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Matias: “Danças Tradicionais Europeias estão no bom caminho”

Como era de esperar, durante o Festival Andanças, em Castelo de vide, cruzei-me com o músico e professor de Danças Tradicionais Europeias, Matias, e não pude perder a oportunidade de o entrevistar.
Sentados em dois fardos de palha, que se encontravam em frente à “barraquinha” da programação, falámos sobre a sua carreira profissional, o gosto que tem por esta área e os projetos nos quais está envolvido.
Afirmando-se “totalmente dedicado à música e danças tradicionais”, Matias diz que a evolução da divulgação e promoção das mesmas, em Portugal , “tem sido muito gradual, porém positiva”. Encontrando-se “no bom caminho”.

Matias (foto tirada do Facebook do Festival Andanças)

Histórias – Participas no Andanças desde 2001. O que significa para ti este festival?Matias – Significa muito! Partilha, alegria, convivo… Associado à música e à dança tradicional, que é 100% deste festival. O objetivo do Andanças é manter a cultura e a tradição dos vários países e descobrir novos estilos de danças, de músicas e de sons. Tudo se cria e se recria!Este festival é como que uma terapia! O corpo fica muito cansado, mas a mente fica limpa. Aqui esquecemos o nosso dia-a-dia e há sempre muita descontração.

Histórias – És mais que um voluntário aqui no Andanças. Tens uma parceria de organização. Correto?
Matias –
Sim, tenho uma função diferente. O voluntário, que é muito importante neste festival, tem o seu turno de quatro horas diárias. Eu tenho de estar sempre disponível. Além de que, por estar envolvido na coordenação do festival, já estou a trabalhar desde março. Analiso e seleciono as candidaturas dos artistas, contacto-os, trato da programação e de tudo o resto… Viagens, custos, entre outras tarefas.

Histórias – Como é que surgiram as Danças Tradicionais Europeias na tua vida?Matias – Se pensar bem, tudo teve início em miúdo, quando comecei a dançar no rancho folclórico da minha freguesia, na Figueira da Foz. Em 2001, “cai de paraquedas” no Andanças. Pensava que era um festival de Salsa, mas era muito mais que isso. Era de danças tradicionais e a descoberta nasceu ali!

Histórias – Curioso, o início da tua vida profissional acaba por estar ligado ao Andanças?!
Matias –
Sim, quase que começou tudo ali!

Histórias – Fala-nos um pouco do teu percurso profissional?
Matias –
Tirei Engenharia Eletrotécnica, em Tomar, cidade onde exerci esta atividade durante nove anos. Nesse período, fui também conhecendo as danças tradicionais, assim como outras atividades, como ator, por exemplo. Numa ocasião, a Associação PédeXumbo convidou-me para ajudar na programação do Andanças e, a partir dai, a minha vida mudou.
Já tinha criado a Tradballs, que, atualmente, é uma cooperativa cultural e comecei a dedicar-me mais a esta área… Hoje em dia, sou produtor, programador, músico, professor de danças e muito mais.
Coloquei a Engenharia de parte e estou totalmente dedicado à música e à dança.

Histórias – Durante todo esse tempo de descoberta das diferentes danças, tiveste de fazer formação…
Matias –
Sim, fiz várias formações e workshops, com professores portugueses e estrangeiros. Fui aprendendo, cada vez mais, sobre as várias danças, as suas histórias e os métodos de ensino, assim como a desenvolver o meu próprio método de ensinar e de lidar com estas danças.

Histórias – Não tens saudades da Engenharia?
Matias –
Tenho. Claro que sim. É uma área muito interessante. Tenho saudades da atividade em si, daquilo que fazia. Não dos horários rígidos, que obviamente são importantes em todo o lado, mas…

