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DarKirKos – “o circo de ritmos” e de emoções

Foto: Jazzy Dance Studios

Um, dois, três, quatro. Cinco, seis, sete, oito. Volta, contra volta, meia volta. Contratempo. Foram assim os últimos dois dias! Os meus e os de todos os grandes bailarinos que participaram no “DarKirKos – O Circo de Ritmos” – o espetáculo de final de ano da Jazzy Dance Studios Saldanha, este domingo no Tivoli.

Maiores ou mais pequenos, no sábado, todos os espaços da escola de Santos foram aproveitados para mais um, outro e outro ensaios. Jazz, House, Kuduro, Bachata, Kizomba, Irish Dance, Semba, Salsa… Independentemente do estilo, todos estavam empenhados em dar o seu melhor e em “fazer bonito” no dia seguinte.

Stress muito stress, empenho, magia, paixão, cor, imagem, beleza, inspiração… O hula hoop com que tinha de entrar em palco estava a incomodar-me verdadeiramente! Sentia que não tinha jeito e não sabia o que fazer com ele. Sentia-me ridícula… Nem sempre estava em concordância com o meu tão amável e disponível par, que, afinal, em momentos de pressão, também tem mau feito e não aceita que o corrijam.

Criou-se um pequeno desconforto entre nós, até porque aqui a estrela – eu – de santa também não tem nada! “Estas coisas só servem para nos conhecermos melhor e reforçar relações”, disse ele e muito bem! Continuámos a ensaiar como se não houvesse amanhã, mas era já amanhã…

Eu continuava a dar dicas! “Vira para a esquerda. Esquerdaaaa!”, dizia. “Ups, ele não gosta, é verdade!”, pensava. Mais uma vez… Um, dois três, quatro. Cinco, seis, sete, oito. Ouvia-se a toda a hora, por todo o lado! “Tens de partir o braço atrás das costas”, lembrava eu. “Acho que fica melhor se puseres o pé mais atrás. Mas é tudo uma questão de estilo”, dizia ele!

Alguém passou, falou e “brincou” timidamente, como se nunca nada se tivesse passado. Alguém que em tempos me fez cair num poço de tristeza e desilusão que mais parecia não ter fim! Os sentimentos misturaram-se! Lembranças, stress, ansiedade. Respirei fundo! “Concentra-te Sílvia. Já passou. Foca-te agora no que é importante”. As calças de ganga também me incomodavam um pouco. “Mas porque é que não trouxe as leggings?!”. E o ensaio geral fez-se…

Domingo, 10h00, vá 10h30, estávamos no Tivoli! E tudo se repetiu novamente, como se no dia anterior nada se tivesse passado. Um, dois, três, quatro. Cinco, seis, sete, oito. “Tenho de trabalhar melhor o meu stilling!”, partilhei com o meu par. Nada podia falhar, mas ainda não me sentia segura.

Foto: Jazzy Dance Studios

Subimos ao palco para fazer o ensaio de spacing e de luzes. Ouvia o pessoal da organização a usar termos técnicos de que eu nada percebia! Coloquei-me no meu lugar no palco e procurei um ponto de referência para na hora “H” não me enganar! “Eles lá sabem do que falam!…”

Apesar do nervosismo, os camarins eram uma animação. Muita música, muitos sorrisos, muitos abraços, muita dança, muitas fotografias. E assim se esqueceu tudo o que estava lá fora, ou quase tudo. Assim se esqueceu o mundo!

Subimos ao palco novamente! O último e geral ensaio, com roupas, sapatos… Tudo. Nada podia falhar. Era a última vez antes do derradeiro momento!  No corredor encontrei a doce professora de House, que brincou como quem nos dá uma palavra de força! Dei-lhe um beijinho. Ela seguiu. “É tão querida!”, partilhei.

No final, tudo correu lindamente. Com um ou outro pormenor que ficou apenas entre nós – eu e o meu par. Com um olhar brilhante e cúmplice, entre quatro braços trémulos agarrámo-nos para dançar e dar o nosso melhor em frente às, segundo consta, mil pessoas que estavam sentadas na plateia do Tivoli.

Dança, amizade, respeito, admiração, missão cumprida… Palmas. Um abraço apertado!

Será “pobreza” obrigatoriamente sinónimo de “miséria”?…

Batman e as amigas

… Não sei, mas defendo que não! Não é de todo a pobreza que faz das pessoas miseráveis. Até porque, a meu ver, trata-se de um adjetivo muito forte para atribuir a alguém apenas porque não tem dinheiro, tem uma casa mais pequena e com poucas condições… ou simplesmente uma forma “diferente” de estar na vida.

