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Mãe

DR.

Dizem que era linda! Cabelo escuro, comprido e ondulado, pele clara. Mãos delicadas, unhas enormes, sempre arranjadas e pintadas de vermelho. Feminina. Vaidosa.

Riso fácil, o sentido de humor era (e é) uma das suas características. Gostava de conversar, socializar, dançar, ouvir um fadinho e ir ao teatro.

A sua vida não foi fácil, até porque, a certa altura, ficou completamente sozinha “na cidade grande”, com uma filha nos braços.

Os tempos eram outros… Deve ter tido medo, mas foi forte. Lutou, trabalhou, sofreu, chorou, mas correu sempre tudo bem. Conseguiu.

Os anos (muitos) passaram e, desde que me lembro, sempre teve a dualidade de ser tão meiga, quanto exigente.

Cuida, mima muito, dá carinho, diz que ama, é querida, é amiga, mas é também severa, rigorosa, inflexível.

Tem uma personalidade forte. Princípios muito marcados, que defende com unhas e dentes. Intransigente. Só defeitos! Sempre a critiquei. E agora, quando paro para pensar, vejo que sou igual. Sou a sua continuação!

Pensar perdê-la…

Vou “ali” dar-lhe mimo e dizer-lhe o quanto a amo, pelo menos, mais umas mil vezes!

Até já!

Hoi An, a “cidade das lanternas”

Em Hoi An, no Vietname, existe uma crença local que diz que se colocarmos uma vela nas águas do rio Thu Bon e pedirmos um desejo, este irá realizar-se.

Segundo a mesma lenda, as oferendas colocadas nas águas do Thu Bon flutuam até aos seus antepassados, que as recebem e, em troca, realizam os desejos de quem as lançou.

Eu estive lá, na maravilhosa “cidade das lanternas”, e durante um passeio de barco, à noite, pedi um desejo e pus uma velinha no rio. Tive a sorte de contar com a ajuda de um menino, com os seus 7 anos, que me acompanhou e ajudou durante todo o passeio. Afinal, os turistas não sabem bem como fazer as coisas!

Estávamos em maio, celebrava-se o nascimento de Buda, a cidade estava em festa e toda iluminada! Linda, cheia de cor e de muito simbolismo. A paz e a serenidade estiveram sempre connosco. E eu, de coração cheio!

Hoi An está localizada no centro do Vietname, na província de Quang Nam, perto da foz do rio Thu Bon. É um dos destinos mais bonitos e populares no Sudeste Asiático, em grande parte devido à sua preservada “Cidade Velha”, classificada como património mundial pela UNESCO.

Muito para além da pele

Naquele dia acordou com uma dor forte nas costas. Não era habitual, mas como fazia desporto e dança pensou que não passava de um mau jeito e resolveu parar por uns dias. Catarina era jovem. Tinha 29 anos, mas aparentava muito menos, uns 22! Talvez pela sua forma de ser, de vestir, de estar. Era ativa, comunicativa, tinha mil hobbies, muitos amigos e estava a passar por uma ótima fase. Tinha um emprego novo e estava apaixonada por um dos instrutores do ginásio que frequentava e com quem andava a sair.

Dentro das suas formas curvilíneas, encontrava-se numa excelente forma física. De cabelo castanho, liso, mas com alguns jeitos, pestanuda e sempre sorridente, Catarina sentia-se feliz e saudável e, durante poucos dias, não se preocupara com o suposto mau jeito que teria dado. Tinha, de vez em quando, umas crises de mau feitio. Personalidades!

Os dias passaram. As dores agravaram. Catarina foi às urgências hospitalares. “Está tudo bem consigo. Basta que tome estes comprimidos e que ponha um emplastro de 12 em 12 horas”. Foi mais ou menos isto que o ortopedista que a examinou lhe disse. Catarina foi para casa e assim fez, mas a dor não passou. A dor piorou!

Infelizmente, a vida não é feita apenas de bons momentos e a de Catarina passou a ser um verdadeiro inferno! As dores eram atrozes, debilitantes, completamente impossíveis de suportar e os médicos não diagnosticavam doença alguma.

Catarina estava a enlouquecer. Sentia que a vida não valia a pena. Não conseguia imaginar-se a  viver assim, limitada, e muito menos suportar tamanha dor por muito mais tempo. Chegou a pensar em desistir de si, mas foi demasiado cobarde para isso!

Procurou mais e mais médicos. Sentava-se à sua frente e apenas conseguia chorar. Compulsivamente. Como quem pedira desesperadamente que a ajudassem. Um dia, foi a um reumatologista e tudo mudou!

Finalmente, encontrou o seu “anjo da guarda”. Alguém que se preocupou realmente consigo, com o seu caso e que, a pouco e pouco, lhe foi devolvendo a paz que perdera há alguns meses. Tempo de mais!

