
Viajar é viver uma imensidão de sensações, experiências e emoções. É aprender e crescer interiormente.
Sair da nossa zona de conforto, para conhecer e viver uma cultura diferente, é abrir a mente, passar a ver o mundo de outra forma e abraçar novos valores e perspetivas. Viajar (diferente de fazer turismo) é poder encontrar tudo aquilo que não sabíamos que existia.
O Valle Rojo, no Peru, é um sítio maravilhoso, de uma beleza incrível e quase indescritível. Um local onde estive por acaso, do qual nunca tinha ouvido falar, mas que vai ficar-me na memória para sempre!
Naquele dia acordei por volta das 3h00 da manhã. Estava muito cansada, tinha sono e estava um frio de rachar… Arranjei-me muito à pressa, bebi o habitual chá de coca, para me “defender dos males da altitude” e me aquecer, comi qualquer coisa e sai.
O táxi estava à porta, à minha espera. Edith, a minha “mãe de acolhimento”, fazia sempre questão de chamar um taxista seu amigo para me levar. Afinal, os homens peruanos são “muito machistas” e uma moça indefesa não pode confiar assim e qualquer um! Lembrava-me sempre disso e pedia-me que tivesse cuidado. “Cuidate mucho. Te quiero”, dizia.
Às 4h00, como combinado, estava na Plaza de Armas de Cusco, para me juntar à tour que me ia levar até Vinicunca – também conhecida como Montaña de Siete Colores ou Rainbow Mountain. Dei um beijo de bom dia ao mexicano, que já estava à porta da carrinha a comer um croissant com chocolate, e entrei. Estava muito frio para ficar ali fora a vê-lo comer!
Vinicunca é relativamente perto de Cusco, mas as estradas são péssimas, de terra batida, apertadas, com muitas curvas e com íngremes subidas e descidas, pelo que a viagem foi longa. Mas divertida! À nossa frente estavam três portugueses que, ao ouvir-me falar, se aperceberam da minha nacionalidade e, de imediato, meteram conversa. Que bom que foi poder voltar a falar na minha língua materna. Tinha saudades!

O mexicano fez logo questão de dizer – numa mistura de diferentes idiomas – que tinha vários amigos brasileiros e que também sabia falar português. “Bacana né, bacana. No és asi que se habla en Portugau?!”…
A conversa estava boa e a paisagem lá fora era lindíssima. Montanhas, riachos, llamas, alpacas, glaciares. Cores e mais cores. Mas, a altitude aumentava e o mau estar físico começava a ser geral.
Passadas cinco horas, finalmente chegámos! Porém, tínhamos ainda uma muito longa e difícil caminhada pela frente. Estamos a mais de 4 mil metros de altitude acima do nível do mar. A dor de cabeça e a falta de ar faziam sentir-se, mas seguimos em frente.
Durante cerca de três horas de caminhada coloquei muita coisa em causa. As subidas eram íngremes, o cansaço e a falta de ar eram fortes e a minha cabeça parecia que ia explodir.
Pollo (sim Pollo), o nosso guia, tinha folhas de coca para irmos mascando, oxigénio para quem se sentisse realmente mal e ia recomendando que andássemos devagar. “Isto não é uma competição. Cada um ao seu ritmo.”
E não podia ser de outra forma! Ainda me deitei umas quantas vezes no chão, para recuperar o fôlego. Mas sou forte e nunca precisei de oxigénio! Os peruanos iam passando por nós, para cima e para baixo, em passo de corrida. Muitos já com alguma idade, o que tornava toda a nossa dificuldade um pouco ridícula.
A montanha arco-íris é real!

Cerca de 3h30 depois, e complemente de rastos, chegámos a Vinicunca, a montanha arco-íris. Estávamos a pouco menos de 5200 metros de altitude! “Ainda bem que não desisti”, pensei! A beleza do cenário era tal que me esqueci do cansaço. Limitei-me a agasalhar-me – faz mesmo muito frio lá em cima – e a contemplar a paisagem.
Nunca tinha visto nada assim. As fotografias que se veem na internet não têm Photoshop, acreditem. É real! Vinicunca é um destino turístico relativamente recente, descoberto em 2013. As alterações climáticas levaram a que a neve, que sempre cobriu toda a montanha, derretesse e que as camadas coloridas se revelassem.
As cores são resultado da composição mineral e das características das rochas da montanha: vermelho, óxido de ferro; amarelo/laranja, minerais combinados com enxofre; verde, óxido de cobre e minerais de ferro e de magnésio; branco, grãos de quartzo e calcário.
Gostei da montanha e de todo o cenário envolvente, mas teria gostado muito mais se não tivesse tanta gente e tanta confusão. Tiram-lhe muito da sua beleza!
Valle Rojo: o êxtase
Ainda estávamos em Vinicunca quando Pollo nos desafiou a ir conhecer o Valle Rojo, a cerca de 1 km de distância. Estávamos cansados e incomodados com a altitude e não ficámos muito convencidos.

Pollo explicou-nos que o local não era turístico, que era ainda mais bonito que a montanha das cores e que, uma vez que ali estávamos, não deveríamos perder.
O jovem guia é fascinado pela beleza e pela paz que se sente no Valle Rojo e queria mesmo que o conhecêssemos. Praticamente ninguém quis ir, preferiram descer! Só, os quatros portugueses, o mexicano e uma canadiana, que entretanto se juntou ao grupo, aceitaram. E ainda bem!
Andar 1 km naquelas condições não é fácil! Voltei a questionar tudo e mais alguma coisa, mas continuei… De repente, uma paisagem magnífica revelou-se. Uau!!! Percebi logo o que Pollo nos tentava dizer, quando insistiu que fossemos até ali!
Um vale de tonalidade vermelha, sarapintado com uma espécie de relva verde esmeralda! O local estava completamente deserto. Era enorme, não tinha fim. E ainda bem! Passámos horas ali. Senti-me totalmente em paz, completamente abraçada pelas montanhas e em contacto com a natureza na sua mais pura essência.
Voltei a ficar sem ar, mas desta vez por um bom motivo: o respeito e o fascínio que de imediato senti por aquele imponente cenário! A gratidão por poder ali estar!
De uma coisa tenho a certeza: Eu não poderia morrer sem ter ido ao Valle Rojo! O Peru é, sem dúvida, um país abençoado!















