Ser mãe é um sonho. Um desejo que a grande maioria das mulheres não está disposta a deixar de concretizar, mesmo tendo consciência que se trata de uma decisão que vai mudar a sua vida para sempre.
As bailarinas não são, obviamente, exceção. No entanto, quando engravidam, muitas têm medo de continuar a trabalhar, o que não deixa de ser algo natural e compreensível. O corpo muda, o equilíbrio, a elasticidade e a coordenação também. O medo de prejudicar o bebé impõe-se.
No entanto, nada é impossível e muitas bailarinas profissionais há que continuam a trabalhar até ao fim da gravidez. Mas atenção: nada deve ser feito sem autorização e acompanhamento médico, com cuidados redobrados no que respeita à alimentação e à atividade física, adaptando tudo o que for necessário.
VÍDEO GRAVADO DURANTE UMA AULA QUE JANDIRA BAPTISTA DEU COM O BAILARINO TARIK CHAND, NO “AT YOUR BEAT STUDIO”, EM LONDRES.
Jandira Baptista: a bailarina que dançou até ao final da gravidez
Bailarina profissional e professora de dança, Jandira Baptista escolheu viver este período da sua vida a trabalhar e a dançar até muito pouco tempo antes de dar à luz.
“Sinto-me bem, abençoada e inspirada! Ansiosa por ter a minha pequena em meus braços”, disse a mais recente mamã, aquando da nossa conversa, uns dias antes da sua filha Zoe nascer. E continua: “Quando olho para trás orgulho-me, estou em paz. Tenho muito que fazer, mas estou ciente de que sou capaz e de que ser mãe me dá ainda mais força.”
Jandira nasceu em Portugal, há 33 anos. Há cerca de 10 meses mudou-se para Londres, com o objetivo de dançar muito e crescer ainda mais enquanto bailarina e professora de dança. Escusado será dizer que a gravidez não foi, de todo, programada e que era algo que, na altura, não esperava.
Soube que ia ser mãe já em Londres, com três meses de gestação. “Penso que foi a adrenalina e a ansiedade da mudança que não me deixaram perceber antes. Estava a preparar-me para trabalhar fora do meu país, para fazer audições, treinar, entre muitas outras coisas”, conta.
Sentiu-se a 200% fora da sua zona de conforto: “Foi um misto de felicidade com pânico. Não estava sequer em minha casa. Tive inseguranças em relação à carreira, em como iria gerir este recomeço com a gravidez e, além disso, o fator idade também me deu que pensar… Saiu tudo diferente daquilo que tinha planeado, mas aceitei. Ser mãe sempre fez parte dos meus sonhos, tomei a decisão de seguir em frente e, rapidamente, tudo se tornou secundário.”
Dançar é uma forma de esquecer os sintomas da gravidez
Para a bailarina, trabalhar grávida é “viver um dia de cada vez”, consciente que de há dias melhores e piores, alguns cansativos e stressantes. Mas, nem tudo é mau, dançar foi uma forma de se abstrair dos sintomas da gravidez e de estar ativa. A partir dos cinco meses abrandou, passou a trabalhar entre dois a três dias por semana e, no final, apenas um dia. Porém, sem nunca deixar de treinar. Deu aulas sem dificuldade, sentiu-se sempre bem, até porque “é algo natural” para si. No final de cada sessão, sentia que “toda a energia desaparecia”.
A pequena Zoe nasceu em Londres, no dia 11 de junho. É filha do bailarino Edgar Carvalho, que se mudou com Jandira para a capital do Reino Unido.
Para terminar, a mãe da Zoe deixa uma mensagem de otimismo: “Não tenham medo. Só paramos se quisermos. É preciso muita disciplina e vontade, mas tudo se faz. Somos privilegiadas, porque o que fazemos permite-nos conciliar o nosso trabalho com a maternidade e com o estar mais tempo com a criança. Agrada-me a ideia de ir ensaiar ou de ir dar aulas e levar a minha pequena. Façam por relaxar e respeitar cada fase. Aproveitem para aprender a fazer outras coisas. Observem os outros a dançar, o movimento. Financeiramente, se possível, é bom ter ‘um pé de meia’, para este tipo de surpresas, excelentes! Senão, há sempre solução.”
