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Categoria: Viagens

Montaña de 7 Colores e Valle Rojo: da exaustão ao êxtase

Viajar é viver uma imensidão de sensações, experiências e emoções. É aprender e crescer interiormente.

Sair da nossa zona de conforto, para conhecer e viver uma cultura diferente, é abrir a mente, passar a ver o mundo de outra forma e abraçar novos valores e perspetivas. Viajar (diferente de fazer turismo) é poder encontrar tudo aquilo que não sabíamos que existia.

O Valle Rojo, no Peru, é um sítio maravilhoso, de uma beleza incrível e quase indescritível. Um local onde estive por acaso, do qual nunca tinha ouvido falar, mas que vai ficar-me na memória para sempre!

Naquele dia acordei por volta das 3h00 da manhã. Estava muito cansada, tinha sono e estava um frio de rachar… Arranjei-me muito à pressa, bebi o habitual chá de coca, para me “defender dos males da altitude” e me aquecer, comi qualquer coisa e sai.

O táxi estava à porta, à minha espera. Edith, a minha “mãe de acolhimento”, fazia sempre questão de chamar um taxista seu amigo para me levar. Afinal, os homens peruanos são “muito machistas” e uma moça indefesa não pode confiar assim e qualquer um! Lembrava-me sempre disso e pedia-me que tivesse cuidado. “Cuidate mucho. Te quiero”, dizia.

Às 4h00, como combinado, estava na Plaza de Armas de Cusco, para me juntar à tour que me ia levar até Vinicunca – também conhecida como Montaña de Siete Colores ou Rainbow Mountain. Dei um beijo de bom dia ao mexicano, que já estava à porta da carrinha a comer um croissant com chocolate, e entrei. Estava muito frio para ficar ali fora a vê-lo comer!

Vinicunca é relativamente perto de Cusco, mas as estradas são péssimas, de terra batida, apertadas, com muitas curvas e com íngremes subidas e descidas, pelo que a viagem foi longa. Mas divertida! À nossa frente estavam três portugueses que, ao ouvir-me falar, se aperceberam da minha nacionalidade e, de imediato, meteram conversa. Que bom que foi poder voltar a falar na minha língua materna. Tinha saudades!

O mexicano fez logo questão de dizer – numa mistura de diferentes idiomas – que tinha vários amigos brasileiros e que também sabia falar português. “Bacana né, bacana. No és asi que se habla en Portugau?!”…

A conversa estava boa e a paisagem lá fora era lindíssima. Montanhas, riachos, llamas, alpacas, glaciares. Cores e mais cores. Mas, a altitude aumentava e o mau estar físico começava a ser geral.

Passadas cinco horas, finalmente chegámos! Porém, tínhamos ainda uma muito longa e difícil caminhada pela frente. Estamos a mais de 4 mil metros de altitude acima do nível do mar. A dor de cabeça e a falta de ar faziam sentir-se, mas seguimos em frente.

Durante cerca de três horas de caminhada coloquei muita coisa em causa. As subidas eram íngremes, o cansaço e a falta de ar eram fortes e a minha cabeça parecia que ia explodir.

Pollo (sim Pollo), o nosso guia, tinha folhas de coca para irmos mascando, oxigénio para quem se sentisse realmente mal e ia recomendando que andássemos devagar. “Isto não é uma competição. Cada um ao seu ritmo.”

E não podia ser de outra forma! Ainda me deitei umas quantas vezes no chão, para recuperar o fôlego. Mas sou forte e nunca precisei de oxigénio! Os peruanos iam passando por nós, para cima e para baixo, em passo de corrida. Muitos já com alguma idade, o que tornava toda a nossa dificuldade um pouco ridícula.

A montanha arco-íris é real!

Cerca de 3h30 depois, e complemente de rastos, chegámos a Vinicunca, a montanha arco-íris. Estávamos a pouco menos de 5200 metros de altitude! “Ainda bem que não desisti”, pensei! A beleza do cenário era tal que me esqueci do cansaço. Limitei-me a agasalhar-me – faz mesmo muito frio lá em cima – e a contemplar a paisagem.

