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Dança profissional e gravidez: sim, é possível

Ser mãe é um sonho. Um desejo que a grande maioria das mulheres não está disposta a deixar de concretizar, mesmo tendo consciência que se trata de uma decisão que vai mudar a sua vida para sempre.

As bailarinas não são, obviamente, exceção. No entanto, quando engravidam, muitas têm medo de continuar a trabalhar, o que não deixa de ser algo natural e compreensível. O corpo muda, o equilíbrio, a elasticidade e a coordenação também. O medo de prejudicar o bebé impõe-se.

No entanto, nada é impossível e muitas bailarinas profissionais há que continuam a trabalhar até ao fim da gravidez. Mas atenção: nada deve ser feito sem autorização e acompanhamento médico, com cuidados redobrados no que respeita à alimentação e à atividade física, adaptando tudo o que for necessário.

VÍDEO GRAVADO DURANTE UMA AULA QUE JANDIRA BAPTISTA DEU COM O BAILARINO TARIK CHAND, NO “AT YOUR BEAT STUDIO”, EM LONDRES.

Jandira Baptista:
a bailarina que dançou até ao final da gravidez

Bailarina profissional e professora de dança, Jandira Baptista escolheu viver este período da sua vida a trabalhar e a dançar até muito pouco tempo antes de dar à luz.

“Sinto-me bem, abençoada e inspirada! Ansiosa por ter a minha pequena em meus braços”, disse a mais recente mamã, aquando da nossa conversa, uns dias antes da sua filha Zoe nascer. E continua: “Quando olho para trás orgulho-me, estou em paz. Tenho muito que fazer, mas estou ciente de que sou capaz e de que ser mãe me dá ainda mais força.”

Jandira nasceu em Portugal, há 33 anos. Há cerca de 10 meses mudou-se para Londres, com o objetivo de dançar muito e crescer ainda mais enquanto bailarina e professora de dança. Escusado será dizer que a gravidez não foi, de todo, programada e que era algo que, na altura, não esperava.

Soube que ia ser mãe já em Londres, com três meses de gestação. “Penso que foi a adrenalina e a ansiedade da mudança que não me deixaram perceber antes. Estava a preparar-me para trabalhar fora do meu país, para fazer audições, treinar, entre muitas outras coisas”, conta.

Sentiu-se a 200% fora da sua zona de conforto: “Foi um misto de felicidade com pânico. Não estava sequer em minha casa. Tive inseguranças em relação à carreira, em como iria gerir este recomeço com a gravidez e, além disso, o fator idade também me deu que pensar… Saiu tudo diferente daquilo que tinha planeado, mas aceitei. Ser mãe sempre fez parte dos meus sonhos, tomei a decisão de seguir em frente e, rapidamente, tudo se tornou secundário.”

Dançar é uma forma de esquecer os sintomas da gravidez

Para a bailarina, trabalhar grávida é “viver um dia de cada vez”, consciente que de há dias melhores e piores, alguns cansativos e stressantes. Mas, nem tudo é mau, dançar foi uma forma de se abstrair dos sintomas da gravidez e de estar ativa. A partir dos cinco meses abrandou, passou a trabalhar entre dois a três dias por semana e, no final, apenas um dia. Porém, sem nunca deixar de treinar. Deu aulas sem dificuldade, sentiu-se sempre bem, até porque “é algo natural” para si. No final de cada sessão, sentia que “toda a energia desaparecia”.

A pequena Zoe nasceu em Londres, no dia 11 de junho. É filha do bailarino Edgar Carvalho, que se mudou com Jandira para a capital do Reino Unido.

Para terminar, a mãe da Zoe deixa uma mensagem de otimismo: “Não tenham medo. Só paramos se quisermos. É preciso muita disciplina e vontade, mas tudo se faz. Somos privilegiadas, porque o que fazemos permite-nos conciliar o nosso trabalho com a maternidade e com o estar mais tempo com a criança. Agrada-me a ideia de ir ensaiar ou de ir dar aulas e levar a minha pequena. Façam por relaxar e respeitar cada fase. Aproveitem para aprender a fazer outras coisas. Observem os outros a dançar, o movimento. Financeiramente, se possível, é bom ter ‘um pé de meia’, para este tipo de surpresas, excelentes! Senão, há sempre solução.”

A história de Jandira

“Dança significa vida”
Jandira Baptista dança desde sempre. Cresceu num ambiente de DJ’s e bailarinos. Porém, a nível profissional, iniciou-se tarde, aos 22 anos. Pensava que o futuro lhe reservava uma carreira enquanto estilista ou ligada à política, isto porque desenhava roupa e fazia desenho de observação a óleo e, também, porque o seu avô era empresário e diplomata, acabando por captar o seu interesse para as políticas sociais e de sustentabilidade.

