou muito melhor. E eu sei que estou, sinto!
Esta última sessão, teria sido “igual a todas as outras” se no final não tivesse ficado a conversar com a massagista da Gémeos Academia, em Lisboa, que me explicou todos benefícios da massagem de recuperação, tanto a nível físico, como emocional e energético. Isso mesmo, emocional e energético!
Considera que a massagem é a sua vocação e, cá só entre nós, eu acredito! Massagista, mas também psicóloga, Patrícia Caldeira tem 35 anos, está nesta área há 14 e, tal como explica, durante cada sessão trabalha para libertar as contraturas, distensões, luxações e “nós” musculares dos seus clientes, mas não só. Faz muito mais que isso! Ajuda a pessoa a libertar as suas emoções negativas, permitindo a fluidez energética.
“Tudo o que sentimos tem consequências físicas. As emoções negativas são as que mais reprimimos e quando não trabalhadas acabam por gerar problemas como stress, ansiedade, depressão, esgotamento, ataques de pânico, cansaço, insónias, pesadelos, enxaquecas, medos, raiva, obesidade, mente confusa, fazendo com que percamos toda a nossa energia e conexão com o nosso interior”, explica Patrícia Caldeira.
Acrescentando que tudo isto vai originar também dores musculares e nas articulações, nós, contraturas, massas físicas, sobretudo na zona do pescoço e omoplatas. “São resultados de emoções mal resolvidas, que se refletem no nosso corpo.” Estes sintomas são agravados, no dia-a-dia, pela nossa postura e esforço no trabalho e em casa.
“Todas as sensações que se geram com o coração vão bloquear o mesmo chakra – núcleo de absorção de energia – nas costas, diminuindo assim a fonte de energia da pessoa e criando os tais nós na dorsal, até ao pescoço”, explica.
Durante uma sessão é possível libertar as emoções negativas e absorver as positivas, que nos são transmitidas pelo profissional, daí “a importância do toque do massagista”.
“Imagina o que seria teres uma pessoa fria, nervosa e irritada a fazer-te uma massagem! Quando há toque, há troca de energia e um bom profissional tem de passar bons sentimentos e ajudar a libertar a emoção negativa”, exclama Patrícia.
Massagem atua a nível emocional e físico
A massagem de recuperação da Patrícia atua ao nível do corpo emocional e físico, libertando tensões musculares, que comprometem o bem-estar e a saúde.
Com as “suas mãos de fada”, pelas quais é tão conhecida, a Patrícia desfaz os “nós” físicos que estão a fazer pressão sobre determinado chakra, tendo a pessoa uma sensação imediata de leveza.
“Quando desfaço um nó liberto a emoção que o provocou, que pode ser de raiva, de tristeza…”, afirma, acrescentando que todo este processo é inconsciente para o cliente. “Esta é uma forma de trabalhar a parte emocional e a física. Porém, as pessoas não têm noção deste lado psicoterapêutico da massagem”, indica. E acrescenta: “Normalmente, pensam que, ao fazer a massagem e ao tirarem os nós, ficam bons. Não é bem assim, porque voltam a ter a mesma semana, as mesmas emoções e sentimento.”
Patrícia Caldeira trabalha também a respiração durante a sessão, que contribui para a, já tão referida, libertação de emoções e tensões acumuladas, denominadas de stress emocional.
A massagem regular ajuda não só a limpar as emoções negativas presentes, como a prevenir que novas emoções se instalem fisicamente.
Em suma, a massagem de recuperação – ou a “massagem com alma” da Patrícia – ajuda na recuperação muscular, melhora a mobilidade e a elasticidade, ajuda na remoção do ácido lático, em caso de se tratar de uma pessoa que treine diariamente, e liberta as emoções negativas.
“Além de tudo isto há, ainda, as emoções positivas que a massagem gera, como a alegria, a leveza, o conforto”, acrescenta.
E conclui: “Nós, massagistas, aprendemos a trabalhar a nossa própria energia e a libertar muita da emoção negativa que soltamos.”
Massagista por paixão e vocação
“Ser massagista é ter o dom de curar com as mãos e isso para mim é uma bênção”, afirma a doce massagista ao falar da sua profissão. Patrícia tirou um curso de técnica auxiliar de Fisioterapia, em 2004, e concorreu a um concurso público para massagista no Estádio Universitário de Lisboa, onde trabalhou durante 10 anos. “Penso que desenvolvi uma massagem mais forte porque comecei logo a trabalhar com homens, atletas, com muitas contraturas.”
Mais tarde, decidiu tirar outro curso: “Com o meu trabalho como massagista fui percebendo que as pessoas têm muita necessidade de falar e que vão desabafar com alguém que não seja conhecido, porque podem falar de tudo. Achei que gostavam de conversar comigo, que podia aprender mais e que fazia todo o sentido tirar um curso de Psicologia.” Tirou a licenciatura e o mestrado.
