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Catchupa d’Terra: a cultura de Cabo Verde em Portugal

A 10.ª edição do Catchupa d’Terra realiza-se já no próximo dia 17 de novembro, no Barrio Latino, em Lisboa.

Catchupa d’Terra é um evento desenhado e pensado por pessoas completamente apaixonadas pela cultura cabo-verdiana, para quem partilha deste mesmo gosto ou quer conhecer melhor as coisas boas que são criadas nas 10 ilhas vulcânicas da região central do Oceano Atlântico, a uns quantos quilómetros da costa da África Ocidental.

O ambiente é familiar, doce e acolhedor. Durante o jantar – de cachupa, tal como o nome faz entender -, ouvem-se agradáveis músicas tradicionais deste arquipélago. As pessoas convivem, fazem amigos e ainda têm oportunidade de ouvir um contador de histórias, algo tão usual em Cabo Verde de outrora e que agora volta a estar na moda.

Os organizadores e toda a sua equipa são disponíveis e focados em dar atenção aos clientes, para que todos se sintam acolhidos e confortáveis. Depois de tudo isto, começa o baile… e com direito a animação!

Em suma, Catchupa d’Terra é definida pelos seus organizadores, Waty Barbosa e Miguel Magalhães, como um evento que visa promover a cultura cabo-verdiana, nas vertentes da gastronomia, música e dança. Waty Barbosa está responsável pela cachupa rica e pelas sobremesas tão típicas da terra onde nasceu. A animação durante o baile está também a seu cargo.

Miguel Magalhães é responsável por toda a logística do evento e, sendo também o seu DJ residente, por toda a música que é passada durante o jantar (sobretudo, Morna e Coladeira), a festa (com clássicos de Coladeira, Kizomba, nos seus diferentes estilos, como seja Cabo Love, Cabo Retro e Cabo Zouk, e Funaná tradicional) e as animações de grupo (Funaná, Kola San Jon e Afrohouse, um ritmo de Angola).

O próximo Catchupa d’Terra vai realizar-se já no dia 17 de novembro, no Barrio Latino, em Lisboa, somando a assim a sua 10.ª edição. O preço dos bilhetes, que podem ser adquiridos aqui, é de 20 euros.

Um projeto com história e em crescimento

Um é cabo-verdiano, o outro português, ambos têm 41 anos e foi o gosto em comum pela kizomba e pela cachupa que os tornou amigos e mais tarde sócios – com a criação do Catchupa d’Terra, que assim que possível, será ainda mais do que um jantar seguido de festa.

Ambos consideram que juntos fazem a parceria ideal para a realização deste evento. “Cada um tem o seu conjunto de saberes, que não coincidem e, por isso, não há motivos de discussão. Completamo-nos!”, afirma Miguel Magalhães.

Sempre pensaram no Catchupa d’Terra como um evento cultural, onde iriam dar a conhecer a gastronomia, a música e a dança de Cabo Verde, no formato de jantar, seguido de festa. Contudo, o gosto e a vontade de partilha de tudo aquilo que é criado em Cabo Verde são tão grandes que, com a construção do site, feito com o objetivo de gerir a venda de bilhetes para o evento, surgiu também a ideia de usar a marca Catchupa d’Terra para desenvolver um espaço na Internet com informação acerca desta cultura.

“Um dos projetos que tenho, e que pelo que sei ainda não existe, é a criação de um dicionário de Crioulo cabo-verdiano/Português, Português/Crioulo cabo-verdiano. Além disso, existe a vontade de dar a conhecer outro tipo de personalidades, como pintores, artistas plásticos, escritores…”, enumera Miguel Magalhães. E avança: “Esta parte ainda não está posta em prática, mas está em projeto para completarmos aquilo que é a marca Catchupa d’Terra.”

Tudo começou, em 2013, numa aula de kizomba. Miguel era aluno de outro professor, que, na altura, precisou de se ausentar por uns dias. Waty Barbosa foi substituir o colega.

“Gostei logo da abordagem do Prof. Waty Barbosa, criei empatia, fui procurá-lo na academia em que dava aulas e passei a ser seu aluno”, recorda Miguel.