Com cerca de 50 anos, careca e com muito sentido de humor, também o seu reumatologista teve dificuldade em fazer o diagnóstico logo à primeira, mas preocupou-se em, simultaneamente, minimizar-lhe as dores e em fazê-la sorrir, com as histórias cómicas que ia contando ao longo das consultas.

Errou o primeiro diagnóstico, até que Catarina começou a ter manchas na pele! Finalmente descobriu-se: Artrite Psoriática, uma doença inflamatória reumática crónica. O percurso foi longo, muito longo, mas hoje está tudo bem e a doença controlada, apesar dos espaçados surtos.

Passar por momentos tão dolorosos e incapacitantes durante muito tempo não é fácil e descobrir que se tem uma doença crónica, ou seja, para toda a vida, também não. É desesperante!

Catarina tornou-se uma pessoa triste, nervosa, arrogante. Tinha medo da vida e do que viria pela frente! Acordava várias vezes por noite para confirmar que ainda se conseguia mexer e que não tinha mais manchas no corpo! Perdeu “amigos”, talvez por falar muito da sua doença, dos seus sintomas dos seus medos, talvez porque tenha passado a ser chata e desinteressante para eles! Catarina tornou-se uma pessoa revoltada.

Os anos passaram, novas pessoas surgiram na sua vida, umas ficaram outras não, Catarina aprendeu a lidar com a doença, aceitou-a e com o passar do tempo voltou a ser quem era antes. Um pouco mais “adulta”, talvez.

Quem nunca passou por uma história semelhante a esta, independentemente da doença, ou não cuidou e acompanhou de perto alguém com um problema deste género, não tem – e ainda bem – a menor ideia do seu sofrimento. Não percebe porque razão a pessoa é constantemente antipática, arrogante ou o que seja.  É importante lembrar que pessoas como a Catarina estão a travar um longa e muito pesada luta e que não vale a pena entrar em confronto.

Pelo contrário, devemos ter sempre em conta que, mesmo antipáticas, arrogantes, insuportáveis ou seja lá o que for, estas pessoas merecem todo o nosso apoio e respeito. Se tudo correr bem, com o tempo voltarão a ser como antes. Ou quase!

O que é a Psoríase?

A psoríase é uma doença sistémica inflamatória crónica da pele, não contagiosa, que pode surgir em qualquer idade. Afeta 1 a 3% da população.

O seu aspeto, extensão, evolução e gravidade são muito variáveis, caracterizando-se, geralmente, pelo aparecimento de lesões vermelhas, espessas e descamativas, que afetam sobretudo os cotovelos, joelhos, região lombar e couro cabeludo.

Nos casos mais graves, estas lesões podem cobrir extensas áreas do corpo. As unhas são também frequentemente afetadas, com alterações que podem variar entre o quase imperceptível e a sua destruição.

Cerca de 10% dos doentes desenvolvem artrite psoriática. Esta traduz-se por dor e deformidade, por vezes bastante debilitante, de pequenas articulações, como as mãos e os pés, ou grandes articulações, como membros e coluna. Pode manifestar-se também em outros órgãos e sistemas.

A origem da psoríase não está totalmente esclarecida, embora se saiba que é geneticamente determinada e envolva alterações no funcionamento do sistema imunitário, que provocam inflamação e aumento da velocidade de renovação das células da epiderme, a camada mais superficial da pele.

Apesar de não ter cura, a doença tem tratamentos muito eficazes. Se desconfiar que poderá sofrer desta patologia nas suas mais variadas formas dirija-se de imediato a um médico e não desista.

Algumas figuras públicas que revelaram sofrer de psoríase:

Portuguesas: Núria Madruga, Iva Domingues, Noémia Costa e Hélio Loureiro

Estrangeiras: Kim Kardashian, Britney Spears e Cameron Diaz

Mais informações em PSOPortugal

Será “pobreza” obrigatoriamente sinónimo de “miséria”?…

Batman e as amigas

… Não sei, mas defendo que não! Não é de todo a pobreza que faz das pessoas miseráveis. Até porque, a meu ver, trata-se de um adjetivo muito forte para atribuir a alguém apenas porque não tem dinheiro, tem uma casa mais pequena e com poucas condições… ou simplesmente uma forma “diferente” de estar na vida.

A semana passada fui até ao norte do país fazer uma reportagem. Um dos entrevistados era um muito simpático e castiço médico, com quem já trabalho há anos e, quando possível, costumo conversar.

Entre entrevistas e fotografias às instalações, aos seus colegas e aos doentes, o médico sugeriu que fizéssemos uma pausa e fossemos até ao bar. “Sabe, Sra. Dra. – é assim que me trata apesar de eu já lhe ter dito milhares de vezes para me chamar Sílvia – este ano vou de férias para o Perú”, contou, enquanto eu punha água no café e ele dava a primeira dentada num dos dois húngaros que pediu para o seu lanche matinal.