A história de Jandira
“Dança significa vida” Jandira Baptista dança desde sempre. Cresceu num ambiente de DJ’s e bailarinos. Porém, a nível profissional, iniciou-se tarde, aos 22 anos. Pensava que o futuro lhe reservava uma carreira enquanto estilista ou ligada à política, isto porque desenhava roupa e fazia desenho de observação a óleo e, também, porque o seu avô era empresário e diplomata, acabando por captar o seu interesse para as políticas sociais e de sustentabilidade.
A sua carreira na dança começou quando, finalmente, decidiu enfrentar o medo de participar em competições. Foi-se destacando e ganhando prémios em eventos nacionais e internacionais, conhecendo pessoas na área e sendo convidada para dar aulas. Tudo aconteceu naturalmente. Começou a viajar através da dança e a organizar eventos e workshops como forma de contribuir para o desenvolvimento da comunidade em Portugal.
Dança um pouco de tudo e, atualmente, dá, sobretudo, aulas de Hip Hop, House, Waacking, Popping e High Heels.
Foi com o seu sorriso largo, carisma, humildade, energia, cómica forma de estar e, obviamente, com o seu talento enquanto bailarino, que Fábio Jorge, mais conhecido por Fábio Krayze, conquistou o coração dos portugueses, durante a sua participação no programa de talentos “Achas que sabes dançar?”, há cerca de quatro anos.
No dia em que fizemos esta entrevista, encontrámo-nos na zona de Santos, onde Fábio dá aulas. Era noite, estava frio, mas acabámos sentados a conversar junto ao Tejo. Com vista privilegiada para a Ponte 25 de Abril.
Fábio nasceu em Luanda, em agosto de 1988. Veio para Portugal aos 13 anos. E recorda com nostalgia os tempos de infância, o bairro pobre onde viveu, a família, os amigos, as brincadeiras e as danças de rua. Era mesmo muito feliz. Sente saudade. Porém, se lhe perguntarmos se quer voltar, diz que não.
É de poucas palavras, mas respondeu a tudo o que lhe foi perguntado. Sempre com sentido de humor e com um enorme brilho nos olhos. Afirma-se tímido. Mas não parece! É “muito mais” que kudurista, não gosta desse rótulo. É bailarino! A dança é sem dúvida a sua vida, no entanto quer apostar também na música. É um sonho.
Na sua opinião, Portugal tem bailarinos de muito talento. Contudo, lamenta que no nosso país não haja o empenho e o rigor que existe noutros locais da Europa, em relação à formação e ao treino intensivo, sobretudo na área das Danças Urbanas.
Para o futuro, Fábio Jorge ambiciona “apenas” uma coisa: ser feliz.
Histórias – Fábio Krayze, de onde vem esta alcunha? Fábio – Vem do tempo do secundário, da altura em que pertencia ao grupo Pupilos do Kuduro. Um deles começou a chamar-me Crazy Frog, porque eu era muito irrequieto! Com o tempo “perdi o frog” e passei a ser Krayze.
Histórias – Continuas muito irrequieto? Fábio – Já não! Estou bem mais tranquilo…
Histórias – Esta alcunha combina com Kuduro, que é um estilo um pouco louco…Fábio – Louco, mas no bom sentido, atenção! Sim, tem tudo a ver, daí a ter mantido.
Histórias – Como é que explicas o que é Kuduro, a quem não conhece? Fábio – Numa linguagem mais leiga, eu definiria Kuduro como uma dança energética, divertida e com muito foot work. Para mim, além de alegria e explosão de energia, Kuduro significa vida e fuga.
Este estilo nasceu em Angola nos anos 80, altura da guerra. Era uma forma das crianças não estarem muito focadas nos problemas da violência e da fome… Dançávamos Kuduro para nos mantermos à parte de tudo isso. Era o nosso escape!
Histórias – Já se dança muito Kuduro em Portugal? Fábio – Dança, mas já se dançou mais! Quando vim para Portugal, em 2001, só se dançava Kuduro nos subúrbios. Mais tarde, tornou-se mainstream! A grande explosão da Kizomba, há cerca de quatro anos, acabou por trazer com ela o Kuduro e, nessa altura, havia mesmo muita gente a dançar.
Hoje em dia, o Afrohouse está mais na moda. Tem uma batida mais lenta, é mais melódico e, na generalidade, as pessoas gostam mais.
