Histórias de encantar… ou não

Refletir, escrever, fantasiar, seduzir, comunicar, informar. Viver

Voluntariado com “meninos especiais”: uma lição de vida

Recentemente vivi uma experiência inesquecível, porém muito difícil de traduzir em palavras… Aliás, talvez consiga resumir todos os meus sentimentos num único: gratidão! Passei parte dos meses de dezembro de 2018 a fevereiro de 2019 em Cusco, no Peru, num projeto de voluntariado na Kusi Wasi (Casa Feliz, em Quíchua), um lar para meninos com necessidades especiais e em situação de abandono e maus tratos.

Se podia ter optado por crianças saudáveis? Podia. Se teria sido mais fácil? Nos primeiros dias, com certeza. No entanto, não teria vivido o que vivi, aprendido o que aprendi, sentido o que senti, nem recebido o carinho e o amor que recebi.

Tratam-se de crianças com problemas mentais e/ou físicos, que viveram situações de abandono, maus tratos físicos, abusos sexuais, entre outros. Meninos com histórias de vida tão difíceis, que passaram por situações impensáveis, tão feias… Meninos sofridos, carentes, doentes, com necessidades várias. E, por incrível que pareça, meninos tão ternos, tão meigos, tão… tudo. Crianças que, inconscientemente, exigiram tanto de mim, mas que deram tão mais de si!

Voltei com o coração apertado e já cheia de saudades dos meus “bebés”, com a sensação que o tempo passou ainda mais rápido que o normal e com uma vontade imensurável de regressar. Voltei uma pessoa melhor (espero) e com uma visão muito diferente da vida.

Como não consigo falar muito mais sobre a Kusi Wasi, uma das casas da Asociación de las Bienaventuranzas (ADLB), conversei com o seu diretor, Genaro Bustamante:

“Os voluntários ajudam muito na estabilidade emocional das nossas crianças”

Histórias – Conta-me um pouco da história da Kusi Wasi e da ADLB?
Genaro – 
Somos uma obra de amor que nasceu no coração de Deus, fundada pelo padre Omar Sánchez Portillo. A ADLB situa-se em Tablada de Lurín, Villa María del Triunfo, em Lima, e está, desde maio de 2016, em Cusco, como Kusi Wasi. Trata-se de um espaço que acolhe quem nada tem, quem mais precisa e quem se sente abandonado e sozinho.

Genaro com algumas das crianças da Kusi Wasi

Histórias – Quais os principais objetivos?
Genaro –
 Dar abrigo, cuidados e desenvolvimento integral a estas pessoas, bem como responder às suas necessidades materiais, educacionais, médicas, emocionais e espirituais, sejam crianças, adolescentes, jovens, adultos ou idosos. Todos eles portadores de doença mental, deficiência ou com necessidades especiais de educação e em situação de pobreza extrema, abandono, vítimas de discriminação, de violência e de exclusão social.

Histórias – Atualmente, a Kusi Wasi acolhe apenas crianças e jovens. Quantos vivem neste espaço e qual média de idades?
Genaro –
 Temos 23 crianças e jovens, 8 meninos e 15 meninas. A faixa etária está entre os 8 e os 27 anos.

Histórias – Quais as principais doenças/problemas?
Genaro –
 Temos diferentes tipos de patologias e em todas as suas escalas, deficiência mental, autismo, trissomia 21, esquisofrenia, convulsões, entre outros.

 Histórias – Quantas pessoas trabalharam na Kusi Wasi?
Genaro –
 Somos uma equipa de seis pessoas.

Histórias – Quais são as principais necessidades da Kusi Wasi?
Genaro –
 Alimentação, limpeza e higiene pessoal, materiais de trabalho para realizar as atividades de desenvolvimento motor e educacional e medicamentos – uma vez que a maioria toma fármacos psiquiátricos e/ou anticolulsivos.
Precisaríamos, também, de contratar um professor de espanhol para os que não podem ir à escola. No entanto, não temos verbas para pagar.
Outra grande necessidade, que para nós é muito importante e queremos que este ano se torne realidade, é conseguir fundos para poder construir uma nova casa Kusi Wasi, num terreno de 8 mil metros quadrados, que foi doado ao padre Omar, em 2018. A casa onde estamos atualmente é alugada, pequena e não nos permite ajudar mais pessoas.

Histórias – De que forma podemos ajudar?