Nunca tinha visto nada assim. As fotografias que se veem na internet não têm Photoshop, acreditem. É real! Vinicunca é um destino turístico relativamente recente, descoberto em 2013. As alterações climáticas levaram a que a neve, que sempre cobriu toda a montanha, derretesse e que as camadas coloridas se revelassem.

As cores são resultado da composição mineral e das características das rochas da montanha: vermelho, óxido de ferro; amarelo/laranja, minerais combinados com enxofre; verde, óxido de cobre e minerais de ferro e de magnésio; branco, grãos de quartzo e calcário.

Gostei da montanha e de todo o cenário envolvente, mas teria gostado muito mais se não tivesse tanta gente e tanta confusão. Tiram-lhe muito da sua beleza!

Valle Rojo: o êxtase  

Ainda estávamos em Vinicunca quando Pollo nos desafiou a ir conhecer o Valle Rojo, a cerca de 1 km de distância. Estávamos cansados e incomodados com a altitude e não ficámos muito convencidos.

Pollo explicou-nos que o local não era turístico, que era ainda mais bonito que a montanha das cores e que, uma vez que ali estávamos, não deveríamos perder.

O jovem guia é fascinado pela beleza e pela paz que se sente no Valle Rojo e queria mesmo que o conhecêssemos. Praticamente ninguém quis ir, preferiram descer! Só, os quatros portugueses, o mexicano e uma canadiana, que entretanto se juntou ao grupo, aceitaram. E ainda bem!

Andar 1 km naquelas condições não é fácil! Voltei a questionar tudo e mais alguma coisa, mas continuei… De repente, uma paisagem magnífica revelou-se. Uau!!! Percebi logo o que Pollo nos tentava dizer, quando insistiu que fossemos até ali!

Um vale de tonalidade vermelha, sarapintado com uma espécie de relva verde esmeralda! O local estava completamente deserto. Era enorme, não tinha fim. E ainda bem! Passámos horas ali. Senti-me totalmente em paz, completamente abraçada pelas montanhas e em contacto com a natureza na sua mais pura essência.

Voltei a ficar sem ar, mas desta vez por um bom motivo: o respeito e o fascínio que de imediato senti por aquele imponente cenário! A gratidão por poder ali estar!

De uma coisa tenho a certeza: Eu não poderia morrer sem ter ido ao Valle Rojo! O Peru é, sem dúvida, um país abençoado!

Voluntariado com “meninos especiais”: uma lição de vida

Recentemente vivi uma experiência inesquecível, porém muito difícil de traduzir em palavras… Aliás, talvez consiga resumir todos os meus sentimentos num único: gratidão! Passei parte dos meses de dezembro de 2018 a fevereiro de 2019 em Cusco, no Peru, num projeto de voluntariado na Kusi Wasi (Casa Feliz, em Quíchua), um lar para meninos com necessidades especiais e em situação de abandono e maus tratos.

Se podia ter optado por crianças saudáveis? Podia. Se teria sido mais fácil? Nos primeiros dias, com certeza. No entanto, não teria vivido o que vivi, aprendido o que aprendi, sentido o que senti, nem recebido o carinho e o amor que recebi.

Tratam-se de crianças com problemas mentais e/ou físicos, que viveram situações de abandono, maus tratos físicos, abusos sexuais, entre outros. Meninos com histórias de vida tão difíceis, que passaram por situações impensáveis, tão feias… Meninos sofridos, carentes, doentes, com necessidades várias. E, por incrível que pareça, meninos tão ternos, tão meigos, tão… tudo. Crianças que, inconscientemente, exigiram tanto de mim, mas que deram tão mais de si!

Voltei com o coração apertado e já cheia de saudades dos meus “bebés”, com a sensação que o tempo passou ainda mais rápido que o normal e com uma vontade imensurável de regressar. Voltei uma pessoa melhor (espero) e com uma visão muito diferente da vida.

