Já passavam uns minutos das 18h00, saí atribulada do trabalho, fui em passo acelerado até ao carro, que ainda estava longe, e segui em direção ao Clube Ferroviário. A aula era às 18h30 e não queria, por nada, chegar mais tarde! Era a minha primeira aula de Pole Dance…
Sim, finalmente fiz uma aula experimental de Pole Dance e devo agradecê-lo à instrutora Joana Silva, que teve a excelente iniciativa de me a oferecer, tal como a alguns leitores do Histórias de encantar… ou não!
Confesso que, até há poucas semanas, não tinha pensado experimentar! Amo dançar, mas quanto ao Pole Dance – apesar de sempre ter gostado de ver as performances, de achar lindo e “espetacular” – sempre achei que não era para mim. Pensei ser até impossível.
Se não tenho grandes problemas em termos de flexibilidade, no que diz respeito à força já não posso afirmar o mesmo. Porém, depois desta sessão percebi que não há impossíveis!
Obviamente, que fiz praticamente nada, mas entendi que apesar de não ser fácil, como já suspeitava, tudo é feito de uma forma muito gradual, com calma e com a ajuda da Joana.
Quando finalmente cheguei ao Clube Ferroviário, subi – com duas “colegas” que chegaram em simultâneo – até ao primeiro andar, onde se ia realizar a aula. Joana Silva recebeu-nos muito calmamente.
O espaço é grande, com muita luz natural. Preparámo-nos e sentámo-nos nos colchões a conversar com a nossa anfitriã, que queria saber que tipo de contacto tínhamos com o Pole Dance e o que nos levara até ali.
Passámos depois ao aquecimento, com exercícios de flexibilidade e de força – o meu calcanhar de Aquiles! E, de seguida, veio o tão esperado e, até engraçado, momento do varão. Os exercícios foram simples, os movimentos bonitos e femininos. Adorei! A Joana explicou tudo com muita calma e esteve sempre atenta e pronta a ajudar cada uma de nós.
Entre piadas e trocadilhos e enquanto nos íamos rindo de nós mesmas, acabámos por fazer todos os exercícios – a nossa dança do varão – e aquela 1h15 de aula passou num ápice!
A partir de agora o meu objetivo é muito simples: desafiar as leis da gravidade com a minha super força, fazer maravilhosas acrobacias, com a excelente flexibilidade que tenho, movimentos sensuais e flutuar, tal como a Joana Silva!… Sempre fui uma pessoa contida nos meus sonhos!
Muito obrigada à Joana pela entrevista e por esta oportunidade e a quem esteve, ontem, na aula. Grata também a todos os que participaram no passatempo.
Lê a entrevista a Joana Silva, pole dancer e instrutora de Pole Dance.
Entre a barulheira da criançada que por ali brincava e a ventania repentina que se fazia sentir, sentadas num banco de jardim, conversávamos sobre Pole Dance. Encolhida dentro do seu casaco de ganga, como quem se defende do vento, Joana Silva não conseguia esconder o deslumbramento que sente por esta dança e pela sua profissão, às quais tanto se tem dedicado e muito a “preenchem”. Os olhos brilhavam.
Pole dancer e instrutora de Pole Dance, desde 2008, Joana Silva diz que, ao longo dos anos, a dança tem sido alvo de grande desenvolvimento, tanto a nível técnico, como de estilo. “Dentro do Pole Dance não há apenas aquele estilo sensual, que é o mais conhecido, existem muitos outros”, explica.
E continua: “Gosto de o definir como uma dança com uma componente técnica muito grande, onde se utiliza o varão para executar acrobacias ou para dançar. Tal como qualquer outra dança, é uma forma de expressão.”
Ouvindo isto, tive de perguntar-lhe se considera que o estigma inicialmente existente em torno do Pole Dance – apenas associado à sensualidade, ao erotismo, aos bares de strip, entre outros – já foi ultrapassado. Joana responde que não!
“Ainda existe, tanto em Portugal como em outros países desenvolvidos, e vai continuar durante muitos anos. No fundo, este estereótipo existe por falta de conhecimento, porque as pessoas continuam muito vinculadas à ideia de que o Pole Dance veio dos strip clubs. Efetivamente, faz parte da história em termos de evolução da dança, que é já muito mais que isso. Existem inúmeros estilos”, explica.