Genaro – Com todos os tipos de doações, sejam materiais ou financeiras. Através do nosso site ou da nossa página de facebook. Assim como com um pouco do seu tempo, ajudando nas tarefas diárias e nas atividades da casa.

Histórias – Qual a importância do voluntariado para a Kusi Wasi?
Genaro –
 O tempo dedicado às crianças faz com que se sintam amadas. Os voluntários ajudam muito na estabilidade emocional de cada um deles. Brincando, abraçando, dançando, etc. Também dão muito apoio no que respeita às atividades de desenvolvimento da motricidade.

Histórias – Consideras que os voluntários chegam à Kusi Wasi preparados para encontrar e ajudar estas crianças?
Genaro –
 São muito poucos os voluntários que vêm preparados! Ao início, quase ninguém sabe como reagir, mas basta vir com o desejo de ajudar, de dar amor e de abrir o coração para o receber também.

Histórias – O que é que um voluntário deve saber antes de iniciar o seu projeto na Kusi Wasi?
Genaro –
 Ao início é difícil, mas com o tempo o voluntário aprende e passa a sentir-se parte de tudo!
De qualquer forma, seria bom que se informasse sobre as patologias mencionadas, que trouxesse ideias de atividades para trabalhar com as crianças e que se lembre que a maioria nunca andou numa escola, não tem formação e foi vítima de abuso físico, psicológico e sexual, exploração infantil, entre outros.

Histórias – És jovem, tens 29 anos. Há quanto tempo estás ligado à Kusi Wasi?
Genaro –
 Desde janeiro de 2018. Estive 9 anos no projeto em Lima. O padre Omar precisava de uma pessoa de confiança, que se encarregasse da missão da Kusi Wasi, e falou comigo. Não pude recusar e aqui estou como diretor, procurando o melhor para a Kusi Wasi, em benefício das crianças.

Histórias – O que significa para ti poder ajudar estas crianças e ter um papel tão importante nas suas vidas?
Genaro –
 Só posso agradecer a Deus. Isto é a minha vida. Há muito tempo que pus os meus planos pessoais de lado e decidi ficar na ADLB. É maravilhoso o poder dos meninos de Lima e de Cusco… Mudaram totalmente a minha vida e ensinaram-me a dar amor desmedidamente.

Histórias – Projetos futuros?
Genaro –
 A nova casa. Queremos ampliar o espaço, para hospedar mais crianças e jovens, mas também adultos e idosos, todos com necessidades especiais em situação de abandono.
É uma grande necessidade em Cusco. Temos recusado muitos casos por questões de espaço, o que nos afeta muito, porque sabemos que precisam de nós. Queremos ter quartos adequados às necessidades, áreas de trabalho para os jovens, escola, gabinetes médicos e de terapia e dormitórios para os voluntários.
Gostava que tivesses conhecido o espaço de Lima, para que pudesses ter uma ideia daquilo que queremos desenvolver em Cusco!**

Obrigada Genaro! Com certeza, voltarei para conhecer o espaço em Lima e espero encontrar a “nova Kusi Wasi” a funcionar em pleno!

Por último, mas não menos importante, devo dizer que fiz este projeto de voluntariado através da Iko Poran Volunteer Abroad, uma organização de voluntariado internacional sem fins lucrativos, com sede no Rio de Janeiro, Brasil, a quem devo também agradecer, na pessoa do seu diretor, Luis Felipe Murray, por todo o seu profissionalismo, atenção, acompanhamento e disponibilidade.

Tal como foi referido, a Kusi Wasi passa por diversas necessidades, tanto financeiras, como de material e de recursos humanos e toda a ajuda é bem-vinda. Apoiem a associação, fazendo um donativo através de https://asociacionbienaventuranzas.org.pe/ ou https://www.facebook.com/AsociaciondelasBienaventuranzas/.

É muito importante e os nossos príncipes agradecem!

Hasta luego, Cusco

“A saudade é a voz que grita ‘fica’ na hora da partida”

Partir não é fácil, sobretudo quando deixamos pessoas, projetos e formas de estar e de viver que tanto gostámos de experiênciar, mesmo que por pouco tempo.

Paisagens de sonho, cheiros, sons, sabores, texturas… Abraços apertados que ficam para sempre na memória. Sentimentos.

Hasta luego Cusco. Un dia voy a volver, te lo juro.