Histórias – És um pouco responsável por essa explosão? Fábio – Não!… No meio mainstream, talvez! A Blaya começou a dar aulas e acabou por me trazer também para o meio das academias de dança. Mas existem muito bons bailarinos de Kuduro, simplesmente não são conhecidos… Talvez a Blaya e eu tenhamos essa responsabilidade, sim!
Histórias – Quando te fiz esta pergunta pensei que ias falar dos Pupilos do Kuduro… Fábio – Também, mas os Pupilos do Kuduro davam espectáculos, faziam animações. As pessoas gostavam de assistir, mas não dançavam. Fizemos muita estrada, mas não pusemos ninguém a dançar.
Histórias – Como surgiram os Pupilos do Kuduro? Fábio – É uma história engraçada. Surgiram na altura do secundário. Fui a um casamento angolano, com muito Kuduro. Pensava que era o único que sabia dançar, comecei a dar o meu show e um primo afastado, que conheci nesse dia, começou a dançar também! Acabámos por criar uma espécie de competição, uma battle!
No dia seguinte, por acaso, encontrei-o. Andávamos na mesma escola, mas não sabíamos! Uma semana depois, convidou-me para fazer parte do grupo que estava a criar, os Pupilos do Kuduro. Éramos todos da mesma escola e ensaiávamos nos intervalos. Até hoje, creio que foi o único grupo de Kuduro que fazia coreografias do início ao fim das performances.
O Kuduro tem o freestyle como base. Nós fazíamos cerca de seis minutos de coreografia e acredito que marcámos por isso. Havia outros grupos que também o faziam, mas entre 30 a 60 segundos.
Histórias – O Kuduro de hoje é completamente diferente daquele que dançavas em Luanda. Como é que vês essa evolução? Fábio – É um misto de sentimentos. Evoluiu-se muito, porém há aspetos de que não gosto. O denominado “Kuduro moderno”, criado pelo grupo Pink 2 Toques, é muito rápido, mais do que a própria música. É bom, gosto de ver, mas não me sinto confortável a dançar. Nasci na época do “Kuduro antigo”, que também era rápido, mas dançado ao ritmo da música.
A História de Fábio
Histórias – Estás em Portugal há 17 anos. O que mais recordas de Luanda? Fábio – É difícil!… Lembro-me bem do sítio onde morava, o bairro Marçal, na periferia de Luanda. Era muito degradado. Recordo-me da minha casa, não sei como consegui viver naquelas condições… Mas vivi e era mesmo muito feliz! E lembro-me das brincadeiras, não havia electricidade e, por isso, íamos todos para a rua, até às 22h00, 23h00.
Histórias – Tens saudades? Fábio – Muitas! Mas não é aquela saudade de querer voltar. Sinto-me nostálgico quando me lembro desses tempos, da família, dos amigos e de como era feliz. Se me perguntarem se quero voltar, claramente não.
Histórias – Como foi para um miúdo de 13 anos vir viver para Portugal? Fábio – O meu pai viaja muito, trabalha nas Linhas Aéreas de Angola, e sempre falou de Portugal. Eu era um miúdo que ainda não sabia nada da vida, que estava a tornar-se um jovem, fiquei deslumbrado.
Pensar que ia andar de avião e que vinha para outro país foi uma emoção. Quando cheguei, vi supermercados enormes!… Fiquei de boca aberta, no meu bairro não havia nada parecido!
Além disso, havia uma loja que se chamava Fábio Lucci! FÁBIO Lucci! A loja tinha o meu nome! Achava surreal… E foi fácil fazer amizades, enturmei-me muito bem…
Celebra-se hoje o Dia Mundial da Dança
Histórias – Não danças só Kuduro? Fábio – Não danço só Kuduro e acho muito importante frisar isso, porque estou rotulado como o Fábio Krayze do Kuduro. Obviamente, danço outros estilos dentro das Danças Urbanas, como Hip Hop, Locking, Popping… Gosto de salientar que sou muito mais do que Kudurista, sou bailarino. Aliás, o Hip Hop influência muito o meu Kuduro.
História – Como vês a evolução das Danças Urbanas em Portugal? Fábio – Na altura em que comecei nas Danças Urbanas cá em Portugal, o país já estava num patamar muito bom. Faziam-se muitas battles e já existiam excelentes bailarinos.
Com o passar dos anos, Portugal evoluiu ainda mais e, atualmente, tudo o que se faz de bom lá fora, nos EUA, também é feito cá. Além disso, há muita gente a querer fazer Street Dance.