A semana passada fui até ao norte do país fazer uma reportagem. Um dos entrevistados era um muito simpático e castiço médico, com quem já trabalho há anos e, quando possível, costumo conversar.

Entre entrevistas e fotografias às instalações, aos seus colegas e aos doentes, o médico sugeriu que fizéssemos uma pausa e fossemos até ao bar. “Sabe, Sra. Dra. – é assim que me trata apesar de eu já lhe ter dito milhares de vezes para me chamar Sílvia – este ano vou de férias para o Perú”, contou, enquanto eu punha água no café e ele dava a primeira dentada num dos dois húngaros que pediu para o seu lanche matinal.

“Perú! Espetacular”, respondi. Falámos um pouco sobre a viagem que vai fazer e o que o levara até lá, até que resolvi falar das minhas últimas e ainda muito recentes férias. Disse-lhe que estive no Sudeste Asiático, que passei por Hong Kong, Macau, algumas cidades do Vietname, Luang Prabang em Laos e Bangkok na Tailândia.

“Conheço todos esses países, menos o Vietname! Do que é que gostou mais?”, perguntou-me. “Luang Prabang, em Laos!!!”, respondi com entusiasmo e sem pensar duas vezes. “Isso é uma miséria”, respondeu!

Fiquei boquiaberta! Quase me senti ofendida, como se fosse um deles e defendi-os, claro está, como se de familiares meus se tratassem! Senti-me tão bem em Luang Prabang!

Foi nesta altura que eu e os Sr. Dr. começámos a discordar. E foi assim que comecei a pensar no que realmente é importante e naquilo que precisamos para ser felizes. Para ele Laos é um país de pessoas pobres, “miseráveis”, com falta de coisas básicas, onde as crianças não tem com que brincar e andam todas sujas pela rua! É a sua visão e eu respeitei, mas tive de mostrar a minha.

Em Luang Prabang e na Hmong Village a felicidade está a vista de qualquer um. Ela anda por ali de mão dada com aquelas pessoas! Para mim, trata-se de um local de paz, amor, calor, budismo, natureza, alegria e eu fiquei fascinada!

As pessoas de Luang Prabang e da Hmong Village são simpatia, acolhimento, altruísmo. Recebem tão bem e são tão disponíveis. A cidade é muito calma e está cheia de crianças que nos cumprimentam constantemente com um simpático “Sabaidee” (olá em lausiano).

As pessoas da Hmong Village – uma espécie de tribo, se é que lhe posso chamar assim – são livres, vivem felizes e isso é visível aos olhos de quem por lá passa. A paz reina neste local e as crianças são genuinamente felizes. É um privilégio poder estar entre elas e fazer parte das suas brincadeiras.

Talvez não tenham com que brincar, como disse o meu entrevistado, e nem todas as condições de que necessitam nos pequenos bungalows em que vivem. Mas têm saúde, têm o amor da família, têm amigos com quem brincam na rua, têm comida, têm escola… O resto?!  Não sabem que existe. Têm tudo o que precisam!

Não entendo como podemos chamar miserável a alguém que tem “tudo e é tão feliz”! Talvez seja apenas uma questão de prioridades…

“Viajar é mudar a roupa da alma”

“Viajar é mudar a roupa da alma”, já o dizia Mário Quintana e eu não podia concordar mais com ele. Recentemente, estive no Sudeste Asiático, onde durante uma aventureira, divertida e muito corrida viagem, de quase três semanas, vivi experiências maravilhosas.

Momentos únicos que me permitiram conhecer novas culturas, paisagens, cheiros e, sobretudo, diferentes formas de viver e de estar na vida… Assim voltei a ver o mundo pelos olhos de uma criança. Mas cresci!

Enquanto apreciava uma das belas vistas de Hong Kong, a nossa primeira paragem, adormeci num canteiro artificial, entre a beleza e a enorme agitação da cidade. O Jet Lag é lixado e, vá, para quem gosta de dormir, qualquer desculpa serve.

Em Macau, senti-me em casa. Gostei de passear sobre a nossa tão bonita calçada portuguesa e de ver que a Língua e a cultura portuguesas ainda se mantêm do outro lado do mundo. Os já poucos portugueses/macaenses gostam de nos ver, de conversar, de nos orientar e dar dicas. Dos “supostos” pasteis de nata, já não posso falar tão bem!