Como não consigo falar muito mais sobre a Kusi Wasi, uma das casas da Asociación de las Bienaventuranzas (ADLB), conversei com o seu diretor, Genaro Bustamante:

“Os voluntários ajudam muito na estabilidade emocional das nossas crianças”

Histórias – Conta-me um pouco da história da Kusi Wasi e da ADLB?
Genaro – 
Somos uma obra de amor que nasceu no coração de Deus, fundada pelo padre Omar Sánchez Portillo. A ADLB situa-se em Tablada de Lurín, Villa María del Triunfo, em Lima, e está, desde maio de 2016, em Cusco, como Kusi Wasi. Trata-se de um espaço que acolhe quem nada tem, quem mais precisa e quem se sente abandonado e sozinho.

Genaro com algumas das crianças da Kusi Wasi

Histórias – Quais os principais objetivos?
Genaro –
 Dar abrigo, cuidados e desenvolvimento integral a estas pessoas, bem como responder às suas necessidades materiais, educacionais, médicas, emocionais e espirituais, sejam crianças, adolescentes, jovens, adultos ou idosos. Todos eles portadores de doença mental, deficiência ou com necessidades especiais de educação e em situação de pobreza extrema, abandono, vítimas de discriminação, de violência e de exclusão social.

Histórias – Atualmente, a Kusi Wasi acolhe apenas crianças e jovens. Quantos vivem neste espaço e qual média de idades?
Genaro –
 Temos 23 crianças e jovens, 8 meninos e 15 meninas. A faixa etária está entre os 8 e os 27 anos.

Histórias – Quais as principais doenças/problemas?
Genaro –
 Temos diferentes tipos de patologias e em todas as suas escalas, deficiência mental, autismo, trissomia 21, esquisofrenia, convulsões, entre outros.

 Histórias – Quantas pessoas trabalharam na Kusi Wasi?
Genaro –
 Somos uma equipa de seis pessoas.

Histórias – Quais são as principais necessidades da Kusi Wasi?
Genaro –
 Alimentação, limpeza e higiene pessoal, materiais de trabalho para realizar as atividades de desenvolvimento motor e educacional e medicamentos – uma vez que a maioria toma fármacos psiquiátricos e/ou anticolulsivos.
Precisaríamos, também, de contratar um professor de espanhol para os que não podem ir à escola. No entanto, não temos verbas para pagar.
Outra grande necessidade, que para nós é muito importante e queremos que este ano se torne realidade, é conseguir fundos para poder construir uma nova casa Kusi Wasi, num terreno de 8 mil metros quadrados, que foi doado ao padre Omar, em 2018. A casa onde estamos atualmente é alugada, pequena e não nos permite ajudar mais pessoas.

Histórias – De que forma podemos ajudar?

Genaro – Com todos os tipos de doações, sejam materiais ou financeiras. Através do nosso site ou da nossa página de facebook. Assim como com um pouco do seu tempo, ajudando nas tarefas diárias e nas atividades da casa.

Histórias – Qual a importância do voluntariado para a Kusi Wasi?
Genaro –
 O tempo dedicado às crianças faz com que se sintam amadas. Os voluntários ajudam muito na estabilidade emocional de cada um deles. Brincando, abraçando, dançando, etc. Também dão muito apoio no que respeita às atividades de desenvolvimento da motricidade.

Histórias – Consideras que os voluntários chegam à Kusi Wasi preparados para encontrar e ajudar estas crianças?
Genaro –
 São muito poucos os voluntários que vêm preparados! Ao início, quase ninguém sabe como reagir, mas basta vir com o desejo de ajudar, de dar amor e de abrir o coração para o receber também.

Histórias – O que é que um voluntário deve saber antes de iniciar o seu projeto na Kusi Wasi?
Genaro –
 Ao início é difícil, mas com o tempo o voluntário aprende e passa a sentir-se parte de tudo!
De qualquer forma, seria bom que se informasse sobre as patologias mencionadas, que trouxesse ideias de atividades para trabalhar com as crianças e que se lembre que a maioria nunca andou numa escola, não tem formação e foi vítima de abuso físico, psicológico e sexual, exploração infantil, entre outros.