Considera que este segundo curso foi uma mais-valia para si, também, enquanto massagista. “Não tinha tanta noção do lado físico-emocional do tratamento da massagem.”
E termina: “Gosto de ser psicóloga, de trabalhar com grupos, mas ser massagista dá-me aquela gratificação maravilhosa de ver que determinada pessoa que um dia entrou no gabinete com uma dor enorme, muito triste, abatida e cheia de emoções negativas, passado dois ou três meses é outra. Muito mais feliz!”
Patrícia Caldeira trabalha como massagista na Gémeos Academia, em Lisboa, às quartas-feiras e sábados. Para marcar ou para mais informações basta contactar este espaço ou enviar um email para patricia_caldeira@sapo.pt e seguir a sua página de Instagram.
Foi com muita simpatia, um sorriso grande e brilhante e uma serenidade contagiante que fui recebida pelo bailarino Kwenda Lima, no Art Kaizen, em Lisboa, o espaço que criou, há cerca de um ano, e que define como “um templo de arte para o equilíbrio interno, através de engenharia interna Kaizen”.
Depois de me dar a conhecer este seu tão acolhedor espaço – com zonas próprias para meditar, socializar, dançar e todo ele decorado com símbolos das várias religiões e culturas, de forma a levar as pessoas a conhecer-se e a respeitar-se nas suas diferenças, crenças e filosofias -, Kwenda Lima falou-me do Kaizen Dance, que criou em 2003, do Art Kaizen, de si e da sua forma de estar na vida.
Kwenda nasceu há 40 anos, em Cabo Verde, e, desde que se recorda, sempre foi muito ligado à dança, à arte e à terra. Mais tarde, veio para Lisboa, onde se formou em Engenharia Aeroespacial, no Instituto Superior Técnico, tendo ido depois para Londres, onde fez o seu doutoramento. Apesar de ter sido esta a área que escolheu para trabalhar, o gosto pela arte, pela dança, pela meditação e pelo (seu e dos outros) bem-estar interior falaram mais alto, acabando Kwenda por dedicar-se à, como lhe chama, “engenharia interior”, criando e desenvolvendo o Kaizen Dance.
“O Kaizen é uma filosofia, uma maneira de estar na vida. Por vezes, chamo-lhe de tecnologia, por ser algo de que gosto muito e que desenvolvemos para nosso comodismo, para que funcione”, afirma. E acrescenta: “O Kaizen Dance vai precisamente no sentido de criar esse comodismo, mas de forma a irmos buscá-lo internamente, não apenas no exterior. É uma forma de viver a vida, cultivando-nos com responsabilidade.”
Kaizen é uma palavra japonesa, muito utilizada pelas empresas, que significa “algo que está em constante evolução”. A Dança Kaizen, uma espécie de meditação ativa, com inspiração em vários estilos de dança, de ritmos, de culturas e de religiões.
Aceitar a vida de forma simples
Estávamos sentados no chão, numa bege e felpuda carpete, num espaço acolhedor e com muitos livros, uma cadeira suspensa de teto e pequenos e confortáveis sofás, enquanto Kwenda me falava do Kaizen Dance. Ouvindo atentamente tudo o que me disse, tive de lhe perguntar como surgiu a ideia de criar este estilo de dança/meditação e em que é que se inspirou.
“Não foi algo pensado! Surgiu de uma sequência de informações e situações. Foi tudo muito natural, depois de lhe ter dado um nome, de o criar, cheguei à conclusão que já estava a fazê-lo antes!”
Contudo, e segundo conta, o que o levou a desenvolver o Kaizen Dance foi o facto de perceber que muitas das pessoas que iam dançar, procuravam algo que não era bem a dança. “Há qualquer coisa por trás dessa busca, o movimento acaba por esconder e disfarçar um pouco isso. Porém, entendi que as pessoas procuravam algo que lhes faltava internamente. Mais profundo, delicado e inconsciente. Foi isso que me levou a desenvolver este trabalho através da dança e por gostar de dançar”, afirma.
E desenvolve: “Com o Kaizen procuro levar as pessoas a descobrir e a valorizar as suas próprias ferramentas, a terem essa consciência e a fazer com que aceitem a vida de uma forma simples.”
Os objetivos de Kwenda Lima, em cada aula de Kaizen Dance, dependem do grupo com que está a trabalhar: “Cada corpo é um corpo e tem as suas memórias. Até chegarmos a essa informação, até preparamos o corpo – como a terra para receber a semente – é preciso passar por vários processos.”
No final de cada aula, com diversos ritmos, movimentos e exercícios. Depois de cansarem o corpo e a mente, as pessoas “serenam” e Kwenda passa a sua mensagem, que pode ser sobre a coragem, o medo, o medo de dar e de receber, o egocentrismo, o dinheiro, entre outros.