Para combater esta ideia, a comunidade de Pole Dance tem vindo a organizar e a desenvolver projetos – desde competições, espectáculos e exposição nos media – com o objetivo de dar a conhecer e de explicar a dança à população.
Em Portugal, o Pole Dance tem “vindo a desenvolver-se muito bem”. Há cada vez mais escolas e pessoas a praticar. Realizou-se, durante três anos, um Espetáculo Nacional de Pole Dance, criado por Joana Silva e outra pessoa, e foi criada, recentemente, a Associação Portuguesa de Varão Desportivo.
Força, flexibilidade, treino e dedicação
Acrobata desde criança, aparentemente franzina e delicada, 37 anos, nas suas performances Joana demonstra ter a “força de mil homens” para se manter pendurada no varão, enquanto dança ou executa acrobacias, tal como uma flexibilidade indiscutível. Sem tremer. Sem aparente dificuldade. Como quem flutua.
Como professora e apaixonada que é por este estilo de dança, Joana afirma que, mesmo não sendo fácil, o Pole Dance pode ser praticado por qualquer pessoa, de ambos os sexos, de qualquer idade e com qualquer tipo de corpo. Basta que goste, que treine e que se dedique.
“A evolução depende de cada um, do background que possa ou não ter, do número de dias que treina, da dedicação e da capacidade de aprendizagem, que não é igual em ninguém. Não existe uma fórmula”, diz a bailarina.
E acrescenta: “É um pouco mais exigente que outra dança, porque tem uma componente técnica que requer mais força e mais flexibilidade, mas tudo é possível.”
Como qualquer outro estilo ou outra atividade física, também o Pole Dance traz inúmeros benefícios para a saúde. A nível físico trabalha muito os membros superiores e o core. Contudo, obviamente que são também usadas as pernas e que os resultados são visíveis.
Joana Silva considera que as mais-valias desta dança são ainda maiores e mais visíveis quando falamos em termos psicológicos. “À medida que vão conseguindo conquistar cada desafio, cada novo movimento e acrobacia, as pessoas sentem cada vez mais autossatisfação, autoestima e autoconfiança, o que traz muitos benefícios a nível pessoal e emocional”, menciona.
E explica que, em todas as aulas, durante o aquecimento, são feitos exercícios de condição física, que envolve treino de força, alongamentos, coordenação, treino respiratório, entre outros.
As aulas em si têm uma componente de condição física para preparar os alunos para a técnica do varão. No entanto, existe também uma aula específica só para condição física para o Pole Dance.
A história de Joana “Experimentei uma aula. Apaixonei-me, mantive-me e dediquei-me”
Histórias –Qual o espaço que o Pole Dance ocupa na tua vida? Joana – Neste momento, é quase total. Tenho outras profissões, sou maquilhadora, fisioterapeuta e estudei Osteopatia. Contudo, estou dedicada, praticamente a 100%, à instrução de Pole Dance, tanto em Portugal, como no estrangeiro. Sou, cada vez mais, requisitada para ensinar lá fora.
A nível pessoal, enquanto pole dancer, também despendo de muito tempo, porque estou no ativo e em competições. Ou seja, treino três horas por dia, tenho dois de descanso, e dou aulas, o que implica também um trabalho de organização, preparação e planeamento. Tenho os dias bem ocupados!
Histórias – Fala-nos um pouco do teu percurso profissional enquanto bailarina e ginasta. Joana – Sempre fui um bicho irrequieto! Gosto de me mexer, de tudo o que é prático e envolva o corpo. Comecei por fazer ginástica acrobática e fui atleta de alta competição, durante seis anos. Depois, decidi parar porque, na altura, entre estudar e treinar não tinha vida pessoal.
Senti falta de me mexer e resolvi ir dançar. Comecei a fazer vários estilos de Street Dance, entre Break Dance, New Style e House Dance. Gostava e fazia um pouco de tudo.