Histórias – És jovem, tens 29 anos. Há quanto tempo estás ligado à Kusi Wasi?
Genaro –
 Desde janeiro de 2018. Estive 9 anos no projeto em Lima. O padre Omar precisava de uma pessoa de confiança, que se encarregasse da missão da Kusi Wasi, e falou comigo. Não pude recusar e aqui estou como diretor, procurando o melhor para a Kusi Wasi, em benefício das crianças.

Histórias – O que significa para ti poder ajudar estas crianças e ter um papel tão importante nas suas vidas?
Genaro –
 Só posso agradecer a Deus. Isto é a minha vida. Há muito tempo que pus os meus planos pessoais de lado e decidi ficar na ADLB. É maravilhoso o poder dos meninos de Lima e de Cusco… Mudaram totalmente a minha vida e ensinaram-me a dar amor desmedidamente.

Histórias – Projetos futuros?
Genaro –
 A nova casa. Queremos ampliar o espaço, para hospedar mais crianças e jovens, mas também adultos e idosos, todos com necessidades especiais em situação de abandono.
É uma grande necessidade em Cusco. Temos recusado muitos casos por questões de espaço, o que nos afeta muito, porque sabemos que precisam de nós. Queremos ter quartos adequados às necessidades, áreas de trabalho para os jovens, escola, gabinetes médicos e de terapia e dormitórios para os voluntários.
Gostava que tivesses conhecido o espaço de Lima, para que pudesses ter uma ideia daquilo que queremos desenvolver em Cusco!**

Obrigada Genaro! Com certeza, voltarei para conhecer o espaço em Lima e espero encontrar a “nova Kusi Wasi” a funcionar em pleno!

Por último, mas não menos importante, devo dizer que fiz este projeto de voluntariado através da Iko Poran Volunteer Abroad, uma organização de voluntariado internacional sem fins lucrativos, com sede no Rio de Janeiro, Brasil, a quem devo também agradecer, na pessoa do seu diretor, Luis Felipe Murray, por todo o seu profissionalismo, atenção, acompanhamento e disponibilidade.

Tal como foi referido, a Kusi Wasi passa por diversas necessidades, tanto financeiras, como de material e de recursos humanos e toda a ajuda é bem-vinda. Apoiem a associação, fazendo um donativo através de https://asociacionbienaventuranzas.org.pe/ ou https://www.facebook.com/AsociaciondelasBienaventuranzas/.

É muito importante e os nossos príncipes agradecem!

Hasta luego, Cusco

“A saudade é a voz que grita ‘fica’ na hora da partida”

Partir não é fácil, sobretudo quando deixamos pessoas, projetos e formas de estar e de viver que tanto gostámos de experiênciar, mesmo que por pouco tempo.

Paisagens de sonho, cheiros, sons, sabores, texturas… Abraços apertados que ficam para sempre na memória. Sentimentos.

Hasta luego Cusco. Un dia voy a volver, te lo juro.

Agora é tempo de desfrutar de Lima e dos seus arredores…

Ronda das Almas em Luang Prabang

á lá vão uns meses desde que estive em Luang Prabang, em Laos, mas as recordações continuam vivas. São boas e mais que muitas. O país é pobre, as pessoas humildes, simpáticas e acolhedoras. A pobreza é visível. A solidariedade e a partilha também. A Cerimónia da Ronda das Almas é uma prática budista, realizada desde o século XIV, que consiste na doação de alimentos por parte da população local aos monges e noviços dos mosteiros da cidade.

Vale a pena acordar cedo para assistir, às 5h30, a este “ritual religioso” tão bonito e cheio de simbolismo. Todos os dias, ao nascer do sol, a população junta-se nas principais ruas da cidade para fazer as suas oferendas aos monges. Os alimentos doados são parte da única refeição diária que consomem. Contudo, estes ainda as partilham com quem mais precisa. Arroz, frutas e doces são as doações mais comuns.

