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Fábio Krayze: “Sou muito mais que kudurista. Sou bailarino”

Celebra-se hoje o Dia Mundial da Dança

Foi com o seu sorriso largo, carisma, humildade, energia, cómica forma de estar e, obviamente, com o seu talento enquanto bailarino, que Fábio Jorge, mais conhecido por Fábio Krayze, conquistou o coração dos portugueses, durante a sua participação no programa de talentos “Achas que sabes dançar?”, há cerca de quatro anos.

No dia em que fizemos esta entrevista, encontrámo-nos na zona de Santos, onde Fábio dá aulas. Era noite, estava frio, mas acabámos sentados a conversar junto ao Tejo. Com vista privilegiada para a Ponte 25 de Abril.

Fábio nasceu em Luanda, em agosto de 1988. Veio para Portugal aos 13 anos. E recorda com nostalgia os tempos de infância, o bairro pobre onde viveu, a família, os amigos, as brincadeiras e as danças de rua. Era mesmo muito feliz. Sente saudade. Porém, se lhe perguntarmos se quer voltar, diz que não.

É de poucas palavras, mas respondeu a tudo o que lhe foi perguntado. Sempre com sentido de humor e com um enorme brilho nos olhos. Afirma-se tímido. Mas não parece! É “muito mais” que kudurista, não gosta desse rótulo. É bailarino! A dança é sem dúvida a sua vida, no entanto quer apostar também na música. É um sonho.

Na sua opinião, Portugal tem bailarinos de muito talento. Contudo, lamenta que no nosso país não haja o empenho e o rigor que existe noutros locais da Europa, em relação à formação e ao treino intensivo, sobretudo na área das Danças Urbanas.

Para o futuro, Fábio Jorge ambiciona “apenas” uma coisa: ser feliz.

Histórias – Fábio Krayze, de onde vem esta alcunha?
Fábio – Vem do tempo do secundário, da altura em que pertencia ao grupo Pupilos do Kuduro. Um deles começou a chamar-me Crazy Frog, porque eu era muito irrequieto! Com o tempo “perdi o frog” e passei a ser Krayze.

Histórias – Continuas muito irrequieto?
Fábio – Já não! Estou bem mais tranquilo…

Histórias – Esta alcunha combina com Kuduro, que é um estilo um pouco louco…Fábio – Louco, mas no bom sentido, atenção! Sim, tem tudo a ver, daí a ter mantido.

Histórias – Como é que explicas o que é Kuduro, a quem não conhece?
Fábio – Numa linguagem mais leiga, eu definiria Kuduro como uma dança energética, divertida e com muito foot work. Para mim, além de alegria e explosão de energia, Kuduro significa vida e fuga.

Este estilo nasceu em Angola nos anos 80, altura da guerra. Era uma forma das crianças não estarem muito focadas nos problemas da violência e da fome… Dançávamos Kuduro para nos mantermos à parte de tudo isso. Era o nosso escape!

Histórias – Já se dança muito Kuduro em Portugal?
Fábio –
Dança, mas já se dançou mais! Quando vim para Portugal, em 2001, só se dançava Kuduro nos subúrbios. Mais tarde, tornou-se mainstream! A grande explosão da Kizomba, há cerca de quatro anos, acabou por trazer com ela o Kuduro e, nessa altura, havia mesmo muita gente a dançar.

Hoje em dia, o Afrohouse está mais na moda. Tem uma batida mais lenta, é mais melódico e, na generalidade, as pessoas gostam mais.

Histórias – És um pouco responsável por essa explosão?
Fábio – Não!… No meio mainstream, talvez! A Blaya começou a dar aulas e acabou por me trazer também para o meio das academias de dança. Mas existem muito bons bailarinos de Kuduro, simplesmente não são conhecidos… Talvez a Blaya e eu tenhamos essa responsabilidade, sim!

Histórias – Quando te fiz esta pergunta pensei que ias falar dos Pupilos do Kuduro… Fábio – Também, mas os Pupilos do Kuduro davam espectáculos, faziam animações. As pessoas gostavam de assistir, mas não dançavam. Fizemos muita estrada, mas não pusemos ninguém a dançar.