Agora é tempo de desfrutar de Lima e dos seus arredores…

Voluntariado no Perú, uma experiência para a vida

Estou há pouco mais de duas semanas em Cusco, no Perú. Sou voluntária num orfanato de crianças com deficiência e estou em casa de uma família local, estando a viver a 100% a sua cultura. Uma maravilhosa experiência de vida, acreditem!

A adaptação não foi propriamente fácil. Apesar de estar a viver com pessoas fantásticas, que me tratam tal e qual como da família fosse, fui “apanhada” pelos “males da altitude”, como por aqui se diz, e por isso passei a primeira semana adoentada, muito cansada e com dificuldades respiratórias.

Apesar de pobre, o Perú é um país fabuloso. As pessoas são acolhedoras, disponíveis, muito conversadoras e sempre prontas a ajudar e a orientar. As paisagens lindíssimas, do mais bonito que alguma vez tive oportunidade de ver.

As noites, à moda da América Latina, são “muy calientes”, fervorosas, com muita festa e muita dança – salsa, bachata, reggaeton, cumbia e também um pouco de pop. “Bailam” todas as noites, como se o mundo estivesse para acabar amanhã! Parecem-me tão felizes, apesar dos imensos problemas que têm. Fazem-me tão feliz.

A família com quem vivo – mãe e duas filhas -, com muito sucesso, faz de tudo para que me sinta bem e acolhida. São ternas, meigas e vão deixar-me tanta saudade! Desde domingo, temos um novo membro na família, Mo! Um estudante de Medinica, natural de Miami, que começa amanhã o seu programa de voluntariado, num centro de saúde por aqui a algures.

Pode parecer estranho, mas viajar sozinha para tão longe é a melhor forma de estar sempre acompanhada e fazer amigos. Alguns por apenas uns dias, outros por semanas! Pessoas de todo mundo, algumas ficam para a vida e deixam até um pouco de tristeza e solidão quando regressam aos seus países ou continuam o seu percurso pelo mundo fora…

São mexicanos, colombianos, argentinos, portugueses, espanhóis, franceses, americanos e até corianos. Por aqui falamos todos os idiomas e temos até um só nosso, onde, por vezes, em apenas uma única frase se utilizam palavras de várias partes do mundo.

Os meus meninos são maravilhosos e dão-me tanto. Se ao inicio senti algum receio, por se tratarem de crianças com doenças mentais, hoje vejo que não havia qualquer razão de ser. São carinhosos, agradecidos e felizes. Dão-me tanto amor! Obrigada a todos aqueles que me ajudaram a encher a mala com roupas, brinquedos e material escolar! Eles merecem muito e foi tão bom ver o seu contentamento ao receberem os “presentes”.

Andar de Zorro, Batman, Imperial, Rápido, entre outros – nomes que dão aos autocarros – foi inicialmente uma aventura, até porque para sair, contrariamente a Portugal onde existe o botão Stop para carregar, temos de nos levantar e gritar “bajar”, o que me deixa um pouco desconfortável!

Também o Natal é vivido com muita festa e alegria. E, apesar de estar longe de quem mais amo, a noite de ontem foi vivida com muita alegria, comida, presentes, fogo de artifício, música e dança. Afinal, o nascimento de Jesus é uma data muito importante que não pode passar em branco!

Assim que possa, escrevo um pouco sobre os lindíssimos locais que tenho vindo a visitar.
Desejos de festas felizes. Até breve.

Ronda das Almas em Luang Prabang

á lá vão uns meses desde que estive em Luang Prabang, em Laos, mas as recordações continuam vivas. São boas e mais que muitas. O país é pobre, as pessoas humildes, simpáticas e acolhedoras. A pobreza é visível. A solidariedade e a partilha também. A Cerimónia da Ronda das Almas é uma prática budista, realizada desde o século XIV, que consiste na doação de alimentos por parte da população local aos monges e noviços dos mosteiros da cidade.

Vale a pena acordar cedo para assistir, às 5h30, a este “ritual religioso” tão bonito e cheio de simbolismo. Todos os dias, ao nascer do sol, a população junta-se nas principais ruas da cidade para fazer as suas oferendas aos monges. Os alimentos doados são parte da única refeição diária que consomem. Contudo, estes ainda as partilham com quem mais precisa. Arroz, frutas e doces são as doações mais comuns.

Pelo que percebi, para os budistas a cerimónia da ronda das almas é muito mais que uma simples doação de comida ou ato de caridade. De acordo com a sua crença budista, fazer esta oferenda é uma forma de acumular méritos. Para os monges é uma maneira de exercitar a humildade.