Pelo que percebi, para os budistas a cerimónia da ronda das almas é muito mais que uma simples doação de comida ou ato de caridade. De acordo com a sua crença budista, fazer esta oferenda é uma forma de acumular méritos. Para os monges é uma maneira de exercitar a humildade.

Ajoelhados em tapetes ou sentados em pequenos bancos à beira da estrada, homens, mulheres e crianças esperavam a passagem dos monges, que iluminados pelas suas vestes laranja começaram a aparecer silenciosamente. A cerimónia é imponente. Senti respeito, admiração.

São rápidos, passam em procissão, recebem as oferendas, partilham-nas com as várias crianças pobres que se alinham à sua frente, esperando que as redistribuam, e seguem. Muitos deles são também ainda crianças! Pequenos monges que os pais enviam para os templos, para que tenham uma educação melhor e para que a família acumule méritos.

Assistir à ronda das almas foi ter tido o privilégio de ver com os meus próprios olhos o forte senso de comunidade e generosidade desta população. Sentir-me conectada a uma força e energia maiores!

Liebe em Hamburgo!

A propósito do Dia Mundial do Turismo, que se assinalou ontem, aqui fica uma fotografia de Hamburgo, apelidada pelos seus moradores de “a cidade mais bonita do Mundo”!

Muito conhecida pelo seu enorme porto, que, aliás, é um dos maiores da Europa, Hamburgo situa-se no norte da Alemanha, apenas a algumas horas de Berlim.

É uma cidade que encanta pelas suas muitas pontes e canais.

Hoi An, a “cidade das lanternas”

Em Hoi An, no Vietname, existe uma crença local que diz que se colocarmos uma vela nas águas do rio Thu Bon e pedirmos um desejo, este irá realizar-se.

Segundo a mesma lenda, as oferendas colocadas nas águas do Thu Bon flutuam até aos seus antepassados, que as recebem e, em troca, realizam os desejos de quem as lançou.

Eu estive lá, na maravilhosa “cidade das lanternas”, e durante um passeio de barco, à noite, pedi um desejo e pus uma velinha no rio. Tive a sorte de contar com a ajuda de um menino, com os seus 7 anos, que me acompanhou e ajudou durante todo o passeio. Afinal, os turistas não sabem bem como fazer as coisas!

Estávamos em maio, celebrava-se o nascimento de Buda, a cidade estava em festa e toda iluminada! Linda, cheia de cor e de muito simbolismo. A paz e a serenidade estiveram sempre connosco. E eu, de coração cheio!

Hoi An está localizada no centro do Vietname, na província de Quang Nam, perto da foz do rio Thu Bon. É um dos destinos mais bonitos e populares no Sudeste Asiático, em grande parte devido à sua preservada “Cidade Velha”, classificada como património mundial pela UNESCO.

Será “pobreza” obrigatoriamente sinónimo de “miséria”?…

Batman e as amigas

… Não sei, mas defendo que não! Não é de todo a pobreza que faz das pessoas miseráveis. Até porque, a meu ver, trata-se de um adjetivo muito forte para atribuir a alguém apenas porque não tem dinheiro, tem uma casa mais pequena e com poucas condições… ou simplesmente uma forma “diferente” de estar na vida.

A semana passada fui até ao norte do país fazer uma reportagem. Um dos entrevistados era um muito simpático e castiço médico, com quem já trabalho há anos e, quando possível, costumo conversar.

Entre entrevistas e fotografias às instalações, aos seus colegas e aos doentes, o médico sugeriu que fizéssemos uma pausa e fossemos até ao bar. “Sabe, Sra. Dra. – é assim que me trata apesar de eu já lhe ter dito milhares de vezes para me chamar Sílvia – este ano vou de férias para o Perú”, contou, enquanto eu punha água no café e ele dava a primeira dentada num dos dois húngaros que pediu para o seu lanche matinal.

“Perú! Espetacular”, respondi. Falámos um pouco sobre a viagem que vai fazer e o que o levara até lá, até que resolvi falar das minhas últimas e ainda muito recentes férias. Disse-lhe que estive no Sudeste Asiático, que passei por Hong Kong, Macau, algumas cidades do Vietname, Luang Prabang em Laos e Bangkok na Tailândia.