Histórias – Como surgiram os Pupilos do Kuduro?
Fábio – É uma história engraçada. Surgiram na altura do secundário. Fui a um casamento angolano, com muito Kuduro. Pensava que era o único que sabia dançar, comecei a dar o meu show e um primo afastado, que conheci nesse dia, começou a dançar também! Acabámos por criar uma espécie de competição, uma battle!

No dia seguinte, por acaso, encontrei-o. Andávamos na mesma escola, mas não sabíamos! Uma semana depois, convidou-me para fazer parte do grupo que estava a criar, os Pupilos do Kuduro. Éramos todos da mesma escola e ensaiávamos nos intervalos. Até hoje, creio que foi o único grupo de Kuduro que fazia coreografias do início ao fim das performances.

O Kuduro tem o freestyle como base. Nós fazíamos cerca de seis minutos de coreografia e acredito que marcámos por isso. Havia outros grupos que também o faziam, mas entre 30 a 60 segundos.

Histórias – O Kuduro de hoje é completamente diferente daquele que dançavas em Luanda. Como é que vês essa evolução?
Fábio – É um misto de sentimentos. Evoluiu-se muito, porém há aspetos de que não gosto. O denominado “Kuduro moderno”, criado pelo grupo Pink 2 Toques, é muito rápido, mais do que a própria música. É bom, gosto de ver, mas não me sinto confortável a dançar. Nasci na época do “Kuduro antigo”, que também era rápido, mas dançado ao ritmo da música.

A História de Fábio

Histórias – Estás em Portugal há 17 anos. O que mais recordas de Luanda?
Fábio – É difícil!… Lembro-me bem do sítio onde morava, o bairro Marçal, na periferia de Luanda. Era muito degradado. Recordo-me da minha casa, não sei como consegui viver naquelas condições… Mas vivi e era mesmo muito feliz! E lembro-me das brincadeiras, não havia electricidade e, por isso, íamos todos para a rua, até às 22h00, 23h00.

Histórias – Tens saudades?
Fábio – Muitas! Mas não é aquela saudade de querer voltar. Sinto-me nostálgico quando me lembro desses tempos, da família, dos amigos e de como era feliz. Se me perguntarem se quero voltar, claramente não.

Histórias – Como foi para um miúdo de 13 anos vir viver para Portugal?
Fábio – O meu pai viaja muito, trabalha nas Linhas Aéreas de Angola, e sempre falou de Portugal. Eu era um miúdo que ainda não sabia nada da vida, que estava a tornar-se um jovem, fiquei deslumbrado.

Pensar que ia andar de avião e que vinha para outro país foi uma emoção. Quando cheguei, vi supermercados enormes!… Fiquei de boca aberta, no meu bairro não havia nada parecido!

Além disso, havia uma loja que se chamava Fábio Lucci! FÁBIO Lucci! A loja tinha o meu nome! Achava surreal… E foi fácil fazer amizades, enturmei-me muito bem…

Celebra-se hoje o Dia Mundial da Dança

Histórias – Não danças só Kuduro?
Fábio – Não danço só Kuduro e acho muito importante frisar isso, porque estou rotulado como o Fábio Krayze do Kuduro. Obviamente, danço outros estilos dentro das Danças Urbanas, como Hip Hop, Locking, Popping… Gosto de salientar que sou muito mais do que Kudurista, sou bailarino. Aliás, o Hip Hop influência muito o meu Kuduro.

História – Como vês a evolução das Danças Urbanas em Portugal?
Fábio – Na altura em que comecei nas Danças Urbanas cá em Portugal, o país já estava num patamar muito bom. Faziam-se muitas battles e já existiam excelentes bailarinos.

Com o passar dos anos, Portugal evoluiu ainda mais e, atualmente, tudo o que se faz de bom lá fora, nos EUA, também é feito cá. Além disso, há muita gente a querer fazer Street Dance.