Na época, Waty explorava um bar em Santos, onde, todas as sextas-feiras, fazia cachupa. Miguel passou a frequentar e a dar a conhecer o espaço e, especialmente, o prato a vários amigos. “A Catchupa d’Terra vem muito do talento do Waty também como cozinheiro. Se a cachupa dele é diferente de todas as outras, para melhor, porque não aproveitar isso para dar a conhecer a gastronomia de Cabo Verde?!.”

Nestes “convívios de cachupa”, às sextas-feiras, fizeram-se muitos amigos. Waty e Miguel criaram uma grande amizade, tornando-se, mais tarde, sócios. “Por vezes, o Miguel dizia-me que tínhamos de fazer uma festa de cachupa e foi daí que surgiu a ideia”, lembra Waty.

Um dia, o professor de kizomba pediu ajuda a Miguel para organizar um evento solidário para a sua parceira de dança, que estava a passar por um problema grave de saúde. “O nosso primeiro evento não tinha nome, chamamos-lhe apenas jantar solidário. Correu bem, as pessoas gostaram, ficámos com uma ideia do trabalho que dá e com alguma experiência e resolvemos criar o Catchupa d’Terra”, conta Waty.

Waty Barbosa em Portugal há 20 anos

Professor de danças tradicionais de Cabo Verde, Waty Barbosa nasceu na Ilha de São Vicente. A sua mãe é da Ilha de São Nicolau e o pai da Ilha do Fogo. Aos 21 anos de idade, Waty Barbosa veio a Portugal, gostou e cá ficou. Faz 20 anos!

“A maioria dos cabo-verdianos crescem com a ideia de sair de Cabo Verde, de emigrar para ter uma vida melhor e ajudar a família que fica. Eu fui, mais ou menos, apanhado nessa onda”, diz Waty Barbosa. Mas acrescenta que, na realidade, o que o trouxe a Portugal foi a dança.

“Eu tinha um grupo multicultural de teatro e dança, que foi convidado para fazer animação no pavilhão de Cabo Verde, na Expo 98, e ainda num outro evento, com a duração de um mês, com o Grupo Preto no Branco, de Montemor-o-Velho, que já tinha estado em Cabo Verde”, recorda. E afirma: “Estive nessas ‘duas frentes’ e como tinha tios a viver em Peniche, resolvi ficar. Três meses depois mudei-me para Lisboa.”

Afirma ter gostado de Portugal. Caso contrário não teria ficado até hoje. Contudo, sentiu a diferença cultural. “É uma mudança que se sente, mas com 21 anos não se pensa muito nessas coisas. Estava a viver outra realidade e a gostar da experiência, por isso não foi muito difícil”, conta, confessando que, obviamente, tinha saudades da mãe e da sua comida, da família e dos amigos. “É por isso que usamos tanto a palavra ‘sodad’! Tive de me adaptar, demorou, mas habituei-me a viver a realidade de Lisboa.”

Atualmente, está mais dedicado ao seu trabalho na área da construção, razão pela qual dá cada vez menos aulas de dança. Contudo, e porque é algo que não quer deixar totalmente, vai dando umas aulas pontuais e participando em festivais. “Não quero parar, gosto de dar o meu contributo, de ajudar a ensinar às pessoas aquilo que considero que se deve saber para dançar socialmente”, indica.

Miguel Magalhães: um apaixonado por Cabo Verde

Miguel Magalhães nasceu e sempre viveu em Portugal. Não sabe de onde vem este seu gosto pela cultura Africana, sobretudo pela de Cabo Verde, mas acredita que o facto de a sua mãe ter nascido em Moçambique e de muita da sua família ter vivido em África possa ter influência.

“Talvez ter crescido a ouvir muitas histórias da minha família que emigrou para vários países de África, de ouvir música africana e de ver fotografias tenham criado em mim a simpatia que tenho pelo continente”, observa.

Enquanto DJ e apreciador de música, Miguel Magalhães recorda que começou a ouvir as primeiras kizombas cabo-verdianas, por volta do ano de 1998. Porém, naquela altura, não sabia a sua proveniência. “Agora, que sou conhecedor dos estilos e subgéneros, apercebo-me que as kizombas que gostava eram as de Cabo Verde”, diz. E desenvolve: “Normalmente são músicas mais românticas e, além disso, sou um apaixonado pelo crioulo. Acho que é um dialeto muito doce.”

Além de DJ, Miguel Magalhães trabalha em eventos, na área dos audiovisuais. E tem vindo a formar-se na área do Marketing Digital e da produção e organização de eventos.

