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Mês: Junho 2019

Dança profissional e gravidez: sim, é possível

Ser mãe é um sonho. Um desejo que a grande maioria das mulheres não está disposta a deixar de concretizar, mesmo tendo consciência que se trata de uma decisão que vai mudar a sua vida para sempre.

As bailarinas não são, obviamente, exceção. No entanto, quando engravidam, muitas têm medo de continuar a trabalhar, o que não deixa de ser algo natural e compreensível. O corpo muda, o equilíbrio, a elasticidade e a coordenação também. O medo de prejudicar o bebé impõe-se.

No entanto, nada é impossível e muitas bailarinas profissionais há que continuam a trabalhar até ao fim da gravidez. Mas atenção: nada deve ser feito sem autorização e acompanhamento médico, com cuidados redobrados no que respeita à alimentação e à atividade física, adaptando tudo o que for necessário.

VÍDEO GRAVADO DURANTE UMA AULA QUE JANDIRA BAPTISTA DEU COM O BAILARINO TARIK CHAND, NO “AT YOUR BEAT STUDIO”, EM LONDRES.

Jandira Baptista:
a bailarina que dançou até ao final da gravidez

Bailarina profissional e professora de dança, Jandira Baptista escolheu viver este período da sua vida a trabalhar e a dançar até muito pouco tempo antes de dar à luz.

“Sinto-me bem, abençoada e inspirada! Ansiosa por ter a minha pequena em meus braços”, disse a mais recente mamã, aquando da nossa conversa, uns dias antes da sua filha Zoe nascer. E continua: “Quando olho para trás orgulho-me, estou em paz. Tenho muito que fazer, mas estou ciente de que sou capaz e de que ser mãe me dá ainda mais força.”

Jandira nasceu em Portugal, há 33 anos. Há cerca de 10 meses mudou-se para Londres, com o objetivo de dançar muito e crescer ainda mais enquanto bailarina e professora de dança. Escusado será dizer que a gravidez não foi, de todo, programada e que era algo que, na altura, não esperava.

Soube que ia ser mãe já em Londres, com três meses de gestação. “Penso que foi a adrenalina e a ansiedade da mudança que não me deixaram perceber antes. Estava a preparar-me para trabalhar fora do meu país, para fazer audições, treinar, entre muitas outras coisas”, conta.

Sentiu-se a 200% fora da sua zona de conforto: “Foi um misto de felicidade com pânico. Não estava sequer em minha casa. Tive inseguranças em relação à carreira, em como iria gerir este recomeço com a gravidez e, além disso, o fator idade também me deu que pensar… Saiu tudo diferente daquilo que tinha planeado, mas aceitei. Ser mãe sempre fez parte dos meus sonhos, tomei a decisão de seguir em frente e, rapidamente, tudo se tornou secundário.”

Dançar é uma forma de esquecer os sintomas da gravidez

Para a bailarina, trabalhar grávida é “viver um dia de cada vez”, consciente que de há dias melhores e piores, alguns cansativos e stressantes. Mas, nem tudo é mau, dançar foi uma forma de se abstrair dos sintomas da gravidez e de estar ativa. A partir dos cinco meses abrandou, passou a trabalhar entre dois a três dias por semana e, no final, apenas um dia. Porém, sem nunca deixar de treinar. Deu aulas sem dificuldade, sentiu-se sempre bem, até porque “é algo natural” para si. No final de cada sessão, sentia que “toda a energia desaparecia”.

A pequena Zoe nasceu em Londres, no dia 11 de junho. É filha do bailarino Edgar Carvalho, que se mudou com Jandira para a capital do Reino Unido.

Para terminar, a mãe da Zoe deixa uma mensagem de otimismo: “Não tenham medo. Só paramos se quisermos. É preciso muita disciplina e vontade, mas tudo se faz. Somos privilegiadas, porque o que fazemos permite-nos conciliar o nosso trabalho com a maternidade e com o estar mais tempo com a criança. Agrada-me a ideia de ir ensaiar ou de ir dar aulas e levar a minha pequena. Façam por relaxar e respeitar cada fase. Aproveitem para aprender a fazer outras coisas. Observem os outros a dançar, o movimento. Financeiramente, se possível, é bom ter ‘um pé de meia’, para este tipo de surpresas, excelentes! Senão, há sempre solução.”