O Vietname é brutal! Em Hoi An, durante um passeio de barco à noite pedi um desejo e pus uma velinha no rio, com a ajuda de um menino que a ia reacendendo, cada vez que se apagava e que eu fazia um “ohhh”! Andei de mota a três, comi coisas deliciosas e fiz quase tudo aquilo que os Srs Drs. da consulta do viajante disseram que não se podia fazer! Que se lixe, importante é viver!

Em Hanói, a capital, rezei cada vez que precisei atravessar a rua. Só quem passou pelo mesmo vai compreender. E fiquei muito surpreendida, pelo modo de vida daquelas pessoas, pela falta de condições, de espaço, de higiene… Em suma, pela luta pela sobrevivência.

Porém, terminámos a última noite desta nossa estadia a dançar na rua, que obviamente adorámos, e, já de dia, horas antes de partirmos, enfrentámos uma fila de pessoas que queriam tirar fotografias connosco! Foi só insólito e muito engraçado! Depois  disso, bebi um delicioso sumo natural que veio acompanhado de  uma nota: “Hanói loves you”! Com tudo isto, senti-me uma estrela e obviamente que também gosto de Hanói. Ah, os templos, pagodes e afins são lindos, claro está!

Em Cat Ba e Ha Long Bay vi paisagens fantásticas, fiz Kaiake, subi ao pico de montanhas e, ainda, mandei um “espetacular” mergulho de cima do barco, que me lixou os ouvidos!

Passámos a noite num bungalow na Ilha dos Macacos, onde não conseguimos ver nem um. Vá-se lá entender! Mas tivemos o privilégio de “dormir” com um ser que, mais tarde, viemos a saber ser um reptil. Mesmo sem nunca o termos visto – tal como aos macacos -, conseguimos ouvi-lo e perceber que estava bem perto de nós. Fazia um som estranho, como quem se riu alto durante toda a noite!!! Tivemos ainda a companhia de uma espécie de tarântula!

Luang Prabang, em Laos, foi o ponto alto, e o local onde estivemos mais tempo. A paz reina ali e eu pude senti-la. Em Laos ficámos a saber mais sobre Budismo, assistimos à cerimónia das almas, às 5h30 da manhã – isso mesmo não me enganei -, onde a população se junta para dar comida aos monges, que por sua vez a dividem com aqueles que mais precisam.

Logo de seguida, fizemos um lindo passeio de barco, em que dormi durante toda a viagem. As paisagens eram maravilhosas, não tenho dúvida!

Tivemos numa experiência fantástica, onde interagimos e nadámos com os elefantes, que para mim foi fenomenal e me deixou de coração cheio. Sentimentos que voltaram a sobressair durante a visita à Hmong Village, em que pudemos brincar com as crianças e sentir a sua alegria tão genuína. Além disso, ainda tivemos o privilégio de ficar a saber toda a vida do nosso tão simpático guia, que nos disse coisas como “I’m a playboy” ou “I have a dream…” .

Nadámos nas limpas e azuis águas da Kuang Si Waterfall, uma paisagem de sonho. E como não há impossíveis, ficámos amigas de um monge com quem passeámos e conversámos horas a fio durante a noite… Nunca imaginei que pudesse acontecer! Quem sabe um dia volte!…

A experiência terminou em Bangkok, na Tailândia, onde fomos apanhar o avião para a Europa, mas aproveitámos para passar uma noite e um dia. Desta não posso falar muito… apenas dizer que começou com uma atribulada viagem de comboio até ao hotel, em que uma senhora, que apenas falava tailandês, passou todo o tempo a levantar e a baixar a minha pesada mochila e a insistir para eu digitar o meu número no seu telemóvel. Como não teve sucesso deu-me um papel com os seus contactos!

Fiquei surpreendida com a noite desta cidade. Prostituição, muitos shows de sexo, pessoas que se ameaçam e que se enganam. A contrastar, os templos são lindíssimos, sem dúvida dos mais bonitos que já vi!

Curiosamente, esta experiência fantástica acabou no meu dia de aniversário que, pela primeira vez, durou 30 horas! Iniciei o dia em Bangkok e terminei-o em Lisboa, cuja diferença horária são de seis horas!

Não menos importante para o sucesso desta aventura, muito pelo contrário, foi a minha companheira de viagem que, apesar de não ser muito dada à bicharada, esteve sempre apostos para o que desse e visse. Uma verdadeira companheira de viagem/aventura!

Nota: Este texto foi feito com base em outro que escrevi assim que regressei. Qualquer semelhança não é pura coincidência!

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