Ajoelhados em tapetes ou sentados em pequenos bancos à beira da estrada, homens, mulheres e crianças esperavam a passagem dos monges, que iluminados pelas suas vestes laranja começaram a aparecer silenciosamente. A cerimónia é imponente. Senti respeito, admiração.

São rápidos, passam em procissão, recebem as oferendas, partilham-nas com as várias crianças pobres que se alinham à sua frente, esperando que as redistribuam, e seguem. Muitos deles são também ainda crianças! Pequenos monges que os pais enviam para os templos, para que tenham uma educação melhor e para que a família acumule méritos.

Assistir à ronda das almas foi ter tido o privilégio de ver com os meus próprios olhos o forte senso de comunidade e generosidade desta população. Sentir-me conectada a uma força e energia maiores!

35% dos fumadores tentam deixar de fumar

Assinala-se hoje o Dia Nacional do Não Fumador

DR.

Artigo de opinião de Rui Alves, médico de Medicina Geral e Familiar do Centro de Saúde de Sete Rios

O consumo de tabaco é a principal causa evitável de cancro, doença respiratória crónica e doenças cardiovasculares. O tabagismo continua a ser um dos principais causadores de perda de qualidade de vida e mortalidade prematura. A promoção da cessação tabágica é a melhor forma para reduzir o número de mortes por doenças associadas ao tabaco nos próximos vinte a trinta anos.

Estudos indicam que cerca de 80% dos fumadores expressam vontade de deixar de fumar, no entanto, apenas 5% consegue deixar com êxito e sem ajuda médica. Todos os anos, 35% dos fumadores tentam deixar de fumar, contudo a taxa de sucesso é reduzida.

Deixar de fumar é difícil. Tratando-se de um hábito com dependência física e psíquica, os sintomas de privação do tabaco nem sempre se conseguem ultrapassar sem ajuda. No entanto, sabemos que é quatro vezes mais fácil deixar de fumar com ajuda médica, pois permite controlar e diminuir os níveis de ansiedade durante o processo.

Planear a decisão calmamente e recorrer a ajuda junto do médico de família é essencial, assim como envolver família, amigos e colegas de trabalho em todo o processo. Anunciar a decisão de deixar de fumar vai reforçar e tornar mais simples de cumprir o compromisso que estabeleceu.

Atualmente existem consultas de cessação tabágica nos centros de saúde e hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Recomenda-se assim, que o processo de fumar seja apoiado por uma equipa multidisciplinar, de forma a que seja feito um maior controlo e preparação de todas as situações novas que a pessoa terá de experienciar. É também aconselhado que durante os primeiros 3 meses de cessação, o fumador se concentre apenas na cessação tabágica e melhore ou modifique os seus hábitos de vida, alimentação e higiene do sono, promovendo ainda o exercício físico.

As pessoas que deixam de fumar vivem em média mais 10 anos, reduzem para metade o risco de sofrer de doença cardiovascular, assim como o risco de sofrer de cancro e de doenças respiratórias. Quanto mais cedo for tomada a decisão, maiores serão os benefícios em termos de saúde.

Histórias de encantar… ou não

Num dos passeios que costumo fazer pelo miradouro, fui apanhada de surpresa e entrevistada por um amigo!

Aqui está o resultado, que serve para apresentação do meu blog “Histórias de encantar… ou não”!

Catchupa d’Terra: a cultura de Cabo Verde em Portugal

A 10.ª edição do Catchupa d’Terra realiza-se já no próximo dia 17 de novembro, no Barrio Latino, em Lisboa.

Catchupa d’Terra é um evento desenhado e pensado por pessoas completamente apaixonadas pela cultura cabo-verdiana, para quem partilha deste mesmo gosto ou quer conhecer melhor as coisas boas que são criadas nas 10 ilhas vulcânicas da região central do Oceano Atlântico, a uns quantos quilómetros da costa da África Ocidental.

O ambiente é familiar, doce e acolhedor. Durante o jantar – de cachupa, tal como o nome faz entender -, ouvem-se agradáveis músicas tradicionais deste arquipélago. As pessoas convivem, fazem amigos e ainda têm oportunidade de ouvir um contador de histórias, algo tão usual em Cabo Verde de outrora e que agora volta a estar na moda.