Penso que os programas de televisão ajudaram nesse sentido, porque vieram desmistificar estes estilos, que obviamente não são só para “miúdos de bairro”, são para quem gostar e quiser dançar. Hoje em dia, a comunidade das Danças Urbanas é muito maior e essa é uma das grandes evoluções.
Histórias – Os nossos bailarinos estão ao mesmo nível dos de outros países da Europa ou dos EUA? Fábio – Não!… Portugal tem bailarinos com muito talento e de muita qualidade, provavelmente até mais do que muitos outros países. Porém, não temos metodologia, nem treino. Não somos rigorosos, somos demasiados descontraídos e um pouco relaxados.
Não tenho dúvidas de que temos qualidade e talento e a grande bailarina Diana Matos, que fez a tour com o Justin Timberlake, é um exemplo disso. Hoje é um nome de referência nos EUA, mas teve de ir para fora.
Não temos o rigor dos países da Europa do Norte, por exemplo. Treinam várias horas por dia, todos os dias, e têm um plano muito bem definido para alcançarem os seus objetivos. É impossível que não se tornem melhores que nós!
Krayze dedica grande parte do seu tempo aos projetos profissionais
Histórias – Tornaste-te uma figura pública com as participações no programa “Achas que sabes dançar?”, da SIC, e na telenovela “A única mulher”, da TVI. A tua vida mudou muito desde essa altura? Fábio – Mudou completamente! O “Achas que sabes dançar?” permitiu-me dar “um grande salto”, não só em termos de conhecimento e treino em dança, mas também porque me trouxe muito trabalho. Só parei em 2018!
Tanto o programa, como a novela, entre 2015 e 2016, trouxeram-me muita coisa boa e abriram-me muitas portas. Naquela altura, sentia-me realizado. Sentia que estava num patamar em que já tinha alcançado muita coisa, apesar de saber que ainda havia muito por fazer.
Foi importante, porque tive muito trabalho e vivo, exclusivamente, da dança.
Histórias – O que mais te marcou nessa altura? Fábio – Com o “Achas que sabes dançar?” ensaiei, durante meses, de terça a domingo, e cresci muito enquanto bailarino. No entanto, depois do programa terminar, não tive tempo para continuar a evoluir, porque tive muito trabalho. Hoje, penso que podia ter aprendido mais e melhorado outros estilos.
Histórias – Voltavas a fazer tudo de novo? Fábio – Voltava a fazer tudo de novo. Mas, hoje, não voltava a participar.
Histórias – Como é estar em cima de um palco? Fábio – Não consigo explicar. São muitos sentimentos em simultâneo: medo, euforia, alegria… É inexplicável!
Histórias – É um motivo de ansiedade? Fábio – Sim! É pensar se vai correr bem. Em quem está a ver… É muita coisa, mas gosto mesmo muito de estar em palco.
Histórias – Também és professor de dança. Como é para ti dar aulas? Fábio – Ser professor é uma aprendizagem. Não basta saber os passos e a metodologia. É preciso conhecer-me a mim e aos outros e isso leva tempo.
Ou seja, não levo coreografias feitas em casa para as aulas de Kuduro e de Afrohouse, porque não sei quem vou encontrar. Não gosto de terminar uma aula com a sensação que metade dos alunos não acompanhou, sequer, os primeiros oito tempos! Saio triste e frustrado.
Deixei de coreografar em casa, crio apenas uma base e vou construindo na sala de aula, porque vou percebendo as dificuldades. Isto leva tempo e é por isso que digo que ser professor não é fácil.
Por outro lado, é muito gratificante, pela visível evolução dos alunos e pelas palavras que alguns me dizem. Ao início, passei por uma fase em que não me apetecia dar aulas. Agora gosto e sei que é isto que quero fazer diariamente.
Histórias – Que estilos dás? Fábio – Neste momento, Hip Hop, na minha escola, a KRZESchool, e Kuduro, na Jazzy Dance Studios.
Fábio e Iara Núria
Histórias – Fala-nos da KRZESchool. Fábio – Criei a KRZESchool, oficialmente há três anos, com a minha irmã, Iara Núria. Situa-se em Rio de Mouro. Há muito tempo que tinha este projeto em mente, porque sempre quis ter uma escola de dança, para poder continuar a trabalhar na área, quando já não puder dar aulas. Ninguém melhor do que a Iara para entrar neste projeto comigo.