A sua carreira na dança começou quando, finalmente, decidiu enfrentar o medo de participar em competições. Foi-se destacando e ganhando prémios em eventos nacionais e internacionais, conhecendo pessoas na área e sendo convidada para dar aulas. Tudo aconteceu naturalmente. Começou a viajar através da dança e a organizar eventos e workshops como forma de contribuir para o desenvolvimento da comunidade em Portugal.

Dança um pouco de tudo e, atualmente, dá, sobretudo, aulas de Hip Hop, House, Waacking, Popping e High Heels.

DarKirKos – “o circo de ritmos” e de emoções

Foto: Jazzy Dance Studios

Um, dois, três, quatro. Cinco, seis, sete, oito. Volta, contra volta, meia volta. Contratempo. Foram assim os últimos dois dias! Os meus e os de todos os grandes bailarinos que participaram no “DarKirKos – O Circo de Ritmos” – o espetáculo de final de ano da Jazzy Dance Studios Saldanha, este domingo no Tivoli.

Maiores ou mais pequenos, no sábado, todos os espaços da escola de Santos foram aproveitados para mais um, outro e outro ensaios. Jazz, House, Kuduro, Bachata, Kizomba, Irish Dance, Semba, Salsa… Independentemente do estilo, todos estavam empenhados em dar o seu melhor e em “fazer bonito” no dia seguinte.

Stress muito stress, empenho, magia, paixão, cor, imagem, beleza, inspiração… O hula hoop com que tinha de entrar em palco estava a incomodar-me verdadeiramente! Sentia que não tinha jeito e não sabia o que fazer com ele. Sentia-me ridícula… Nem sempre estava em concordância com o meu tão amável e disponível par, que, afinal, em momentos de pressão, também tem mau feito e não aceita que o corrijam.

Criou-se um pequeno desconforto entre nós, até porque aqui a estrela – eu – de santa também não tem nada! “Estas coisas só servem para nos conhecermos melhor e reforçar relações”, disse ele e muito bem! Continuámos a ensaiar como se não houvesse amanhã, mas era já amanhã…

Eu continuava a dar dicas! “Vira para a esquerda. Esquerdaaaa!”, dizia. “Ups, ele não gosta, é verdade!”, pensava. Mais uma vez… Um, dois três, quatro. Cinco, seis, sete, oito. Ouvia-se a toda a hora, por todo o lado! “Tens de partir o braço atrás das costas”, lembrava eu. “Acho que fica melhor se puseres o pé mais atrás. Mas é tudo uma questão de estilo”, dizia ele!

Alguém passou, falou e “brincou” timidamente, como se nunca nada se tivesse passado. Alguém que em tempos me fez cair num poço de tristeza e desilusão que mais parecia não ter fim! Os sentimentos misturaram-se! Lembranças, stress, ansiedade. Respirei fundo! “Concentra-te Sílvia. Já passou. Foca-te agora no que é importante”. As calças de ganga também me incomodavam um pouco. “Mas porque é que não trouxe as leggings?!”. E o ensaio geral fez-se…

Domingo, 10h00, vá 10h30, estávamos no Tivoli! E tudo se repetiu novamente, como se no dia anterior nada se tivesse passado. Um, dois, três, quatro. Cinco, seis, sete, oito. “Tenho de trabalhar melhor o meu stilling!”, partilhei com o meu par. Nada podia falhar, mas ainda não me sentia segura.

Foto: Jazzy Dance Studios

Subimos ao palco para fazer o ensaio de spacing e de luzes. Ouvia o pessoal da organização a usar termos técnicos de que eu nada percebia! Coloquei-me no meu lugar no palco e procurei um ponto de referência para na hora “H” não me enganar! “Eles lá sabem do que falam!…”

Apesar do nervosismo, os camarins eram uma animação. Muita música, muitos sorrisos, muitos abraços, muita dança, muitas fotografias. E assim se esqueceu tudo o que estava lá fora, ou quase tudo. Assim se esqueceu o mundo!

Subimos ao palco novamente! O último e geral ensaio, com roupas, sapatos… Tudo. Nada podia falhar. Era a última vez antes do derradeiro momento!  No corredor encontrei a doce professora de House, que brincou como quem nos dá uma palavra de força! Dei-lhe um beijinho. Ela seguiu. “É tão querida!”, partilhei.

No final, tudo correu lindamente. Com um ou outro pormenor que ficou apenas entre nós – eu e o meu par. Com um olhar brilhante e cúmplice, entre quatro braços trémulos agarrámo-nos para dançar e dar o nosso melhor em frente às, segundo consta, mil pessoas que estavam sentadas na plateia do Tivoli.

Dança, amizade, respeito, admiração, missão cumprida… Palmas. Um abraço apertado!

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