A história de Jandira

“Dança significa vida”
Jandira Baptista dança desde sempre. Cresceu num ambiente de DJ’s e bailarinos. Porém, a nível profissional, iniciou-se tarde, aos 22 anos. Pensava que o futuro lhe reservava uma carreira enquanto estilista ou ligada à política, isto porque desenhava roupa e fazia desenho de observação a óleo e, também, porque o seu avô era empresário e diplomata, acabando por captar o seu interesse para as políticas sociais e de sustentabilidade.

A sua carreira na dança começou quando, finalmente, decidiu enfrentar o medo de participar em competições. Foi-se destacando e ganhando prémios em eventos nacionais e internacionais, conhecendo pessoas na área e sendo convidada para dar aulas. Tudo aconteceu naturalmente. Começou a viajar através da dança e a organizar eventos e workshops como forma de contribuir para o desenvolvimento da comunidade em Portugal.

Dança um pouco de tudo e, atualmente, dá, sobretudo, aulas de Hip Hop, House, Waacking, Popping e High Heels.

Sinais de problemas psicológicos nas crianças

Assinala-se, hoje, o Dia Mundial da Criança

DR.

Ser criança é ser pequeno em tamanho e grande em sonhos. É ter no sorriso o dom de trazer a felicidade a quem as rodeia. Ser criança é tudo! É ser inocente, é acreditar no mágico, no maravilhoso e no fantástico, mas é, também, ter medos, traumas e frustrações. Por isso, os pais devem estar atentos e informados para que as possam apoiar, sempre que alguma situação coloque em causa o seu bem-estar psicológico.

Como identificar problemas psicológicos nas crianças
Joana Peres Carneiro, psicóloga clínica, lembra que os mais pequenos se exprimem de forma diferente dos adultos: “Têm mais dificuldade na expressão verbal das suas emoções e, por essa razão, manifestam o seu estado emocional através do comportamento e das atitudes.”

Alterações nos padrões de sono e alimentar, enurese (perda involuntária de urina), isolamento, medos repentinos, irritabilidade, baixa capacidade de concentração e de atenção, comentários depreciativos em relação a si e ao seu corpo, comentários relativos à vontade de “desaparecer”, choro sem motivo aparente, sintomas de ansiedade, irrequietude, comportamentos agressivos e autolesivos são, de acordo com a psicóloga, motivos de alerta.

“Os pais devem estar atentos, não apenas quando a criança passa por algum episódio marcante, mas também na existência de sinais que surjam sem motivo aparente. Pequenas e pontuais situações, às quais não damos importância, poderão perturbar a criança e ter um grande impacto na sua vida”, refere Joana Peres Carneiro.

É, no entanto, de realçar que existem reações adequadas a determinados acontecimentos. Sentir tristeza, raiva e ansiedade, perante situações que assim o exijam, “é natural e saudável”.

“Não podemos querer que a criança esteja feliz, quando é suposto estar em sofrimento. Porém, caso os sinais perdurem no tempo, de forma desproporcionada e com intensidade desmedida, ou se limitarem o seu funcionamento, é importante procurar ajuda.”

Situações que podem originar transtornos
Divórcio dos pais, nascimento de um irmão, mudança de casa ou de escola, morte de alguém próximo, pressão relativamente ao desempenho no desporto e às notas escolares, são acontecimentos que podem levar a alguns desajustes emocionais.

Além disso, problemáticas como bullying na escola, maus-tratos físicos e emocionais por parte da família, vício em jogos e sobreexposição nas redes sociais, entre outras, podem obviamente desencadear instabilidade emocional.

Segundo Joana Peres Carneiro, o que para uma criança pode ser encarado de forma normal, sem qualquer alteração no seu equilíbrio emocional e funcional, para outra pode levar a alguma desestabilização. “Todas são diferentes. Desenvolvem-se a ritmos distintos, física e emocionalmente, e não devem ser comparadas entre elas”, salienta a psicóloga.