“Notas diferença nas pessoas passado algum tempo?”, pergunto. “Noto muita, mas vêm também falar-me emocionalmente e dizem-me. Não é um trabalho em que se veja uma diferença palpável, mas sim que se sente e em que há continuidade”, responde.
E diz: “É como se estivéssemos a trabalhar a terra. Depois de lhe deitarmos água, deixa de estar seca e dura, passa a estar macia e, ai, podemos pôr a semente e ela vai brotar. Leva algum tempo até chegarmos a esse ponto.”
Art Kaizen: o sonho que Kwenda tornou realidade
Como já referi, Kwenda Lima criou o Art Kaizen, que se situa na zona de Beato, em Lisboa, há um ano. Contudo, este é um sonho antigo, com mais de 10 anos. “É o tentar materializar a forma como vejo a dança e a vida.”
Aqui são dadas aulas regulares de Kaizen Dance, Kizomba, Afro-Contemporâneo, Yoga, Capoeira e Danças Africanas. Além disso, têm também cursos de Afro-cubano, Mudjeris di Terra – um encontro quinzenal de mulheres -, entre outros.
“O projeto Art Kaizen está a correr muito bem. Está a crescer devagar, mas está a seguir um bom caminho, aquele em que as suas raízes ficam fortes”, afirma Kwenda Lima. E continua: “Nunca gostei de avançar muito rápido. Adoro o Bambu precisamente por isso. Cresce de forma muito lenta, mas forte. Depois há um crescimento muito rápido, ele está forte e resiste a qualquer coisa.”
Kwenda aplica isto em tudo o que faz e o Art Kaizen é um desses seus ramos. “Está a crescer, mas com consciência. Não quero que seja uma escola de dança, mas um espaço de cultura, de união, de ligação, onde as pessoas se conhecem e se respeitam.”
Kwenda Lima e a sua filosofia de vida
Histórias – É gratificante perceber que fazes a diferença na vida das pessoas? Sentes que estás a “cumprir a tua missão/propósito de vida”?
Kwenda – Nunca penso em “cumprir uma missão”. Nunca comecei por pensar num propósito de vida, acho que, em primeiro lugar, devemos deixar “a flor nascer”. Cuidar das suas raízes e fazer com que a planta seja saudável. De certeza, que a sua flor vai aparecer.
Nunca pensei na flor antes da planta. Vou vivendo as flores. Se me sentir satisfeito e se isso significa que alcancei o meu propósito de vida… então, sim! Não penso nisso, mas sim no meu bem-estar. No facto de que tudo aquilo que eu esteja a fazer, contribua para o exterior e que seja um trabalho em paralelo para o meu próprio enraizamento e consciência.
É esse equilíbrio que me faz sentir que a vida é simples, boa de se viver.
Histórias – Colocas em prática todos os conselhos que dás?
Kwenda – Não posso, nem quero, falar de uma teoria sem a experienciar. Para mim, o importante é eu viver, saber quem é esta máquina, para depois poder partilhar. Dar às pessoas, não a possibilidade de resolverem a sua vida, mas de tentarem descomplicá-la. Para mim não faz sentido falar de algo que não sinto ou não senti.
Histórias – Como é que um engenheiro aeroespacial veio aqui parar?
Kwenda – Sempre tive estes dois mundos em paralelo – a dança e a engenharia. Sempre gostei muito de tecnologias e adoro aviões. É fascinante saber que o homem consegue construir uma máquina daquelas, que faz a ligação de uma ponta à outra do mundo, intercâmbios culturais.
Existem muitos engenheiros, é muito fácil viver socialmente de engenharia, mas faltava-me alguma coisa. A ligação com a arte. Gosto de relacionar as coisas e para mim faz sentido ligar a religião, à arte e à ciência. São três pilares muito importantes na sociedade.
Estando na dança consegui encontrar essa ligação. Além disso, enche-me o coração e, ainda, viajo e estou com muitas pessoas. Preenche-me muito mais, por isso não foi difícil seguir por este caminho.
Histórias – Nem sentes saudades?
Kwenda – Não! Às vezes sinto saudade de estudar, dos computadores… mas não dura muito tempo! A engenharia passa por criar um conforto externo, fazendo uma casa, um carro, um avião, um computador… Permitir-nos ter uma vida mais fácil, utilizando o Kaizen, para mim é trazer a engenharia para a dança! Se eu consigo criar conforto externo, porque não hei-de criar também interno?
Desta forma, sou engenheiro das minhas próprias emoções, da minha forma de estar na vida, de aceitar, de fazer com que determinada reação/situação não tenha um impacto tão forte em mim. De perceber porque é que eu sou assim, porque é que certas coisas me atingem, porque é que eu permito. Tudo isto é uma tecnologia, uma programação e eu adoro. A nossa máquina é das mais complexas do mundo e entende-la é um desafio interessante.
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