Catchupa d’Terra e Histórias de encantar… ou não vão sortear um bilhete para a 10.ª edição do evento. Fica atento ao passatempo no facebook e concorre!

Matias: “Danças Tradicionais Europeias estão no bom caminho”

Como era de esperar, durante o Festival Andanças, em Castelo de vide, cruzei-me com o músico e professor de Danças Tradicionais Europeias, Matias, e não pude perder a oportunidade de o entrevistar.
Sentados em dois fardos de palha, que se encontravam em frente à “barraquinha” da programação, falámos sobre a sua carreira profissional, o gosto que tem por esta área e os projetos nos quais está envolvido.
Afirmando-se “totalmente dedicado à música e danças tradicionais”, Matias diz que a evolução da divulgação e promoção das mesmas, em Portugal , “tem sido muito gradual, porém positiva”. Encontrando-se “no bom caminho”.

Matias (foto tirada do Facebook do Festival Andanças)

Histórias – Participas no Andanças desde 2001. O que significa para ti este festival?Matias – Significa muito! Partilha, alegria, convivo… Associado à música e à dança tradicional, que é 100% deste festival. O objetivo do Andanças é manter a cultura e a tradição dos vários países e descobrir novos estilos de danças, de músicas e de sons. Tudo se cria e se recria!Este festival é como que uma terapia! O corpo fica muito cansado, mas a mente fica limpa. Aqui esquecemos o nosso dia-a-dia e há sempre muita descontração.

Histórias – És mais que um voluntário aqui no Andanças. Tens uma parceria de organização. Correto?
Matias –
Sim, tenho uma função diferente. O voluntário, que é muito importante neste festival, tem o seu turno de quatro horas diárias. Eu tenho de estar sempre disponível. Além de que, por estar envolvido na coordenação do festival, já estou a trabalhar desde março. Analiso e seleciono as candidaturas dos artistas, contacto-os, trato da programação e de tudo o resto… Viagens, custos, entre outras tarefas.

Histórias – Como é que surgiram as Danças Tradicionais Europeias na tua vida?Matias – Se pensar bem, tudo teve início em miúdo, quando comecei a dançar no rancho folclórico da minha freguesia, na Figueira da Foz. Em 2001, “cai de paraquedas” no Andanças. Pensava que era um festival de Salsa, mas era muito mais que isso. Era de danças tradicionais e a descoberta nasceu ali!

Histórias – Curioso, o início da tua vida profissional acaba por estar ligado ao Andanças?!
Matias –
Sim, quase que começou tudo ali!

Histórias – Fala-nos um pouco do teu percurso profissional?
Matias –
Tirei Engenharia Eletrotécnica, em Tomar, cidade onde exerci esta atividade durante nove anos. Nesse período, fui também conhecendo as danças tradicionais, assim como outras atividades, como ator, por exemplo. Numa ocasião, a Associação PédeXumbo convidou-me para ajudar na programação do Andanças e, a partir dai, a minha vida mudou.
Já tinha criado a Tradballs, que, atualmente, é uma cooperativa cultural e comecei a dedicar-me mais a esta área… Hoje em dia, sou produtor, programador, músico, professor de danças e muito mais.
Coloquei a Engenharia de parte e estou totalmente dedicado à música e à dança.

Histórias – Durante todo esse tempo de descoberta das diferentes danças, tiveste de fazer formação…
Matias –
Sim, fiz várias formações e workshops, com professores portugueses e estrangeiros. Fui aprendendo, cada vez mais, sobre as várias danças, as suas histórias e os métodos de ensino, assim como a desenvolver o meu próprio método de ensinar e de lidar com estas danças.