Penso que os programas de televisão ajudaram nesse sentido, porque vieram desmistificar estes estilos, que obviamente não são só para “miúdos de bairro”, são para quem gostar e quiser dançar. Hoje em dia, a comunidade das Danças Urbanas é muito maior e essa é uma das grandes evoluções.

Histórias – Os nossos bailarinos estão ao mesmo nível dos de outros países da Europa ou dos EUA?
Fábio – Não!… Portugal tem bailarinos com muito talento e de muita qualidade, provavelmente até mais do que muitos outros países. Porém, não temos metodologia, nem treino. Não somos rigorosos, somos demasiados descontraídos e um pouco relaxados.

Não tenho dúvidas de que temos qualidade e talento e a grande bailarina Diana Matos, que fez a tour com o Justin Timberlake, é um exemplo disso. Hoje é um nome de referência nos EUA, mas teve de ir para fora.

Não temos o rigor dos países da Europa do Norte, por exemplo. Treinam várias horas por dia, todos os dias, e têm um plano muito bem definido para alcançarem os seus objetivos. É impossível que não se tornem melhores que nós!

Krayze dedica grande parte
do seu tempo aos projetos profissionais

Histórias – Tornaste-te uma figura pública com as participações no programa “Achas que sabes dançar?”, da SIC, e na telenovela “A única mulher”, da TVI. A tua vida mudou muito desde essa altura?
Fábio – Mudou completamente! O “Achas que sabes dançar?” permitiu-me dar “um grande salto”, não só em termos de conhecimento e treino em dança, mas também porque me trouxe muito trabalho. Só parei em 2018!

Tanto o programa, como a novela, entre 2015 e 2016, trouxeram-me muita coisa boa e abriram-me muitas portas. Naquela altura, sentia-me realizado. Sentia que estava num patamar em que já tinha alcançado muita coisa, apesar de saber que ainda havia muito por fazer.

Foi importante, porque tive muito trabalho e vivo, exclusivamente, da dança.

Histórias – O que mais te marcou nessa altura?
Fábio – Com o “Achas que sabes dançar?” ensaiei, durante meses, de terça a domingo, e cresci muito enquanto bailarino. No entanto, depois do programa terminar, não tive tempo para continuar a evoluir, porque tive muito trabalho. Hoje, penso que podia ter aprendido mais e melhorado outros estilos.

Histórias – Voltavas a fazer tudo de novo?
Fábio – Voltava a fazer tudo de novo. Mas, hoje, não voltava a participar.

Histórias – Como é estar em cima de um palco?
Fábio – Não consigo explicar. São muitos sentimentos em simultâneo: medo, euforia, alegria… É inexplicável!

Histórias – É um motivo de ansiedade?
Fábio – Sim! É pensar se vai correr bem. Em quem está a ver… É muita coisa, mas gosto mesmo muito de estar em palco.

Histórias – Também és professor de dança. Como é para ti dar aulas?
Fábio – Ser professor é uma aprendizagem. Não basta saber os passos e a metodologia. É preciso conhecer-me a mim e aos outros e isso leva tempo.

Ou seja, não levo coreografias feitas em casa para as aulas de Kuduro e de Afrohouse, porque não sei quem vou encontrar. Não gosto de terminar uma aula com a sensação que metade dos alunos não acompanhou, sequer, os primeiros oito tempos! Saio triste e frustrado.

Deixei de coreografar em casa, crio apenas uma base e vou construindo na sala de aula, porque vou percebendo as dificuldades. Isto leva tempo e é por isso que digo que ser professor não é fácil.

Por outro lado, é muito gratificante, pela visível evolução dos alunos e pelas palavras que alguns me dizem. Ao início, passei por uma fase em que não me apetecia dar aulas. Agora gosto e sei que é isto que quero fazer diariamente.

Histórias – Que estilos dás?
Fábio –
Neste momento, Hip Hop, na minha escola, a KRZESchool, e Kuduro, na Jazzy Dance Studios.