Histórias – A Tradballs foi criada em 2005. Quais os objetivos desta cooperativa?Matias – São muito simples, basicamente passam por dar continuidade ao trabalho que a Associação PédeXumbo já fez: divulgar e promover, cada vez mais, as Danças Tradicionais Europeias. Focamo-nos nas danças europeias, não estamos com as africanas, americanas, nem brasileiras.
Estamos sediados em Lisboa, onde fazemos o nosso maior trabalho de divulgação. Porém, claro que, sendo contactados, vamos a outras zonas do país.
Desde há alguns anos, temos também parcerias com juntas de freguesia e câmaras municipais, que contam connosco para os seus eventos. Damos aulas de dança em Lisboa, no Teatro da Luz, às segundas e terças-feiras. Às quartas, estamos na Fábrica Braço de Prata com as “Tertúlias TRAD”, onde os alunos podem colocar em prática o que vão aprendendo. Uma vez por mês é com música ao vivo.
A cada 15 dias, consoante a agenda, realizamos um evento de Danças Tradicionais de Lisboa, que podem ter lugar no Teatro da Luz, no Teatro Ibérico ou no Museu de Arte Popular.
Temos ainda a fusão das aulas com os bailes, ou seja, os festivais. Em Lisboa, organizamos o “FEST-i-BALL”, nos finais de março e de outubro. No final de junho, o “Festival Raiz d’Aldeia”, na Aldeia de Xisto, em Janeiro de Cima, concelho do Fundão. Fazemos, ainda, em dezembro/janeiro, em Coimbra, o “Festival da Passagem d’Ano”. E, além disso, temos uma parceria com a Câmara Municipal de Tavira, a fim de participarmos na Feira da Dieta Mediterrânica, que se realiza sempre na primeira semana de setembro.

Histórias – E o grupo musical Fulano, Beltrano & Sicrano, como é que surgiu?
Matias –
Surgiu de uma forma muito engraçada. O beltrano, Vicente Camilo, acordeonista, começou a dar espetáculos a solo. Entretanto, entre conversas, fui fazer um concerto com ele, tendo surgido o grupo Fulano e Beltrano. Eu, como fulano, com a precursão e ensino das danças.
Passado um ano, encontrámos o nosso amigo, David Rodrigues, com a sua guitarra, e nasceu o trio Fulano, Beltrano & Sicrano!

Histórias– Quando é que descobriste também este teu dom musical?
Matias –
Descobri por acaso! Tenho muito mais formação em dança do que em música, mas fui sempre colaborando, mantendo contactos e trocando ideias com músicos. Fui vendo e analisando como é que tocam e arrisquei um pouco. Troquei algumas impressões e aprofundei.
Nem me considero músico. Toco e estou muito ligado à precursão, porque está relacionada com o ritmo, que, para mim, é muito interessante! Mas, não consigo tocar outros instrumentos.

Histórias – E o jam.pt?
Matias –
Também surgiu de forma engraçada e muito caricata! Os outros dois músicos são do Porto. O João toca violino e o Abel, concertina e guitarra. Eu estou na precursão, claro. E o nome “jam.pt”, está mesmo a ver-se como surgiu: “j” de João, “a” de Abel e “m” de Matias.”pt”, de Portugal!
Fui contactado por uns amigos de França, que queriam que fosse dar um workshop de danças portuguesas, mas pediram-me que levasse, músicos para fazer um baile. Lembrei-me deles e liguei-lhes.
Mais tarde, candidatei-me para ir a um festival, também em França. Fui selecionado e perguntei ao Abel e ao João se queriam participar. Foi nessa altura que seguimos em frente com o grupo.

Histórias – Com tantos projetos, como é que geres o teu tempo?
Matias –
Consegue-se gerir. Somos uma espécie de freelancers. Não temos horários rígidos e vamo-nos organizando. Umas vezes, tenho todos os dias da semana e do fim de semana ocupados. Outras, não.
Mas gere-se! Com os Fulano, Beltrano & Sicrano é mais simples porque estamos todos em Lisboa e, facilmente, ensaiamos. Com os jam.pt, inicialmente, tínhamos de nos encontrar para trabalhar. Agora, já é possível fazer apenas revisões de alguns temas antes dos concertos.

Histórias – Como avalias a divulgação e a promoção da música e das danças tradicionais em Portugal?
Matias –
Estão no bom caminho! Por vezes, perguntam-me por que é que as danças tradicionais não são mais divulgadas ou por que razão não se realiza mais festivais e bailes por todo o país.
Por muito que tentemos explicar às pessoas o que são danças tradicionais, não é fácil. É preciso arranjar sinónimos ou fazer comparações que, na realidade, não são totalmente verdadeiras. Ou seja, só se consegue explicar, convidando as pessoas a participar, a ver e a discutir.
Só assim é que se vai conseguir. Ou seja, não é apenas com a divulgação, porque ao ouvirem falar em danças tradicionais, as pessoas associam a rancho ou a pimba, o que não é verdade! Esta evolução tem sido muito gradual. Porém, positiva, porque não houve um boom, de um dia para o outro. Tem sido passo a passo.
Há uns anos, pensávamos que, com o tempo, íamos ter cada vez mais gente. E realmente temos, mas quem participa nestas atividades, fá-lo durante dois ou três anos e sai, segue outros caminhos e, em simultâneo, novas pessoas vão entrando. Tal como o tema, deste ano, do Andanças, é uma “roda viva”, que está sempre a ser renovada.