“É essencial deixarmos as crianças ser crianças e, tanto quanto possível, que tenham apenas as preocupações típicas da idade”, afirma Joana Peres Carneiro. E continua, mencionando que, por vezes, os pais esquecem-se que os filhos são como uma “esponja”. Ou seja, que absorvem tudo o que ouvem e veem, quer seja bom ou mau. Trata-se situações ansiogénicas e perturbadoras, uma vez que não estão ainda aptos para as entender e gerir internamente

Ajuda profissional
Joana Peres Carneiro salienta que os pais devem ter tempo para os filhos. “A criança deve sentir que a mãe e o pai se preocupam, que querem saber de si e que estão sempre dispostos a ouvi-la. Assim, vão ter confiança para partilhar algumas das coisas que sentem e, pelas quais, possam estar a passar.

“Saber que pode contar com os seus pais e que não vai ser ridicularizada, culpabilizada, nem comparada com o irmão ou com outra criança, é meio caminho andado para que não se construam muros internos”, explica a psicóloga.

Mas atenção: se, apesar de tudo, sentir que o seu apoio não está a ser suficiente para manter o bem-estar psicológico do seu filho, por que não recorrer à ajuda de um psicólogo?!

Sempre que verificar que a vida da criança está a ser afetada e a sofrer alterações que colocam em causa o seu bom funcionamento, pode e deve recorrer ao apoio destes profissionais de saúde. Sem tabus!

Além disso, uma ida ao psicólogo pode ser feita como meio de prevenção e não apenas como tentativa de atenuar sintomas. Se considerar que um evento que está na eminência de acontecer – separação dos pais, nascimento de um irmão, mudança de escola -, pode vir a fragilizar a criança, não descarte esta opção.

Foto tirada em Hmong Village, Luang Prabang, Laos

Joana Peres Carneiro, psicóloga clínica:

“A Psicologia é fascinante no que toca à interpretação de comportamentos e de palavras”

Joana Peres Carneiro desenvolve o seu trabalho, em contexto privado, com crianças, adolescentes e adultos, assim como numa instituição de apoio a crianças em risco, vítimas de maus tratos psicológicos e físicos, de abusos e de negligência.

Histórias – Por que razão se formou em Psicologia?
Joana Peres Carneiro (JPC) – Decidi que queria ser psicóloga aos 14 anos. Na altura, acreditava que ia ser capaz de interpretar o que as pessoas pensavam só de olhar para elas e para o que faziam.

Depois, percebi que, de facto, a Psicologia é fascinante no que toca à interpretação de comportamentos e de palavras, mas que pode ser muito mais do que isso! A Psicologia é uma grande ajuda ao outro, ao seu bom desenvolvimento, bem-estar e equilíbrio, além de que se enquadra em qualquer contexto!

Histórias – E a área das crianças como é que surgiu?
JPC – Entrou na minha vida através dos estágios académico e profissional. Mais tarde, acabou por ocupar a grande maioria da minha vida profissional. É uma área interessante e extremamente gratificante.

Muitas vezes, é também um desafio, pois não trabalho apenas com a criança, mas em tríade, com os pais, que são motores fundamentais para que este trabalho clínico chegue a bom porto.

Histórias – Qual o papel da Psicologia Infantil?
JPC – O trabalho do psicólogo passa por identificar o que se passa com a criança e, à semelhança do que deve acontecer com o adulto, por estabelecer uma relação de confiança. Através do lúdico (brincadeiras e jogos), de conversas e de desenhos são identificadas e interpretadas as dificuldades da criança. O objetivo é desbloqueá-las e tornar o mundo da criança mais suportável e leve.

Histórias – Que tipo de apoio é dado aos pais, para que possam compreender e acompanhar melhor os seus filhos?
JPC – Neste trabalho clínico é fundamental o envolvimento dos pais. Se a criança perceber que a sua ida às consultas de Psicologia não é valorizada, possivelmente também as vai desconsiderar, prejudicando o seu envolvimento na relação terapêutica.

Desde que os pais sejam colaborantes, é fácil e benéfico envolvê-los no processo, pois será uma equipa a trabalhar para um bem comum: a criança. Cada um tem um papel fundamental, nunca esquecendo que aquele é o espaço e o tempo da criança, que não deve ser invadido e, sim, respeitado.

Muitas vezes, são necessárias sessões pontuais com os pais, onde são abordados assuntos relacionados com a criança e realizada a devolução do estado do processo psicológico. Contudo, sempre sem quebrar o sigilo daquilo que é falado entre o psicólogo e a criança. Estas sessões servem também para orientar os pais e dar-lhes algum aconselhamento parental.

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