Fábio e Iara Núria

Histórias – Fala-nos da KRZESchool.
Fábio – Criei a KRZESchool, oficialmente há três anos, com a minha irmã, Iara Núria. Situa-se em Rio de Mouro. Há muito tempo que tinha este projeto em mente, porque sempre quis ter uma escola de dança, para poder continuar a trabalhar na área, quando já não puder dar aulas. Ninguém melhor do que a Iara para entrar neste projeto comigo.

Quando começámos tínhamos apenas um aluno! Atualmente, temos cerca de 80 e, cada vez, mais estilos: Ballet, Contemporâneo, Salsa e vários níveis de Hip Hip. Dentro de pouco tempo, vamos abrir mais aulas.

Histórias – Não há Kuduro?
Fábio – Não. Talvez abra uma aula de AfroKuduro, em 2020. Até agora, não quis ter Kuduro, precisamente devido ao tal rótulo que me puseram. Quis mostrar que sei dançar outros estilos, dou aulas de Hip Hop.

Histórias – E o Krayze Show, que projeto é este?
Fábio – Nasceu em 2018. Sempre gostei de cantar, mas só comecei a apostar nesta área desde o ano passado. Até então não tive tempo, nem me sentia à vontade. E ainda não sinto, fico um pouco envergonhado.

Duas pessoas que vieram da Eslovénia, que faziam as minhas aulas, gostaram das músicas e incentivaram-me a juntar o canto e a dança e a criar o projeto. Senti-me motivado e decidi apostar no Krayze Show, com músicas originais e muita dança.

Krayze Show: Guilherme Brak-Lamy, Igor Lima, Anisa Kete, Kaja Besednjak e Fábio

Atuámos no Rock in Rio Lisboa, em colaboração com a Jazzy Dance Studios, no Meo Sudoeste, e no O Sol da Caparica, em colaboração com a A Showit Dance Academy. Foi muito bom.

Histórias – Tens um álbum com as músicas do Krayze Show?
Fábio – Não, é um EP. Quando marcámos os festivais, tinha muito poucas músicas, e gravei o “2018 or Nothing”, com seis músicas.

2018 foi o ano em que investi na música para perceber se era realmente o que queria. O título do EP significa que iria passar a dedicar-me apenas à dança, caso este trabalho não seguisse em frente.

Histórias – Depois disto, consideras-te mais músico ou bailarino?
Fábio – Bailarino, claramente! Vou ser sempre bailarino, mas gostava muito de ser cantor.

Histórias – Tens uma “marca” de roupa…
Fábio – Tenho, a KRZE. É uma marca que me define, representa diversão e energia. Neste momento, estou a recriá-la e a associá-la à KRZESchool. Vêm aí coisas boas!

Histórias – Como é que se pode adquirir?
Fábio – Através do Instagram da KRZE ou pelo meu Facebook.

Histórias – Com tantos projetos, como é que geres o teu tempo?
Fábio – Não sei! A minha vida está toda virada para os projetos. De facto, não tenho tempo nenhum para mim… Esta pergunta fez-me, agora, pensar nisso!

Histórias – Como é que te vês daqui a 20 anos?
Fábio –
20 anos é muito tempo! Quero fazer muito mais música e continuar a dançar e a construir a minha escola, que é um trabalho que nunca acaba. Pessoalmente… Quero ser feliz!

Workshop de Afrohouse

Nota: as fotografias foram tiradas do Facebook de Fábio Krayze.

Catchupa d’Terra: a cultura de Cabo Verde em Portugal

A 10.ª edição do Catchupa d’Terra realiza-se já no próximo dia 17 de novembro, no Barrio Latino, em Lisboa.

Catchupa d’Terra é um evento desenhado e pensado por pessoas completamente apaixonadas pela cultura cabo-verdiana, para quem partilha deste mesmo gosto ou quer conhecer melhor as coisas boas que são criadas nas 10 ilhas vulcânicas da região central do Oceano Atlântico, a uns quantos quilómetros da costa da África Ocidental.

O ambiente é familiar, doce e acolhedor. Durante o jantar – de cachupa, tal como o nome faz entender -, ouvem-se agradáveis músicas tradicionais deste arquipélago. As pessoas convivem, fazem amigos e ainda têm oportunidade de ouvir um contador de histórias, algo tão usual em Cabo Verde de outrora e que agora volta a estar na moda.