Os organizadores e toda a sua equipa são disponíveis e focados em dar atenção aos clientes, para que todos se sintam acolhidos e confortáveis. Depois de tudo isto, começa o baile… e com direito a animação!

Em suma, Catchupa d’Terra é definida pelos seus organizadores, Waty Barbosa e Miguel Magalhães, como um evento que visa promover a cultura cabo-verdiana, nas vertentes da gastronomia, música e dança. Waty Barbosa está responsável pela cachupa rica e pelas sobremesas tão típicas da terra onde nasceu. A animação durante o baile está também a seu cargo.

Miguel Magalhães é responsável por toda a logística do evento e, sendo também o seu DJ residente, por toda a música que é passada durante o jantar (sobretudo, Morna e Coladeira), a festa (com clássicos de Coladeira, Kizomba, nos seus diferentes estilos, como seja Cabo Love, Cabo Retro e Cabo Zouk, e Funaná tradicional) e as animações de grupo (Funaná, Kola San Jon e Afrohouse, um ritmo de Angola).

O próximo Catchupa d’Terra vai realizar-se já no dia 17 de novembro, no Barrio Latino, em Lisboa, somando a assim a sua 10.ª edição. O preço dos bilhetes, que podem ser adquiridos aqui, é de 20 euros.

Um projeto com história e em crescimento

Um é cabo-verdiano, o outro português, ambos têm 41 anos e foi o gosto em comum pela kizomba e pela cachupa que os tornou amigos e mais tarde sócios – com a criação do Catchupa d’Terra, que assim que possível, será ainda mais do que um jantar seguido de festa.

Ambos consideram que juntos fazem a parceria ideal para a realização deste evento. “Cada um tem o seu conjunto de saberes, que não coincidem e, por isso, não há motivos de discussão. Completamo-nos!”, afirma Miguel Magalhães.

Sempre pensaram no Catchupa d’Terra como um evento cultural, onde iriam dar a conhecer a gastronomia, a música e a dança de Cabo Verde, no formato de jantar, seguido de festa. Contudo, o gosto e a vontade de partilha de tudo aquilo que é criado em Cabo Verde são tão grandes que, com a construção do site, feito com o objetivo de gerir a venda de bilhetes para o evento, surgiu também a ideia de usar a marca Catchupa d’Terra para desenvolver um espaço na Internet com informação acerca desta cultura.

“Um dos projetos que tenho, e que pelo que sei ainda não existe, é a criação de um dicionário de Crioulo cabo-verdiano/Português, Português/Crioulo cabo-verdiano. Além disso, existe a vontade de dar a conhecer outro tipo de personalidades, como pintores, artistas plásticos, escritores…”, enumera Miguel Magalhães. E avança: “Esta parte ainda não está posta em prática, mas está em projeto para completarmos aquilo que é a marca Catchupa d’Terra.”

Tudo começou, em 2013, numa aula de kizomba. Miguel era aluno de outro professor, que, na altura, precisou de se ausentar por uns dias. Waty Barbosa foi substituir o colega.

“Gostei logo da abordagem do Prof. Waty Barbosa, criei empatia, fui procurá-lo na academia em que dava aulas e passei a ser seu aluno”, recorda Miguel.

Na época, Waty explorava um bar em Santos, onde, todas as sextas-feiras, fazia cachupa. Miguel passou a frequentar e a dar a conhecer o espaço e, especialmente, o prato a vários amigos. “A Catchupa d’Terra vem muito do talento do Waty também como cozinheiro. Se a cachupa dele é diferente de todas as outras, para melhor, porque não aproveitar isso para dar a conhecer a gastronomia de Cabo Verde?!.”

Nestes “convívios de cachupa”, às sextas-feiras, fizeram-se muitos amigos. Waty e Miguel criaram uma grande amizade, tornando-se, mais tarde, sócios. “Por vezes, o Miguel dizia-me que tínhamos de fazer uma festa de cachupa e foi daí que surgiu a ideia”, lembra Waty.

Um dia, o professor de kizomba pediu ajuda a Miguel para organizar um evento solidário para a sua parceira de dança, que estava a passar por um problema grave de saúde. “O nosso primeiro evento não tinha nome, chamamos-lhe apenas jantar solidário. Correu bem, as pessoas gostaram, ficámos com uma ideia do trabalho que dá e com alguma experiência e resolvemos criar o Catchupa d’Terra”, conta Waty.