Quando começámos tínhamos apenas um aluno! Atualmente, temos cerca de 80 e, cada vez, mais estilos: Ballet, Contemporâneo, Salsa e vários níveis de Hip Hip. Dentro de pouco tempo, vamos abrir mais aulas.
Histórias – Não há Kuduro? Fábio – Não. Talvez abra uma aula de AfroKuduro, em 2020. Até agora, não quis ter Kuduro, precisamente devido ao tal rótulo que me puseram. Quis mostrar que sei dançar outros estilos, dou aulas de Hip Hop.
Histórias – E o Krayze Show, que projeto é este? Fábio – Nasceu em 2018. Sempre gostei de cantar, mas só comecei a apostar nesta área desde o ano passado. Até então não tive tempo, nem me sentia à vontade. E ainda não sinto, fico um pouco envergonhado.
Duas pessoas que vieram da Eslovénia, que faziam as minhas aulas, gostaram das músicas e incentivaram-me a juntar o canto e a dança e a criar o projeto. Senti-me motivado e decidi apostar no Krayze Show, com músicas originais e muita dança.
Krayze Show: Guilherme Brak-Lamy, Igor Lima, Anisa Kete, Kaja Besednjak e Fábio
Atuámos no Rock in Rio Lisboa, em colaboração com a Jazzy Dance Studios, no Meo Sudoeste, e no O Sol da Caparica, em colaboração com a A Showit Dance Academy. Foi muito bom.
Histórias – Tens um álbum com as músicas do Krayze Show? Fábio – Não, é um EP. Quando marcámos os festivais, tinha muito poucas músicas, e gravei o “2018 or Nothing”, com seis músicas.
2018 foi o ano em que investi na música para perceber se era realmente o que queria. O título do EP significa que iria passar a dedicar-me apenas à dança, caso este trabalho não seguisse em frente.
Histórias – Depois disto, consideras-te mais músico ou bailarino? Fábio – Bailarino, claramente! Vou ser sempre bailarino, mas gostava muito de ser cantor.
Histórias – Tens uma “marca” de roupa… Fábio – Tenho, a KRZE. É uma marca que me define, representa diversão e energia. Neste momento, estou a recriá-la e a associá-la à KRZESchool. Vêm aí coisas boas!
Histórias – Como é que se pode adquirir? Fábio – Através do Instagram da KRZE ou pelo meu Facebook.
Histórias – Com tantos projetos, como é que geres o teu tempo? Fábio – Não sei! A minha vida está toda virada para os projetos. De facto, não tenho tempo nenhum para mim… Esta pergunta fez-me, agora, pensar nisso!
Histórias – Como é que te vês daqui a 20 anos? Fábio – 20 anos é muito tempo! Quero fazer muito mais música e continuar a dançar e a construir a minha escola, que é um trabalho que nunca acaba. Pessoalmente… Quero ser feliz!
Workshop de Afrohouse
Nota: as fotografias foram tiradas do Facebook de Fábio Krayze.
Já passavam uns minutos das 18h00, saí atribulada do trabalho, fui em passo acelerado até ao carro, que ainda estava longe, e segui em direção ao Clube Ferroviário. A aula era às 18h30 e não queria, por nada, chegar mais tarde! Era a minha primeira aula de Pole Dance…
Sim, finalmente fiz uma aula experimental de Pole Dance e devo agradecê-lo à instrutora Joana Silva, que teve a excelente iniciativa de me a oferecer, tal como a alguns leitores do Histórias de encantar… ou não!
Confesso que, até há poucas semanas, não tinha pensado experimentar! Amo dançar, mas quanto ao Pole Dance – apesar de sempre ter gostado de ver as performances, de achar lindo e “espetacular” – sempre achei que não era para mim. Pensei ser até impossível.
Se não tenho grandes problemas em termos de flexibilidade, no que diz respeito à força já não posso afirmar o mesmo. Porém, depois desta sessão percebi que não há impossíveis!
Obviamente, que fiz praticamente nada, mas entendi que apesar de não ser fácil, como já suspeitava, tudo é feito de uma forma muito gradual, com calma e com a ajuda da Joana.