“Conheço todos esses países, menos o Vietname! Do que é que gostou mais?”, perguntou-me. “Luang Prabang, em Laos!!!”, respondi com entusiasmo e sem pensar duas vezes. “Isso é uma miséria”, respondeu!

Fiquei boquiaberta! Quase me senti ofendida, como se fosse um deles e defendi-os, claro está, como se de familiares meus se tratassem! Senti-me tão bem em Luang Prabang!

Foi nesta altura que eu e os Sr. Dr. começámos a discordar. E foi assim que comecei a pensar no que realmente é importante e naquilo que precisamos para ser felizes. Para ele Laos é um país de pessoas pobres, “miseráveis”, com falta de coisas básicas, onde as crianças não tem com que brincar e andam todas sujas pela rua! É a sua visão e eu respeitei, mas tive de mostrar a minha.

Em Luang Prabang e na Hmong Village a felicidade está a vista de qualquer um. Ela anda por ali de mão dada com aquelas pessoas! Para mim, trata-se de um local de paz, amor, calor, budismo, natureza, alegria e eu fiquei fascinada!

As pessoas de Luang Prabang e da Hmong Village são simpatia, acolhimento, altruísmo. Recebem tão bem e são tão disponíveis. A cidade é muito calma e está cheia de crianças que nos cumprimentam constantemente com um simpático “Sabaidee” (olá em lausiano).

As pessoas da Hmong Village – uma espécie de tribo, se é que lhe posso chamar assim – são livres, vivem felizes e isso é visível aos olhos de quem por lá passa. A paz reina neste local e as crianças são genuinamente felizes. É um privilégio poder estar entre elas e fazer parte das suas brincadeiras.

Talvez não tenham com que brincar, como disse o meu entrevistado, e nem todas as condições de que necessitam nos pequenos bungalows em que vivem. Mas têm saúde, têm o amor da família, têm amigos com quem brincam na rua, têm comida, têm escola… O resto?!  Não sabem que existe. Têm tudo o que precisam!

Não entendo como podemos chamar miserável a alguém que tem “tudo e é tão feliz”! Talvez seja apenas uma questão de prioridades…

“Viajar é mudar a roupa da alma”

“Viajar é mudar a roupa da alma”, já o dizia Mário Quintana e eu não podia concordar mais com ele. Recentemente, estive no Sudeste Asiático, onde durante uma aventureira, divertida e muito corrida viagem, de quase três semanas, vivi experiências maravilhosas.

Momentos únicos que me permitiram conhecer novas culturas, paisagens, cheiros e, sobretudo, diferentes formas de viver e de estar na vida… Assim voltei a ver o mundo pelos olhos de uma criança. Mas cresci!

Enquanto apreciava uma das belas vistas de Hong Kong, a nossa primeira paragem, adormeci num canteiro artificial, entre a beleza e a enorme agitação da cidade. O Jet Lag é lixado e, vá, para quem gosta de dormir, qualquer desculpa serve.

Em Macau, senti-me em casa. Gostei de passear sobre a nossa tão bonita calçada portuguesa e de ver que a Língua e a cultura portuguesas ainda se mantêm do outro lado do mundo. Os já poucos portugueses/macaenses gostam de nos ver, de conversar, de nos orientar e dar dicas. Dos “supostos” pasteis de nata, já não posso falar tão bem!

O Vietname é brutal! Em Hoi An, durante um passeio de barco à noite pedi um desejo e pus uma velinha no rio, com a ajuda de um menino que a ia reacendendo, cada vez que se apagava e que eu fazia um “ohhh”! Andei de mota a três, comi coisas deliciosas e fiz quase tudo aquilo que os Srs Drs. da consulta do viajante disseram que não se podia fazer! Que se lixe, importante é viver!