Histórias – Que projetos tens para o futuro?
Matias –
Continuar a fazer o mesmo trabalho, se possível mais e melhor. De qualquer forma, se conseguirmos manter as coisas como estão, já é muito bom!

Os festivaleiros do Andanças tiveram, este sábado, oportunidade de fazer, entre outros, um Workshop de Forró, com os professores Camila Alves e Enrique Matos, e de ficar assim conhecer um estilo de dança tão típico deste país, onde – mesmo situado outro lado do Atlântico – se fala Português – o Brasil.

Base um, base dois, base três, frente, trás, lado, rodopia, mas sem nunca perder a contagem – um, dois, três – arrasta pé. Foram alguns dos passos base dados por esta dupla de bailarinos, que fizeram “encher de muita gente” um dos palcos do festival.

No final do workshop, passado entre muito calor, mas debaixo de chuva – boa para refrescar – Camila e Enrique falaram sobre o Espaço Baião, em Lisboa, onde dão aulas, e dos eventos de Forró que organizam, às quartas-feiras, no Titanic Sur Mer, no Cais do Sodré, e aos domingos no Quiosque do Melhor Bolo de Chocolate do Mundo, na Av. da Liberdade, e brindaram-nos com uma demonstração da sua arte, dançando Forró. O brilho, a cumplicidade e a felicidade que sentem ao dançar, não passou despercebida.

Muitas palmas, cumprimentos. E assim se pode observar o carinho dos seus alunos habituais, que participaram ou assistiram ao workshop, assim como a admiração daqueles que ainda pouco sabem sobre Forró. Provavelmente, ficou a vontade de conhecer mais.

Não percam a grande entrevista a estes dois bailarinos, brevemente, no nosso blog.

Andanças: muito mais que um festival de dança

Tal como a escrita, para mim a dança é das melhores formas de expressão. Dançar é deixar fluir o movimento do corpo e a sua energia sem ter de pensar em nada, mas, ainda assim, transmitindo tudo o que me vai na alma. Dançar é ser feliz. É fazer poesia com o corpo!

Um dos pontos altos do meu mês de agosto é o Festival Andanças, que, este ano, se realiza de 1 a 5, em Castelo de Vide, com o tema “Roda Viva”. Não perco!

Para quem não sabe, o Andanças define-se como um festival em movimento e em constante evolução. Onde se dança, se ouve e toca música, se aprende. Onde se partilham tradições e saberes numa atmosfera de comunidade.

Completamente distinto de qualquer outro festival, o Andanças é, acima de tudo, “conexão”, não apenas entre os corpos que se “misturam” no “silencio da música que toca”, mas sobretudo com a terra, com a natureza. O Andanças é arte, alegria, partilha. É variedade, é aprendizagem, é amizade. É amor pela arte nas suas mais diversas vertentes, pela diversidade, pelo planeta. O Andanças é feito de momentos mágicos que a minha memória não esquece e guarda para toda a vida!

O festival recebe músicos e bailarinos do mundo inteiro. De dia, há oficinas de dança, massagens, artesanato, entre outros. À noite, bailes e concertos onde se experimentam passos, ritmos e melodias, a par ou em roda.

Curiosamente, além de reunir pessoas e culturas de todos os cantos do mundo, o que é maravilhoso, no Andanças vêem-se também pessoas de todas as idades, desde bebés aos mais idosos.

Se não conhecem, deviam ir. Eu aproveito, todos os anos, para repôr energia e colocar as ideias no sítio, mesmo sem pensar em nada. Entrar em outra dimensão, sentir-me livre e esquecer o mundo.

“Em Roda Viva o movimento é continuo. Damos as mãos e fechamos a roda, unimo-nos, giramos sobre o nosso corpo e sobre o nosso par, dançamos sem parar. Construímos e evoluímos, aprendemos. Mudamos de lugar e continuamos o trajeto, viajamos, partimos, chegamos. E começa uma nova dança.”

Informações no site e no facebook oficiais do Andanças

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