Quando finalmente cheguei ao Clube Ferroviário, subi – com duas “colegas” que chegaram em simultâneo – até ao primeiro andar, onde se ia realizar a aula. Joana Silva recebeu-nos muito calmamente.
O espaço é grande, com muita luz natural. Preparámo-nos e sentámo-nos nos colchões a conversar com a nossa anfitriã, que queria saber que tipo de contacto tínhamos com o Pole Dance e o que nos levara até ali.
Passámos depois ao aquecimento, com exercícios de flexibilidade e de força – o meu calcanhar de Aquiles! E, de seguida, veio o tão esperado e, até engraçado, momento do varão. Os exercícios foram simples, os movimentos bonitos e femininos. Adorei! A Joana explicou tudo com muita calma e esteve sempre atenta e pronta a ajudar cada uma de nós.
Entre piadas e trocadilhos e enquanto nos íamos rindo de nós mesmas, acabámos por fazer todos os exercícios – a nossa dança do varão – e aquela 1h15 de aula passou num ápice!
A partir de agora o meu objetivo é muito simples: desafiar as leis da gravidade com a minha super força, fazer maravilhosas acrobacias, com a excelente flexibilidade que tenho, movimentos sensuais e flutuar, tal como a Joana Silva!… Sempre fui uma pessoa contida nos meus sonhos!
Muito obrigada à Joana pela entrevista e por esta oportunidade e a quem esteve, ontem, na aula. Grata também a todos os que participaram no passatempo.
Lê a entrevista a Joana Silva, pole dancer e instrutora de Pole Dance.
Como era de esperar, durante o Festival Andanças, em Castelo de vide, cruzei-me com o músico e professor de Danças Tradicionais Europeias, Matias, e não pude perder a oportunidade de o entrevistar. Sentados em dois fardos de palha, que se encontravam em frente à “barraquinha” da programação, falámos sobre a sua carreira profissional, o gosto que tem por esta área e os projetos nos quais está envolvido. Afirmando-se “totalmente dedicado à música e danças tradicionais”, Matias diz que a evolução da divulgação e promoção das mesmas, em Portugal , “tem sido muito gradual, porém positiva”. Encontrando-se “no bom caminho”.
Matias (foto tirada do Facebook do Festival Andanças)
Histórias – Participas no Andanças desde 2001. O que significa para ti este festival?Matias – Significa muito! Partilha, alegria, convivo… Associado à música e à dança tradicional, que é 100% deste festival. O objetivo do Andanças é manter a cultura e a tradição dos vários países e descobrir novos estilos de danças, de músicas e de sons. Tudo se cria e se recria!Este festival é como que uma terapia! O corpo fica muito cansado, mas a mente fica limpa. Aqui esquecemos o nosso dia-a-dia e há sempre muita descontração.
Histórias – És mais que um voluntário aqui no Andanças. Tens uma parceria de organização. Correto? Matias – Sim, tenho uma função diferente. O voluntário, que é muito importante neste festival, tem o seu turno de quatro horas diárias. Eu tenho de estar sempre disponível. Além de que, por estar envolvido na coordenação do festival, já estou a trabalhar desde março. Analiso e seleciono as candidaturas dos artistas, contacto-os, trato da programação e de tudo o resto… Viagens, custos, entre outras tarefas.
Histórias – Como é que surgiram as Danças Tradicionais Europeias na tua vida?Matias – Se pensar bem, tudo teve início em miúdo, quando comecei a dançar no rancho folclórico da minha freguesia, na Figueira da Foz. Em 2001, “cai de paraquedas” no Andanças. Pensava que era um festival de Salsa, mas era muito mais que isso. Era de danças tradicionais e a descoberta nasceu ali!
Histórias – Curioso, o início da tua vida profissional acaba por estar ligado ao Andanças?! Matias – Sim, quase que começou tudo ali!
Legenda: Algumas foto da Oficina de Danças Tradicionais Europeias, dada por Matias
Histórias – Fala-nos um pouco do teu percurso profissional? Matias – Tirei Engenharia Eletrotécnica, em Tomar, cidade onde exerci esta atividade durante nove anos. Nesse período, fui também conhecendo as danças tradicionais, assim como outras atividades, como ator, por exemplo. Numa ocasião, a Associação PédeXumbo convidou-me para ajudar na programação do Andanças e, a partir dai, a minha vida mudou. Já tinha criado a Tradballs, que, atualmente, é uma cooperativa cultural e comecei a dedicar-me mais a esta área… Hoje em dia, sou produtor, programador, músico, professor de danças e muito mais. Coloquei a Engenharia de parte e estou totalmente dedicado à música e à dança.
