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Mês: Dezembro 2018

Voluntariado no Perú, uma experiência para a vida

Estou há pouco mais de duas semanas em Cusco, no Perú. Sou voluntária num orfanato de crianças com deficiência e estou em casa de uma família local, estando a viver a 100% a sua cultura. Uma maravilhosa experiência de vida, acreditem!

A adaptação não foi propriamente fácil. Apesar de estar a viver com pessoas fantásticas, que me tratam tal e qual como da família fosse, fui “apanhada” pelos “males da altitude”, como por aqui se diz, e por isso passei a primeira semana adoentada, muito cansada e com dificuldades respiratórias.

Apesar de pobre, o Perú é um país fabuloso. As pessoas são acolhedoras, disponíveis, muito conversadoras e sempre prontas a ajudar e a orientar. As paisagens lindíssimas, do mais bonito que alguma vez tive oportunidade de ver.

As noites, à moda da América Latina, são “muy calientes”, fervorosas, com muita festa e muita dança – salsa, bachata, reggaeton, cumbia e também um pouco de pop. “Bailam” todas as noites, como se o mundo estivesse para acabar amanhã! Parecem-me tão felizes, apesar dos imensos problemas que têm. Fazem-me tão feliz.

A família com quem vivo – mãe e duas filhas -, com muito sucesso, faz de tudo para que me sinta bem e acolhida. São ternas, meigas e vão deixar-me tanta saudade! Desde domingo, temos um novo membro na família, Mo! Um estudante de Medinica, natural de Miami, que começa amanhã o seu programa de voluntariado, num centro de saúde por aqui a algures.

Pode parecer estranho, mas viajar sozinha para tão longe é a melhor forma de estar sempre acompanhada e fazer amigos. Alguns por apenas uns dias, outros por semanas! Pessoas de todo mundo, algumas ficam para a vida e deixam até um pouco de tristeza e solidão quando regressam aos seus países ou continuam o seu percurso pelo mundo fora…

São mexicanos, colombianos, argentinos, portugueses, espanhóis, franceses, americanos e até corianos. Por aqui falamos todos os idiomas e temos até um só nosso, onde, por vezes, em apenas uma única frase se utilizam palavras de várias partes do mundo.

Os meus meninos são maravilhosos e dão-me tanto. Se ao inicio senti algum receio, por se tratarem de crianças com doenças mentais, hoje vejo que não havia qualquer razão de ser. São carinhosos, agradecidos e felizes. Dão-me tanto amor! Obrigada a todos aqueles que me ajudaram a encher a mala com roupas, brinquedos e material escolar! Eles merecem muito e foi tão bom ver o seu contentamento ao receberem os “presentes”.

Andar de Zorro, Batman, Imperial, Rápido, entre outros – nomes que dão aos autocarros – foi inicialmente uma aventura, até porque para sair, contrariamente a Portugal onde existe o botão Stop para carregar, temos de nos levantar e gritar “bajar”, o que me deixa um pouco desconfortável!

Também o Natal é vivido com muita festa e alegria. E, apesar de estar longe de quem mais amo, a noite de ontem foi vivida com muita alegria, comida, presentes, fogo de artifício, música e dança. Afinal, o nascimento de Jesus é uma data muito importante que não pode passar em branco!

Assim que possa, escrevo um pouco sobre os lindíssimos locais que tenho vindo a visitar.
Desejos de festas felizes. Até breve.

Ronda das Almas em Luang Prabang

á lá vão uns meses desde que estive em Luang Prabang, em Laos, mas as recordações continuam vivas. São boas e mais que muitas. O país é pobre, as pessoas humildes, simpáticas e acolhedoras. A pobreza é visível. A solidariedade e a partilha também. A Cerimónia da Ronda das Almas é uma prática budista, realizada desde o século XIV, que consiste na doação de alimentos por parte da população local aos monges e noviços dos mosteiros da cidade.

Vale a pena acordar cedo para assistir, às 5h30, a este “ritual religioso” tão bonito e cheio de simbolismo. Todos os dias, ao nascer do sol, a população junta-se nas principais ruas da cidade para fazer as suas oferendas aos monges. Os alimentos doados são parte da única refeição diária que consomem. Contudo, estes ainda as partilham com quem mais precisa. Arroz, frutas e doces são as doações mais comuns.

Pelo que percebi, para os budistas a cerimónia da ronda das almas é muito mais que uma simples doação de comida ou ato de caridade. De acordo com a sua crença budista, fazer esta oferenda é uma forma de acumular méritos. Para os monges é uma maneira de exercitar a humildade.

Ajoelhados em tapetes ou sentados em pequenos bancos à beira da estrada, homens, mulheres e crianças esperavam a passagem dos monges, que iluminados pelas suas vestes laranja começaram a aparecer silenciosamente. A cerimónia é imponente. Senti respeito, admiração.

São rápidos, passam em procissão, recebem as oferendas, partilham-nas com as várias crianças pobres que se alinham à sua frente, esperando que as redistribuam, e seguem. Muitos deles são também ainda crianças! Pequenos monges que os pais enviam para os templos, para que tenham uma educação melhor e para que a família acumule méritos.

Assistir à ronda das almas foi ter tido o privilégio de ver com os meus próprios olhos o forte senso de comunidade e generosidade desta população. Sentir-me conectada a uma força e energia maiores!

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