Waty Barbosa em Portugal há 20 anos

Professor de danças tradicionais de Cabo Verde, Waty Barbosa nasceu na Ilha de São Vicente. A sua mãe é da Ilha de São Nicolau e o pai da Ilha do Fogo. Aos 21 anos de idade, Waty Barbosa veio a Portugal, gostou e cá ficou. Faz 20 anos!

“A maioria dos cabo-verdianos crescem com a ideia de sair de Cabo Verde, de emigrar para ter uma vida melhor e ajudar a família que fica. Eu fui, mais ou menos, apanhado nessa onda”, diz Waty Barbosa. Mas acrescenta que, na realidade, o que o trouxe a Portugal foi a dança.

“Eu tinha um grupo multicultural de teatro e dança, que foi convidado para fazer animação no pavilhão de Cabo Verde, na Expo 98, e ainda num outro evento, com a duração de um mês, com o Grupo Preto no Branco, de Montemor-o-Velho, que já tinha estado em Cabo Verde”, recorda. E afirma: “Estive nessas ‘duas frentes’ e como tinha tios a viver em Peniche, resolvi ficar. Três meses depois mudei-me para Lisboa.”

Afirma ter gostado de Portugal. Caso contrário não teria ficado até hoje. Contudo, sentiu a diferença cultural. “É uma mudança que se sente, mas com 21 anos não se pensa muito nessas coisas. Estava a viver outra realidade e a gostar da experiência, por isso não foi muito difícil”, conta, confessando que, obviamente, tinha saudades da mãe e da sua comida, da família e dos amigos. “É por isso que usamos tanto a palavra ‘sodad’! Tive de me adaptar, demorou, mas habituei-me a viver a realidade de Lisboa.”

Atualmente, está mais dedicado ao seu trabalho na área da construção, razão pela qual dá cada vez menos aulas de dança. Contudo, e porque é algo que não quer deixar totalmente, vai dando umas aulas pontuais e participando em festivais. “Não quero parar, gosto de dar o meu contributo, de ajudar a ensinar às pessoas aquilo que considero que se deve saber para dançar socialmente”, indica.

Miguel Magalhães: um apaixonado por Cabo Verde

Miguel Magalhães nasceu e sempre viveu em Portugal. Não sabe de onde vem este seu gosto pela cultura Africana, sobretudo pela de Cabo Verde, mas acredita que o facto de a sua mãe ter nascido em Moçambique e de muita da sua família ter vivido em África possa ter influência.

“Talvez ter crescido a ouvir muitas histórias da minha família que emigrou para vários países de África, de ouvir música africana e de ver fotografias tenham criado em mim a simpatia que tenho pelo continente”, observa.

Enquanto DJ e apreciador de música, Miguel Magalhães recorda que começou a ouvir as primeiras kizombas cabo-verdianas, por volta do ano de 1998. Porém, naquela altura, não sabia a sua proveniência. “Agora, que sou conhecedor dos estilos e subgéneros, apercebo-me que as kizombas que gostava eram as de Cabo Verde”, diz. E desenvolve: “Normalmente são músicas mais românticas e, além disso, sou um apaixonado pelo crioulo. Acho que é um dialeto muito doce.”

Além de DJ, Miguel Magalhães trabalha em eventos, na área dos audiovisuais. E tem vindo a formar-se na área do Marketing Digital e da produção e organização de eventos.

Catchupa d’Terra e Histórias de encantar… ou não vão sortear um bilhete para a 10.ª edição do evento. Fica atento ao passatempo no facebook e concorre!

Scratching Surface

“Scratching Surface” é um dos murais criados, em 2007, pelo português Vhils, em parceria com o artista norte-americano Shepard Fairey, na zona da Graça, em Lisboa.

Amália Rodrigues (e eu)

A obra com o rosto de Amália Rodrigues, que podemos ver em Alfama, desde julho de 2015, foi criado pelo artista urbano Alexandre Farto, mais conhecido por Vhils, e concretizado por uma equipa de calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa.

Esta calçada vertical é como uma onda do mar, que começa no chão e sobe a parede, e tem uma particularidade: quando chove, a imagem de Amália “chora”, como tantas vezes acontecia quando a fadista se emocionava em palco.

Ao conceber esta obra, o português Alexandre Farto Vhils pretendeu homenagear o fado, que nasceu na rua, mas também os calceteiros de Lisboa, os primeiros artistas urbanos da cidade.

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