Histórias – Não tens saudades da Engenharia?
Matias –
Tenho. Claro que sim. É uma área muito interessante. Tenho saudades da atividade em si, daquilo que fazia. Não dos horários rígidos, que obviamente são importantes em todo o lado, mas…

Histórias – A Tradballs foi criada em 2005. Quais os objetivos desta cooperativa?Matias – São muito simples, basicamente passam por dar continuidade ao trabalho que a Associação PédeXumbo já fez: divulgar e promover, cada vez mais, as Danças Tradicionais Europeias. Focamo-nos nas danças europeias, não estamos com as africanas, americanas, nem brasileiras.
Estamos sediados em Lisboa, onde fazemos o nosso maior trabalho de divulgação. Porém, claro que, sendo contactados, vamos a outras zonas do país.
Desde há alguns anos, temos também parcerias com juntas de freguesia e câmaras municipais, que contam connosco para os seus eventos. Damos aulas de dança em Lisboa, no Teatro da Luz, às segundas e terças-feiras. Às quartas, estamos na Fábrica Braço de Prata com as “Tertúlias TRAD”, onde os alunos podem colocar em prática o que vão aprendendo. Uma vez por mês é com música ao vivo.
A cada 15 dias, consoante a agenda, realizamos um evento de Danças Tradicionais de Lisboa, que podem ter lugar no Teatro da Luz, no Teatro Ibérico ou no Museu de Arte Popular.
Temos ainda a fusão das aulas com os bailes, ou seja, os festivais. Em Lisboa, organizamos o “FEST-i-BALL”, nos finais de março e de outubro. No final de junho, o “Festival Raiz d’Aldeia”, na Aldeia de Xisto, em Janeiro de Cima, concelho do Fundão. Fazemos, ainda, em dezembro/janeiro, em Coimbra, o “Festival da Passagem d’Ano”. E, além disso, temos uma parceria com a Câmara Municipal de Tavira, a fim de participarmos na Feira da Dieta Mediterrânica, que se realiza sempre na primeira semana de setembro.

Histórias – E o grupo musical Fulano, Beltrano & Sicrano, como é que surgiu?
Matias –
Surgiu de uma forma muito engraçada. O beltrano, Vicente Camilo, acordeonista, começou a dar espetáculos a solo. Entretanto, entre conversas, fui fazer um concerto com ele, tendo surgido o grupo Fulano e Beltrano. Eu, como fulano, com a precursão e ensino das danças.
Passado um ano, encontrámos o nosso amigo, David Rodrigues, com a sua guitarra, e nasceu o trio Fulano, Beltrano & Sicrano!

Histórias– Quando é que descobriste também este teu dom musical?
Matias –
Descobri por acaso! Tenho muito mais formação em dança do que em música, mas fui sempre colaborando, mantendo contactos e trocando ideias com músicos. Fui vendo e analisando como é que tocam e arrisquei um pouco. Troquei algumas impressões e aprofundei.
Nem me considero músico. Toco e estou muito ligado à precursão, porque está relacionada com o ritmo, que, para mim, é muito interessante! Mas, não consigo tocar outros instrumentos.

Histórias – E o jam.pt?
Matias –
Também surgiu de forma engraçada e muito caricata! Os outros dois músicos são do Porto. O João toca violino e o Abel, concertina e guitarra. Eu estou na precursão, claro. E o nome “jam.pt”, está mesmo a ver-se como surgiu: “j” de João, “a” de Abel e “m” de Matias.”pt”, de Portugal!
Fui contactado por uns amigos de França, que queriam que fosse dar um workshop de danças portuguesas, mas pediram-me que levasse, músicos para fazer um baile. Lembrei-me deles e liguei-lhes.
Mais tarde, candidatei-me para ir a um festival, também em França. Fui selecionado e perguntei ao Abel e ao João se queriam participar. Foi nessa altura que seguimos em frente com o grupo.

Histórias – Com tantos projetos, como é que geres o teu tempo?
Matias –
Consegue-se gerir. Somos uma espécie de freelancers. Não temos horários rígidos e vamo-nos organizando. Umas vezes, tenho todos os dias da semana e do fim de semana ocupados. Outras, não.
Mas gere-se! Com os Fulano, Beltrano & Sicrano é mais simples porque estamos todos em Lisboa e, facilmente, ensaiamos. Com os jam.pt, inicialmente, tínhamos de nos encontrar para trabalhar. Agora, já é possível fazer apenas revisões de alguns temas antes dos concertos.