Os organizadores e toda a sua equipa são disponíveis e focados em dar atenção aos clientes, para que todos se sintam acolhidos e confortáveis. Depois de tudo isto, começa o baile… e com direito a animação!

Em suma, Catchupa d’Terra é definida pelos seus organizadores, Waty Barbosa e Miguel Magalhães, como um evento que visa promover a cultura cabo-verdiana, nas vertentes da gastronomia, música e dança. Waty Barbosa está responsável pela cachupa rica e pelas sobremesas tão típicas da terra onde nasceu. A animação durante o baile está também a seu cargo.

Miguel Magalhães é responsável por toda a logística do evento e, sendo também o seu DJ residente, por toda a música que é passada durante o jantar (sobretudo, Morna e Coladeira), a festa (com clássicos de Coladeira, Kizomba, nos seus diferentes estilos, como seja Cabo Love, Cabo Retro e Cabo Zouk, e Funaná tradicional) e as animações de grupo (Funaná, Kola San Jon e Afrohouse, um ritmo de Angola).

O próximo Catchupa d’Terra vai realizar-se já no dia 17 de novembro, no Barrio Latino, em Lisboa, somando a assim a sua 10.ª edição. O preço dos bilhetes, que podem ser adquiridos aqui, é de 20 euros.

Um projeto com história e em crescimento

Um é cabo-verdiano, o outro português, ambos têm 41 anos e foi o gosto em comum pela kizomba e pela cachupa que os tornou amigos e mais tarde sócios – com a criação do Catchupa d’Terra, que assim que possível, será ainda mais do que um jantar seguido de festa.

Ambos consideram que juntos fazem a parceria ideal para a realização deste evento. “Cada um tem o seu conjunto de saberes, que não coincidem e, por isso, não há motivos de discussão. Completamo-nos!”, afirma Miguel Magalhães.

Sempre pensaram no Catchupa d’Terra como um evento cultural, onde iriam dar a conhecer a gastronomia, a música e a dança de Cabo Verde, no formato de jantar, seguido de festa. Contudo, o gosto e a vontade de partilha de tudo aquilo que é criado em Cabo Verde são tão grandes que, com a construção do site, feito com o objetivo de gerir a venda de bilhetes para o evento, surgiu também a ideia de usar a marca Catchupa d’Terra para desenvolver um espaço na Internet com informação acerca desta cultura.

“Um dos projetos que tenho, e que pelo que sei ainda não existe, é a criação de um dicionário de Crioulo cabo-verdiano/Português, Português/Crioulo cabo-verdiano. Além disso, existe a vontade de dar a conhecer outro tipo de personalidades, como pintores, artistas plásticos, escritores…”, enumera Miguel Magalhães. E avança: “Esta parte ainda não está posta em prática, mas está em projeto para completarmos aquilo que é a marca Catchupa d’Terra.”

Tudo começou, em 2013, numa aula de kizomba. Miguel era aluno de outro professor, que, na altura, precisou de se ausentar por uns dias. Waty Barbosa foi substituir o colega.

“Gostei logo da abordagem do Prof. Waty Barbosa, criei empatia, fui procurá-lo na academia em que dava aulas e passei a ser seu aluno”, recorda Miguel.

Na época, Waty explorava um bar em Santos, onde, todas as sextas-feiras, fazia cachupa. Miguel passou a frequentar e a dar a conhecer o espaço e, especialmente, o prato a vários amigos. “A Catchupa d’Terra vem muito do talento do Waty também como cozinheiro. Se a cachupa dele é diferente de todas as outras, para melhor, porque não aproveitar isso para dar a conhecer a gastronomia de Cabo Verde?!.”

Nestes “convívios de cachupa”, às sextas-feiras, fizeram-se muitos amigos. Waty e Miguel criaram uma grande amizade, tornando-se, mais tarde, sócios. “Por vezes, o Miguel dizia-me que tínhamos de fazer uma festa de cachupa e foi daí que surgiu a ideia”, lembra Waty.