Histórias – Durante todo esse tempo de descoberta das diferentes danças, tiveste de fazer formação… Matias – Sim, fiz várias formações e workshops, com professores portugueses e estrangeiros. Fui aprendendo, cada vez mais, sobre as várias danças, as suas histórias e os métodos de ensino, assim como a desenvolver o meu próprio método de ensinar e de lidar com estas danças.
Histórias – Não tens saudades da Engenharia? Matias – Tenho. Claro que sim. É uma área muito interessante. Tenho saudades da atividade em si, daquilo que fazia. Não dos horários rígidos, que obviamente são importantes em todo o lado, mas…
Histórias – A Tradballs foi criada em 2005. Quais os objetivos desta cooperativa?Matias – São muito simples, basicamente passam por dar continuidade ao trabalho que a Associação PédeXumbo já fez: divulgar e promover, cada vez mais, as Danças Tradicionais Europeias. Focamo-nos nas danças europeias, não estamos com as africanas, americanas, nem brasileiras. Estamos sediados em Lisboa, onde fazemos o nosso maior trabalho de divulgação. Porém, claro que, sendo contactados, vamos a outras zonas do país. Desde há alguns anos, temos também parcerias com juntas de freguesia e câmaras municipais, que contam connosco para os seus eventos. Damos aulas de dança em Lisboa, no Teatro da Luz, às segundas e terças-feiras. Às quartas, estamos na Fábrica Braço de Prata com as “Tertúlias TRAD”, onde os alunos podem colocar em prática o que vão aprendendo. Uma vez por mês é com música ao vivo. A cada 15 dias, consoante a agenda, realizamos um evento de Danças Tradicionais de Lisboa, que podem ter lugar no Teatro da Luz, no Teatro Ibérico ou no Museu de Arte Popular. Temos ainda a fusão das aulas com os bailes, ou seja, os festivais. Em Lisboa, organizamos o “FEST-i-BALL”, nos finais de março e de outubro. No final de junho, o “Festival Raiz d’Aldeia”, na Aldeia de Xisto, em Janeiro de Cima, concelho do Fundão. Fazemos, ainda, em dezembro/janeiro, em Coimbra, o “Festival da Passagem d’Ano”. E, além disso, temos uma parceria com a Câmara Municipal de Tavira, a fim de participarmos na Feira da Dieta Mediterrânica, que se realiza sempre na primeira semana de setembro.
Histórias – E o grupo musical Fulano, Beltrano & Sicrano, como é que surgiu? Matias – Surgiu de uma forma muito engraçada. O beltrano, Vicente Camilo, acordeonista, começou a dar espetáculos a solo. Entretanto, entre conversas, fui fazer um concerto com ele, tendo surgido o grupo Fulano e Beltrano. Eu, como fulano, com a precursão e ensino das danças. Passado um ano, encontrámos o nosso amigo, David Rodrigues, com a sua guitarra, e nasceu o trio Fulano, Beltrano & Sicrano!
Histórias– Quando é que descobriste também este teu dom musical? Matias – Descobri por acaso! Tenho muito mais formação em dança do que em música, mas fui sempre colaborando, mantendo contactos e trocando ideias com músicos. Fui vendo e analisando como é que tocam e arrisquei um pouco. Troquei algumas impressões e aprofundei. Nem me considero músico. Toco e estou muito ligado à precursão, porque está relacionada com o ritmo, que, para mim, é muito interessante! Mas, não consigo tocar outros instrumentos.
Histórias – E o jam.pt? Matias – Também surgiu de forma engraçada e muito caricata! Os outros dois músicos são do Porto. O João toca violino e o Abel, concertina e guitarra. Eu estou na precursão, claro. E o nome “jam.pt”, está mesmo a ver-se como surgiu: “j” de João, “a” de Abel e “m” de Matias.”pt”, de Portugal! Fui contactado por uns amigos de França, que queriam que fosse dar um workshop de danças portuguesas, mas pediram-me que levasse, músicos para fazer um baile. Lembrei-me deles e liguei-lhes. Mais tarde, candidatei-me para ir a um festival, também em França. Fui selecionado e perguntei ao Abel e ao João se queriam participar. Foi nessa altura que seguimos em frente com o grupo.