Sempre tive curiosidade em experimentar Pole Dance, porque vi o filme “Striptease”, com a Demi Moore, que ficou gravado na minha cabeça. Na altura, era nova e não fui logo fazer uma aula, nem creio que houvesse. Quando achei que era a altura certa, fui. Tinha 27 anos. Foi paixão à primeira vista, porque combinava as duas componentes que eu já gostava muito – a acrobática e a dança. Acabei por ir deixando tudo e por me dedicar ao Pole Dance.
Histórias – Foste campeã nacional de ginástica acrobática? Joana – Sim, quase todos os anos! E fui selecionada para campeonatos da Europa e do mundo. Fiz parte da Federação Portuguesa de Trampolins e Desportos Acrobáticos e da selecção nacional.
Histórias – Também participas em competições internacionais de Pole Dance. Tens de te preparar muito? Joana – Sim. Não só a nível físico, como também psicológico e conceptual. O físico exige muitas horas de treino. O psicológico, porque no fundo trata-se de uma “batalha” e, acima de tudo, temos de ser fortes. É preciso abdicar de muita coisa, de muito tempo, de vida pessoal.
A nível de competição, nenhum desporto é fácil. É muito exigente, quando achamos que não dá mais, somos obrigados a levar o nosso corpo ao limite. É preciso estar psicologicamente preparado.
Em termos conceptuais já entra um pouco naquele que é o meu estilo e ao qual me estou a dedicar dentro do Pole Dance. Estou a desenvolver um estilo mais experimental e conceptual.
Quando crio uma performance para apresentar numa competição parto de um conceito, de uma ideia, de um sentimento. Tal como pintar um quadro. Há sempre uma intenção por trás. E para chegar a um conceito forte, que me diga algo e que eu queira expressar, preciso de fazer muita pesquisa.
História – Como é que tudo isto aconteceu na tua vida? O que querias ser quando crescesses? Joana – Quando era criança não dizia que queria ser Pole Dancer! Curiosamente, queria ser botânica!
Mais tarde, quando andava na ginástica lesionei-me, fui tratada por um fisioterapeuta, gostei do seu trabalho e resolvi estudar Fisioterapia. Nunca pensei ser pole dancer e, muito menos, instrutora. Foi um processo muito natural! Fui experimentar, apaixonei-me, mantive-me e dediquei-me. Depois recebi um convite para dar aulas…
Hoje em dia, depois de ter estudado tanta coisa, acho que esta é mesmo a minha vocação! Adoro ensinar e descobri isso por acaso, ao dar aulas. Já sou instrutora há 10 anos e continuo a sentir-me realizada. Enquanto pole dancer também continuo a adorar. Preenche-me.
Histórias – Projetos futuros? Joana – Quero participar em outra competição – estou na fase da elaboração do conceito – e continuar a dar aulas a nível nacional e internacional. Ter um pé em Portugal e outro lá fora.
Estou também a desenvolver um curso para instrutores de Pole Dance. Quero passar aquilo que sei e que desenvolvi ao longo de 10 anos a outros instrutores. Já comecei no Egipto, mas é um projeto que estou ainda a desenvolver.
Vê aqui o conceito desta apresentação e o que levou Joana Silva a construí-lo e desenvolvê-lo
“Estou a desenvolver um estilo mais experimental e conceptual dentro do Pole Dance. Quando crio uma performance parto de um conceito, de uma ideia, de um sentimento. Tal como pintar um quadro”. Quem o disse foi Joana Silva, pole dancer e instrutora de Pole Dance, no Clube Ferroviário, em entrevista ao Histórias de Encantar… ou não.
Nesta performance, a artista representa o processo de germinação de uma semente. “Sempre gostei de plantas e de tudo o que está ligado à terra. Fiz experiências com a germinação de vários tipos de sementes. Achei curioso o movimento e o pulsar – não visto a olho nu – e resolvi representá-los com o movimento do meu corpo”.
Joana Silva começa em cima do varão, reproduz a queda da semente, desloca-se pelo chão representando a forma de propagação da espécie e, por fim, em outro varão, mostra o crescimento de uma nova árvore.
Não percas esta entrevista, já nos próximos dias, e participa no nosso PASSATEMPO. Vai ser sorteada uma aula experimental com Joana Silva, já no próximo dia 10 de setembro.