Em Hanói, a capital, rezei cada vez que precisei atravessar a rua. Só quem passou pelo mesmo vai compreender. E fiquei muito surpreendida, pelo modo de vida daquelas pessoas, pela falta de condições, de espaço, de higiene… Em suma, pela luta pela sobrevivência.

Porém, terminámos a última noite desta nossa estadia a dançar na rua, que obviamente adorámos, e, já de dia, horas antes de partirmos, enfrentámos uma fila de pessoas que queriam tirar fotografias connosco! Foi só insólito e muito engraçado! Depois  disso, bebi um delicioso sumo natural que veio acompanhado de  uma nota: “Hanói loves you”! Com tudo isto, senti-me uma estrela e obviamente que também gosto de Hanói. Ah, os templos, pagodes e afins são lindos, claro está!

Em Cat Ba e Ha Long Bay vi paisagens fantásticas, fiz Kaiake, subi ao pico de montanhas e, ainda, mandei um “espetacular” mergulho de cima do barco, que me lixou os ouvidos!

Passámos a noite num bungalow na Ilha dos Macacos, onde não conseguimos ver nem um. Vá-se lá entender! Mas tivemos o privilégio de “dormir” com um ser que, mais tarde, viemos a saber ser um reptil. Mesmo sem nunca o termos visto – tal como aos macacos -, conseguimos ouvi-lo e perceber que estava bem perto de nós. Fazia um som estranho, como quem se riu alto durante toda a noite!!! Tivemos ainda a companhia de uma espécie de tarântula!

Luang Prabang, em Laos, foi o ponto alto, e o local onde estivemos mais tempo. A paz reina ali e eu pude senti-la. Em Laos ficámos a saber mais sobre Budismo, assistimos à cerimónia das almas, às 5h30 da manhã – isso mesmo não me enganei -, onde a população se junta para dar comida aos monges, que por sua vez a dividem com aqueles que mais precisam.

Logo de seguida, fizemos um lindo passeio de barco, em que dormi durante toda a viagem. As paisagens eram maravilhosas, não tenho dúvida!

Tivemos numa experiência fantástica, onde interagimos e nadámos com os elefantes, que para mim foi fenomenal e me deixou de coração cheio. Sentimentos que voltaram a sobressair durante a visita à Hmong Village, em que pudemos brincar com as crianças e sentir a sua alegria tão genuína. Além disso, ainda tivemos o privilégio de ficar a saber toda a vida do nosso tão simpático guia, que nos disse coisas como “I’m a playboy” ou “I have a dream…” .

Nadámos nas limpas e azuis águas da Kuang Si Waterfall, uma paisagem de sonho. E como não há impossíveis, ficámos amigas de um monge com quem passeámos e conversámos horas a fio durante a noite… Nunca imaginei que pudesse acontecer! Quem sabe um dia volte!…

A experiência terminou em Bangkok, na Tailândia, onde fomos apanhar o avião para a Europa, mas aproveitámos para passar uma noite e um dia. Desta não posso falar muito… apenas dizer que começou com uma atribulada viagem de comboio até ao hotel, em que uma senhora, que apenas falava tailandês, passou todo o tempo a levantar e a baixar a minha pesada mochila e a insistir para eu digitar o meu número no seu telemóvel. Como não teve sucesso deu-me um papel com os seus contactos!

Fiquei surpreendida com a noite desta cidade. Prostituição, muitos shows de sexo, pessoas que se ameaçam e que se enganam. A contrastar, os templos são lindíssimos, sem dúvida dos mais bonitos que já vi!

Curiosamente, esta experiência fantástica acabou no meu dia de aniversário que, pela primeira vez, durou 30 horas! Iniciei o dia em Bangkok e terminei-o em Lisboa, cuja diferença horária são de seis horas!

Não menos importante para o sucesso desta aventura, muito pelo contrário, foi a minha companheira de viagem que, apesar de não ser muito dada à bicharada, esteve sempre apostos para o que desse e visse. Uma verdadeira companheira de viagem/aventura!

Nota: Este texto foi feito com base em outro que escrevi assim que regressei. Qualquer semelhança não é pura coincidência!

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