Um dia, o professor de kizomba pediu ajuda a Miguel para organizar um evento solidário para a sua parceira de dança, que estava a passar por um problema grave de saúde. “O nosso primeiro evento não tinha nome, chamamos-lhe apenas jantar solidário. Correu bem, as pessoas gostaram, ficámos com uma ideia do trabalho que dá e com alguma experiência e resolvemos criar o Catchupa d’Terra”, conta Waty.

Waty Barbosa em Portugal há 20 anos

Professor de danças tradicionais de Cabo Verde, Waty Barbosa nasceu na Ilha de São Vicente. A sua mãe é da Ilha de São Nicolau e o pai da Ilha do Fogo. Aos 21 anos de idade, Waty Barbosa veio a Portugal, gostou e cá ficou. Faz 20 anos!

“A maioria dos cabo-verdianos crescem com a ideia de sair de Cabo Verde, de emigrar para ter uma vida melhor e ajudar a família que fica. Eu fui, mais ou menos, apanhado nessa onda”, diz Waty Barbosa. Mas acrescenta que, na realidade, o que o trouxe a Portugal foi a dança.

“Eu tinha um grupo multicultural de teatro e dança, que foi convidado para fazer animação no pavilhão de Cabo Verde, na Expo 98, e ainda num outro evento, com a duração de um mês, com o Grupo Preto no Branco, de Montemor-o-Velho, que já tinha estado em Cabo Verde”, recorda. E afirma: “Estive nessas ‘duas frentes’ e como tinha tios a viver em Peniche, resolvi ficar. Três meses depois mudei-me para Lisboa.”

Afirma ter gostado de Portugal. Caso contrário não teria ficado até hoje. Contudo, sentiu a diferença cultural. “É uma mudança que se sente, mas com 21 anos não se pensa muito nessas coisas. Estava a viver outra realidade e a gostar da experiência, por isso não foi muito difícil”, conta, confessando que, obviamente, tinha saudades da mãe e da sua comida, da família e dos amigos. “É por isso que usamos tanto a palavra ‘sodad’! Tive de me adaptar, demorou, mas habituei-me a viver a realidade de Lisboa.”

Atualmente, está mais dedicado ao seu trabalho na área da construção, razão pela qual dá cada vez menos aulas de dança. Contudo, e porque é algo que não quer deixar totalmente, vai dando umas aulas pontuais e participando em festivais. “Não quero parar, gosto de dar o meu contributo, de ajudar a ensinar às pessoas aquilo que considero que se deve saber para dançar socialmente”, indica.

Miguel Magalhães: um apaixonado por Cabo Verde

Miguel Magalhães nasceu e sempre viveu em Portugal. Não sabe de onde vem este seu gosto pela cultura Africana, sobretudo pela de Cabo Verde, mas acredita que o facto de a sua mãe ter nascido em Moçambique e de muita da sua família ter vivido em África possa ter influência.

“Talvez ter crescido a ouvir muitas histórias da minha família que emigrou para vários países de África, de ouvir música africana e de ver fotografias tenham criado em mim a simpatia que tenho pelo continente”, observa.

Enquanto DJ e apreciador de música, Miguel Magalhães recorda que começou a ouvir as primeiras kizombas cabo-verdianas, por volta do ano de 1998. Porém, naquela altura, não sabia a sua proveniência. “Agora, que sou conhecedor dos estilos e subgéneros, apercebo-me que as kizombas que gostava eram as de Cabo Verde”, diz. E desenvolve: “Normalmente são músicas mais românticas e, além disso, sou um apaixonado pelo crioulo. Acho que é um dialeto muito doce.”

Além de DJ, Miguel Magalhães trabalha em eventos, na área dos audiovisuais. E tem vindo a formar-se na área do Marketing Digital e da produção e organização de eventos.

Catchupa d’Terra e Histórias de encantar… ou não vão sortear um bilhete para a 10.ª edição do evento. Fica atento ao passatempo no facebook e concorre!

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