Histórias – Com tantos projetos, como é que geres o teu tempo? Matias – Consegue-se gerir. Somos uma espécie de freelancers. Não temos horários rígidos e vamo-nos organizando. Umas vezes, tenho todos os dias da semana e do fim de semana ocupados. Outras, não. Mas gere-se! Com os Fulano, Beltrano & Sicrano é mais simples porque estamos todos em Lisboa e, facilmente, ensaiamos. Com os jam.pt, inicialmente, tínhamos de nos encontrar para trabalhar. Agora, já é possível fazer apenas revisões de alguns temas antes dos concertos.
Histórias – Como avalias a divulgação e a promoção da música e das danças tradicionais em Portugal? Matias – Estão no bom caminho! Por vezes, perguntam-me por que é que as danças tradicionais não são mais divulgadas ou por que razão não se realiza mais festivais e bailes por todo o país. Por muito que tentemos explicar às pessoas o que são danças tradicionais, não é fácil. É preciso arranjar sinónimos ou fazer comparações que, na realidade, não são totalmente verdadeiras. Ou seja, só se consegue explicar, convidando as pessoas a participar, a ver e a discutir. Só assim é que se vai conseguir. Ou seja, não é apenas com a divulgação, porque ao ouvirem falar em danças tradicionais, as pessoas associam a rancho ou a pimba, o que não é verdade! Esta evolução tem sido muito gradual. Porém, positiva, porque não houve um boom, de um dia para o outro. Tem sido passo a passo. Há uns anos, pensávamos que, com o tempo, íamos ter cada vez mais gente. E realmente temos, mas quem participa nestas atividades, fá-lo durante dois ou três anos e sai, segue outros caminhos e, em simultâneo, novas pessoas vão entrando. Tal como o tema, deste ano, do Andanças, é uma “roda viva”, que está sempre a ser renovada.
Histórias – Que projetos tens para o futuro? Matias – Continuar a fazer o mesmo trabalho, se possível mais e melhor. De qualquer forma, se conseguirmos manter as coisas como estão, já é muito bom!
Tal como a escrita, para mim a dança é das melhores formas de expressão. Dançar é deixar fluir o movimento do corpo e a sua energia sem ter de pensar em nada, mas, ainda assim, transmitindo tudo o que me vai na alma. Dançar é ser feliz. É fazer poesia com o corpo!
Um dos pontos altos do meu mês de agosto é o Festival Andanças, que, este ano, se realiza de 1 a 5, em Castelo de Vide, com o tema “Roda Viva”. Não perco!
Para quem não sabe, o Andanças define-se como um festival em movimento e em constante evolução. Onde se dança, se ouve e toca música, se aprende. Onde se partilham tradições e saberes numa atmosfera de comunidade.
Completamente distinto de qualquer outro festival, o Andanças é, acima de tudo, “conexão”, não apenas entre os corpos que se “misturam” no “silencio da música que toca”, mas sobretudo com a terra, com a natureza. O Andanças é arte, alegria, partilha. É variedade, é aprendizagem, é amizade. É amor pela arte nas suas mais diversas vertentes, pela diversidade, pelo planeta. O Andanças é feito de momentos mágicos que a minha memória não esquece e guarda para toda a vida!
O festival recebe músicos e bailarinos do mundo inteiro. De dia, há oficinas de dança, massagens, artesanato, entre outros. À noite, bailes e concertos onde se experimentam passos, ritmos e melodias, a par ou em roda.
Curiosamente, além de reunir pessoas e culturas de todos os cantos do mundo, o que é maravilhoso, no Andanças vêem-se também pessoas de todas as idades, desde bebés aos mais idosos.
Se não conhecem, deviam ir. Eu aproveito, todos os anos, para repôr energia e colocar as ideias no sítio, mesmo sem pensar em nada. Entrar em outra dimensão, sentir-me livre e esquecer o mundo.
“Em Roda Viva o movimento é continuo. Damos as mãos e fechamos a roda, unimo-nos, giramos sobre o nosso corpo e sobre o nosso par, dançamos sem parar. Construímos e evoluímos, aprendemos. Mudamos de lugar e continuamos o trajeto, viajamos, partimos, chegamos. E começa uma nova dança.”
Informações no site e no facebook oficiais do Andanças