Histórias – Como avalias a divulgação e a promoção da música e das danças tradicionais em Portugal?
Matias –
Estão no bom caminho! Por vezes, perguntam-me por que é que as danças tradicionais não são mais divulgadas ou por que razão não se realiza mais festivais e bailes por todo o país.
Por muito que tentemos explicar às pessoas o que são danças tradicionais, não é fácil. É preciso arranjar sinónimos ou fazer comparações que, na realidade, não são totalmente verdadeiras. Ou seja, só se consegue explicar, convidando as pessoas a participar, a ver e a discutir.
Só assim é que se vai conseguir. Ou seja, não é apenas com a divulgação, porque ao ouvirem falar em danças tradicionais, as pessoas associam a rancho ou a pimba, o que não é verdade! Esta evolução tem sido muito gradual. Porém, positiva, porque não houve um boom, de um dia para o outro. Tem sido passo a passo.
Há uns anos, pensávamos que, com o tempo, íamos ter cada vez mais gente. E realmente temos, mas quem participa nestas atividades, fá-lo durante dois ou três anos e sai, segue outros caminhos e, em simultâneo, novas pessoas vão entrando. Tal como o tema, deste ano, do Andanças, é uma “roda viva”, que está sempre a ser renovada.

Histórias – Que projetos tens para o futuro?
Matias –
Continuar a fazer o mesmo trabalho, se possível mais e melhor. De qualquer forma, se conseguirmos manter as coisas como estão, já é muito bom!

DarKirKos – “o circo de ritmos” e de emoções

Foto: Jazzy Dance Studios

Um, dois, três, quatro. Cinco, seis, sete, oito. Volta, contra volta, meia volta. Contratempo. Foram assim os últimos dois dias! Os meus e os de todos os grandes bailarinos que participaram no “DarKirKos – O Circo de Ritmos” – o espetáculo de final de ano da Jazzy Dance Studios Saldanha, este domingo no Tivoli.

Maiores ou mais pequenos, no sábado, todos os espaços da escola de Santos foram aproveitados para mais um, outro e outro ensaios. Jazz, House, Kuduro, Bachata, Kizomba, Irish Dance, Semba, Salsa… Independentemente do estilo, todos estavam empenhados em dar o seu melhor e em “fazer bonito” no dia seguinte.

Stress muito stress, empenho, magia, paixão, cor, imagem, beleza, inspiração… O hula hoop com que tinha de entrar em palco estava a incomodar-me verdadeiramente! Sentia que não tinha jeito e não sabia o que fazer com ele. Sentia-me ridícula… Nem sempre estava em concordância com o meu tão amável e disponível par, que, afinal, em momentos de pressão, também tem mau feito e não aceita que o corrijam.

Criou-se um pequeno desconforto entre nós, até porque aqui a estrela – eu – de santa também não tem nada! “Estas coisas só servem para nos conhecermos melhor e reforçar relações”, disse ele e muito bem! Continuámos a ensaiar como se não houvesse amanhã, mas era já amanhã…

Eu continuava a dar dicas! “Vira para a esquerda. Esquerdaaaa!”, dizia. “Ups, ele não gosta, é verdade!”, pensava. Mais uma vez… Um, dois três, quatro. Cinco, seis, sete, oito. Ouvia-se a toda a hora, por todo o lado! “Tens de partir o braço atrás das costas”, lembrava eu. “Acho que fica melhor se puseres o pé mais atrás. Mas é tudo uma questão de estilo”, dizia ele!

Alguém passou, falou e “brincou” timidamente, como se nunca nada se tivesse passado. Alguém que em tempos me fez cair num poço de tristeza e desilusão que mais parecia não ter fim! Os sentimentos misturaram-se! Lembranças, stress, ansiedade. Respirei fundo! “Concentra-te Sílvia. Já passou. Foca-te agora no que é importante”. As calças de ganga também me incomodavam um pouco. “Mas porque é que não trouxe as leggings?!”. E o ensaio geral fez-se…

Domingo, 10h00, vá 10h30, estávamos no Tivoli! E tudo se repetiu novamente, como se no dia anterior nada se tivesse passado. Um, dois, três, quatro. Cinco, seis, sete, oito. “Tenho de trabalhar melhor o meu stilling!”, partilhei com o meu par. Nada podia falhar, mas ainda não me sentia segura.

Foto: Jazzy Dance Studios

Subimos ao palco para fazer o ensaio de spacing e de luzes. Ouvia o pessoal da organização a usar termos técnicos de que eu nada percebia! Coloquei-me no meu lugar no palco e procurei um ponto de referência para na hora “H” não me enganar! “Eles lá sabem do que falam!…”

Apesar do nervosismo, os camarins eram uma animação. Muita música, muitos sorrisos, muitos abraços, muita dança, muitas fotografias. E assim se esqueceu tudo o que estava lá fora, ou quase tudo. Assim se esqueceu o mundo!