“Perú! Espetacular”, respondi. Falámos um pouco sobre a viagem que vai fazer e o que o levara até lá, até que resolvi falar das minhas últimas e ainda muito recentes férias. Disse-lhe que estive no Sudeste Asiático, que passei por Hong Kong, Macau, algumas cidades do Vietname, Luang Prabang em Laos e Bangkok na Tailândia.

“Conheço todos esses países, menos o Vietname! Do que é que gostou mais?”, perguntou-me. “Luang Prabang, em Laos!!!”, respondi com entusiasmo e sem pensar duas vezes. “Isso é uma miséria”, respondeu!

Fiquei boquiaberta! Quase me senti ofendida, como se fosse um deles e defendi-os, claro está, como se de familiares meus se tratassem! Senti-me tão bem em Luang Prabang!

Foi nesta altura que eu e os Sr. Dr. começámos a discordar. E foi assim que comecei a pensar no que realmente é importante e naquilo que precisamos para ser felizes. Para ele Laos é um país de pessoas pobres, “miseráveis”, com falta de coisas básicas, onde as crianças não tem com que brincar e andam todas sujas pela rua! É a sua visão e eu respeitei, mas tive de mostrar a minha.

Em Luang Prabang e na Hmong Village a felicidade está a vista de qualquer um. Ela anda por ali de mão dada com aquelas pessoas! Para mim, trata-se de um local de paz, amor, calor, budismo, natureza, alegria e eu fiquei fascinada!

As pessoas de Luang Prabang e da Hmong Village são simpatia, acolhimento, altruísmo. Recebem tão bem e são tão disponíveis. A cidade é muito calma e está cheia de crianças que nos cumprimentam constantemente com um simpático “Sabaidee” (olá em lausiano).

As pessoas da Hmong Village – uma espécie de tribo, se é que lhe posso chamar assim – são livres, vivem felizes e isso é visível aos olhos de quem por lá passa. A paz reina neste local e as crianças são genuinamente felizes. É um privilégio poder estar entre elas e fazer parte das suas brincadeiras.

Talvez não tenham com que brincar, como disse o meu entrevistado, e nem todas as condições de que necessitam nos pequenos bungalows em que vivem. Mas têm saúde, têm o amor da família, têm amigos com quem brincam na rua, têm comida, têm escola… O resto?!  Não sabem que existe. Têm tudo o que precisam!

Não entendo como podemos chamar miserável a alguém que tem “tudo e é tão feliz”! Talvez seja apenas uma questão de prioridades…

Regresso…

Os raios de luz que entram por entre o estore do quarto, o escuro e o silêncio que me transmitem paz e me permitem refletir e o som do despertador que insiste em lembrar que está na hora de acordar e que tudo nasce de um novo amanhecer.

Nem pensar em me levantar já! Volto-me para o outro lado e abraço a almofada com toda a força do mundo. A história repete-se a cada manhã… Levanto-me e na azáfama da luta contra o relógio, abro os estores, ligo o rádio bem alto e entre espreguiçadelas, bocejos, cantorias e passos de dança digo bom dia ao mundo.

Bolas, está quase na hora de sair de casa e ainda estou nestes preparos! Arranjo tudo o que há para arranjar, tomo o pequeno-almoço e saio na correria. Mas onde é que deixei o carro ontem?! Ah já sei!

Digo bom dia à Dna Madalena, uma doce velhinha de 90 anos, que àquela hora já está à janela do seu R/C a ver quem passa, e sigo. Pelo caminho encontro o rapaz mais porreiro do bairro e com quem tanto gosto de conversar. Logo agora que não tenho tempo! Aceno, sorrio e continuo. “Então miúda?! Estou a ver que estás de volta ao trabalho!”, ouço.

Verdade, após dias e dias de ausência, está na altura de voltar, ainda assim com tantos sonhos e outros projetos pessoais e profissionais por concretizar! Entro no carro e enquanto conduzo lembro-me que o sonho comanda a vida, que querer é poder e que acreditar e pensar positivo é meio caminho andado para conseguirmos tudo o que queremos. Não tivesse eu lido tantos livros de autoajuda!

Ponho a música bem alta e entre cantorias, buzinadelas e pensamentos menos bonitos sobre os condutores da frente, do lado e arredores vou arrumando as ideias e fazendo a lista de prioridades para o dia. Assusto-me com o som estridente e ensurdecedor da campainha do elétrico, aquele que tanto caracteriza os bairros típicos de Lisboa e que os turistas tanto gostam. Já devia estar mais que habituada!…

Finalmente chego ao trabalho e a horas! Ligo o computador, bebo um café… O elevado número de emails, recados e os cumprimentos mais efusivos de alguns colegas, que me perguntam se estou bem e o que tenho andado a fazer, fazem-me perceber que tudo voltou a ser como antes:

“Bom dia Sílvia, bem-vinda à realidade!”

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