Subimos ao palco novamente! O último e geral ensaio, com roupas, sapatos… Tudo. Nada podia falhar. Era a última vez antes do derradeiro momento!  No corredor encontrei a doce professora de House, que brincou como quem nos dá uma palavra de força! Dei-lhe um beijinho. Ela seguiu. “É tão querida!”, partilhei.

No final, tudo correu lindamente. Com um ou outro pormenor que ficou apenas entre nós – eu e o meu par. Com um olhar brilhante e cúmplice, entre quatro braços trémulos agarrámo-nos para dançar e dar o nosso melhor em frente às, segundo consta, mil pessoas que estavam sentadas na plateia do Tivoli.

Dança, amizade, respeito, admiração, missão cumprida… Palmas. Um abraço apertado!

Andanças: muito mais que um festival de dança

Tal como a escrita, para mim a dança é das melhores formas de expressão. Dançar é deixar fluir o movimento do corpo e a sua energia sem ter de pensar em nada, mas, ainda assim, transmitindo tudo o que me vai na alma. Dançar é ser feliz. É fazer poesia com o corpo!

Um dos pontos altos do meu mês de agosto é o Festival Andanças, que, este ano, se realiza de 1 a 5, em Castelo de Vide, com o tema “Roda Viva”. Não perco!

Para quem não sabe, o Andanças define-se como um festival em movimento e em constante evolução. Onde se dança, se ouve e toca música, se aprende. Onde se partilham tradições e saberes numa atmosfera de comunidade.

Completamente distinto de qualquer outro festival, o Andanças é, acima de tudo, “conexão”, não apenas entre os corpos que se “misturam” no “silencio da música que toca”, mas sobretudo com a terra, com a natureza. O Andanças é arte, alegria, partilha. É variedade, é aprendizagem, é amizade. É amor pela arte nas suas mais diversas vertentes, pela diversidade, pelo planeta. O Andanças é feito de momentos mágicos que a minha memória não esquece e guarda para toda a vida!

O festival recebe músicos e bailarinos do mundo inteiro. De dia, há oficinas de dança, massagens, artesanato, entre outros. À noite, bailes e concertos onde se experimentam passos, ritmos e melodias, a par ou em roda.

Curiosamente, além de reunir pessoas e culturas de todos os cantos do mundo, o que é maravilhoso, no Andanças vêem-se também pessoas de todas as idades, desde bebés aos mais idosos.

Se não conhecem, deviam ir. Eu aproveito, todos os anos, para repôr energia e colocar as ideias no sítio, mesmo sem pensar em nada. Entrar em outra dimensão, sentir-me livre e esquecer o mundo.

“Em Roda Viva o movimento é continuo. Damos as mãos e fechamos a roda, unimo-nos, giramos sobre o nosso corpo e sobre o nosso par, dançamos sem parar. Construímos e evoluímos, aprendemos. Mudamos de lugar e continuamos o trajeto, viajamos, partimos, chegamos. E começa uma nova dança.”

Informações no site e no facebook oficiais do Andanças

As festas da minha terra!

As ruas que se enchem de cor, entre balões e bandeirolas. A vizinha do 16 que grita pela do 18. Precisa de açúcar para pôr no arroz. O Sr. Manuel do café da esquina que abastece a arca para que não faltem minis, imperais, sumos e muito mais.

O cheiro da sardinha assada que inunda as ruas e as casas dos moradores. O caldo verde, as bifanas, as entremeadas, o chouriço assado, os churros e as farturas.

O estacionamento que a cada noite fica ainda mais escasso!

Música popular, arraias e bailaricos. “Risos, gargalhas, fados e desgarradas” até de manhã. Alegria, amizade, convívio… bebedeira!

Os bairros que se misturam. As ruas que se enchem de gente, muita gente. As marchas que descem a avenida. Os tronos de Santo António!

O cheiro dos manjericos com trovas dedicadas ao nosso casamenteiro e aos casais apaixonados.

As crianças (já muito poucas) que pedem uma moedinha para o Santo António! O São João e o São Pedro.

É assim o mês de junho na minha linda Lisboa. São/foram assim as festas da minha terra.

Para o ano há mais…

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